“Não vou reinventar a roda”

Atualizado em 02 de maio de 2016
Mais em Ciclismo

Por Leandro Bittar

Nesta semana em Maringá/PR acontece o Campeonato Brasileiro de Pista. De olho nos mais de 100 participantes inscritos estará o técnico da seleção brasileira, Antônio Carlos Silvestre. Ele é quarto homem a aceitar o desafio de comandar a modalidade desde os Jogos Pan-Americanos de 2007. Antes, passaram pela função Adir Romeo, Cláudio Diegues e Luciano Pagliarini.

O paranaense tem como missão trabalhar o grupo para os Jogos Olímpicos de Londres e, principalmente, para os do Rio, em 2016. Antes disso, terá pela frente o Pan de Ciclismo, na Colômbia, em abril. E no final do ano, em outubro, o primeiro grande teste, o Pan-Americano de Guadalajara. Não terá vida fácil.

Hoje Silvestre mora nos EUA, em Austin, terra de Lance Armstrong, mas tem uma grande relação com o ciclismo nacional, apontado como um dos principais expoentes da modalidade de pista. Treinador da Caloi por seis anos nos anos 90 e da seleção por quatro, foi recordista mundial júnior de pista na prova de 3000m em 1979 – marca, que segundo ele, ninguém no Brasil conseguiu superar. Participou de três Pan-Americanos: 1979 (San Juan), 1983 (Caracas) e 1987 (Indianápolis), sendo medalhista de bronze neste último, na prova 4x4000m, ao lado de Antônio Carlos Hunger, Fernando Louro e Paulo Jamur. Também participou das Olimpíadas de 80 (Moscou) e 88 (Seul).

Prólogo: Como surgiu o convite para treinar a seleção de pista?
Antônio Silvestre: Sempre fui muito amigo do José Luiz Vasconcellos. Sempre também fui muito crítico. Vivia falando no ouvido dele o que eu pensava sobre a pista, com respeito, mas deixava claro meu ponto de vista. Em dezembro ele me fez um convite e chegamos a um acordo.

Prólogo: Qual a sua primeira impressão do desafio que lhe espera?
AS: Tive uma surpresa muito positiva no nosso primeiro encontro. Mais de 31 atletas, sendo oito meninas. Mas não faço milagres nem reivento a roda. Tenho carta branca do Vasconcellos para fazer o que for preciso, mas sempre existe um barreira, que é o dinheiro.

Prólogo: E tecnicamente?
AS: Acho que preciso passar uma outra mentalidade para o grupo. O pessoal não está acostumado a treinar verdadeiramente duro. É preciso fazer algo a mais. Temos um acordo com o Laboratório de Fisiologia do COB para um trabalho com os velocistas. Temos talentos que precisam ser lapidados.

Prólogo: Como você pretende implantar essa mudança?
AS: A ideia inicial é formar uma seleção permanente, mas tem que dividir os grupos de velocistas, de ominium e por equipes. O primeiro foco é o Pan de ciclismo no final de abril, que classifica para Guadalajara. Hoje temos chances de medalhas em todas as provas. Estamos estudando a possibilidade de uma imersão com os velocistas na França, com técnico francês e fisiologistas. Ao mesmo tempo temos que trabalhar para 2016. Orientar bem a garotada em relação ao controle do doping, rotina de treinamento, alimentação.

Prólogo: Você já tem um grupo?
AS: Existe uma relação de nomes pré-inscritos no COB para o Pan. Mas estou louco por uma batata quente para resolver. Quanto mais gente capacitada melhor. A ideia é ser o mais transparente possível. Mas tem sempre gente preocupada em achar problemas. Uma coisa é certa, o pico não é agora em março no Brasileiro. É em abril.

Prólogo: Essa transparência passa pelo ranking nacional?
AS: Algumas vezes o ranking engana. Um atleta mediando que mantém uma regularidade superar aquele que tem mais talento, mas por inúmeros motivos não participou com tanta constância. Todo mundo já fala que quer uma vaga em 2016, mas a estrada ainda é longa.

Prólogo: Antes de 2016 temos a Olimpíada de Londres.
AS: Falando com clareza. Nossas chances em Londres são apenas políticas. Ficamos fora das etapas da Copa do Mundo e apenas um pedido poderia nos conceder um ou duas vagas. Por méritos, nossas chances já se esgotaram.

Prólogo: Falando em 2016, o que você acha da situação do velódromo do Rio?
AS: O velódromo do Rio de Janeiro não pode ficar parado. É preciso mantê-lo ativo. Usá-lo para eventos-espetáculo, como são as provas de seis dias na Europa. É um desperdício.

Prólogo: Você esteve em Manchester acompanhando a etapa da Copa do Mundo. O que você assimilou de importante?
AS: Politicamente, falei muito com os comissários da UCI. O calendário brasileiro tem mais provas que a Colômbia e os EUA. Temos que exercer uma função política proporcional. Precisamos usar melhor este espaço. Acredito em uma mudança na carta olímpica para o Rio 2016 e o fim da Omnium. Haverá um encontro antes do Mundial da Holanda (que acontece agora) para definir mudanças depois de Londres. Revalorizar as provas de meio fundo. Esportivamente, me chamou muita atenção o time britânico, principalmente Chris Hoy, com quem conversei por um bom tempo. Dizem que ele não se aquece. Ele passou 45 minutos no rolo antes da prova. O tamanho da transmissão destes caras é monstruoso. 54×14. Temos muito o que aprender com eles.

Prólogo: Quais as nossas chances em curto prazo?
AS: Para o Pan de Guadalajara acho que o bronze ainda está aberto em provas como velocidade olímpica por equipes e keirin. Colômbia e Chile estão acima, mas os demais nem tanto. Acho que nossas melhores chances, hoje, estão no feminino. As coisas estão mais niveladas. Temos boas meninas, como a Janildes Fernandes, a Sumaia Ali e a Maira Hendi. A melhor parte é que elas têm muito que melhorar tecnicamente. São diamantes brutos.