Categories: Cicloturismo

Bikers do Ciclopoesis deixam o Chile e chegam à Bolívia

Nesta parte da viagem Karina se juntou a nós para conhecermos as belezas do deserto mais árido do mundo. Encontramos Karina no aeroporto de Calama, de onde saímos pedalando assim que montamos a bicicleta dela, rumo a San Pedro de Atacama. Iríamos pedalar por uma estrada que corta o deserto, logo Karina percebeu como a água seria um bem precioso durante esta viagem.

Após algumas horas de pedal o sol se pôs e começamos a sentir a mudança brusca de temperatura, então resolvemos acampar no meio do caminho, à beira da estrada. No dia seguinte, mais 50 km pedalando por esta linda rodovia e chegamos á San Pedro do Atacama, uma cidadezinha extremamente aconchegante e charmosa, cheia de pessoas que buscam aventuras e cenários inusitados. Começamos nossa investigação por informações, e logicamente um lugar para comer! Depois de um -pescado com ensalada e papas fritas- armamos o acampamento sob a luz da lua cheia em um vale onde corre um rio sazonal, dica de um amigo que conhecemos em Antofagasta.

Grande foi a surpresa ao acordarmos, estávamos em frente a um quadro psicodélico, montanhas de areia e pedras lindas coloriam a paisagem, Karina e Vitor não resistiram, pegaram suas -bikes- para se arriscar num downhill fotográfico. Após um desayuno reforçado fomos ao centro da cidade e conhecemos uma galeria cheia de lojas típicas, com artesanato do povo -atacamenho-, após o breve passeio, tiramos o dia para trabalhar e conhecer o centro da cidade.

No fim de tarde saímos rumo a Águas de Puritama, um oásis a 3500 m de altitude com piscinas naturais formadas por águas vulcânicas em meio a um canyon que se imortalizou em nossas mentes. No caminho tivemos um problema, o pneu de Zinner estourou!!! Não tínhamos pneu reserva, deixamos as câmaras e os remendos de pneu em uma pousada… o que fazer? Por sorte estávamos perto da casa de um homem que vivia no meio do deserto sozinho, ele tinha remendo de pneu! Fizemos uma -gambiarra- e continuamos o pedal.

Estávamos saindo e… o pneu da Karina furou, não precisamos nem continuar narrando o que aconteceu. Graças ao que chamamos de sorte num dia de azar, continuamos nosso caminho e chegamos a um lugar que recebe o nome de banho dos pobres, mas sinceramente, o que é a pobreza e a riqueza? Um pouco mais para cima, em Puritama tomamos um banho regenerador, gostoso e merecido naquela água quente e cristalina.

No dia seguinte, resolvemos conhecer o Salar de Atacama, seguimos em direção a Toconao e no caminho, paramos na laguna Cejas, com 40% de concentração de sal (maior que a do Mar Morto!) onde 1 000 de palavras não seriam suficientes para descrever o que sentimos ao mergulhar naquelas águas. A sensação coletiva foi de gratidão! Gratos por poder ter a oportunidade de viver, e conhecer um cenário onde sentia-se a inspiração Divina. Então lembramos de todas as pessoas que amamos e desejamos em silencio que elas também pudessem sentir o que estávamos sentindo.

Após outro por de sol inesquecível, partimos em busca dos olhos do Salar (Ojos Del Salar), mas como não havia mais luz não conseguimos encontrar estas crateras cheias de água no meio do deserto, então pedalamos de volta para uma superfície com mais terra e menos sal, onde poderíamos armar as barracas. Este foi o momento que nos sentimos mais salgados em nossas vidas. Quando fomos dormir, nos demos conta que nossos cabelos não se moviam nossas sobrancelhas estavam cheias de sal, assim como todo o resto.

Mesmo assim, a noite foi um replay do sonho que vivemos neste dia e continuamos nossa busca pelos Ojos, de repente avistamos uma outra lagoa junto a uma superfície branca, que parecia neve no horizonte, Digão achou até que fosse uma miragem… mas não era! Mais alguns quilômetros e nos deparamos com dois buracos gigantes, um de cada lado da estrada, a reação dos 4 foi a mesma… nem pensamos e mergulhamos nos olhos verdes do Salar. Após uma adoçada em nossos corpos salgados continuamos pedalando em direção a lagoa. Ao se aproximar, percebemos que se tratava da lagoa Tebenquiche, no meio de uma planície branca… puro sal!

Na volta ficamos sem água! Restavam apenas uns 20 ou 30 km para alcançar a cidade, mas o fato de ficar sem água em pleno deserto nos fez perceber o desespero de ficar sem nossa principal fonte de vida. Logo sentimos a necessidade de pedir água para um carro que passou. O fato de nossas garrafas estarem cheias, fez com que nossa sensação de “sede” diminuísse. Chegando no -oasis-, San Pedro de Atacama, a primeira coisa que fizemos foi beber muita, mas muita água mesmo!

Depois do jantar, ao voltar para o nosso acampamento -clandestino-, nos deparamos no meio do caminho com um grupo de chilenos tocando violão, flauta e cantando “una buena musica andina”. Fomos convidados a participar da roda, cantamos e tomamos um bom vinho chileno sob a luz da lua. Já passava da meia noite, motivo de comemoração pois era aniversario de Rodrigo.

No dia seguinte Karina e Zinner foram conhecer o Salar de Tara com Carlos e Cris, um casal de amigos brasileiros, mas por problemas mecânicos apenas chegaram até a fronteira com a Bolívia. Voltando a San Pedro do Atacama Karina comprou uma passagem de ônibus para Calama, dando inicio a sua viagem de volta ao Brasil.

Sentimos a saída da integrante feminina da equipe que com sua alegria e boa energia nos contagiou. Apesar dos poucos dias que Karina nos acompanhou tivemos a chance de compartir momentos, idéias e emoções que com certeza marcaram nos vidas.

Karina foi embora no sábado, enquanto nós decidimos ficar em San Pedro de Atacama até terça-feira para pegar um trem de Calama até Uyuni na Bolívia. Essa decisão foi tomada de acordo com as dificuldades que encontraríamos para entrar na Bolívia pedalando. Além da altitude elevada e relevo acidentado o trecho contava com estradas em péssimas condições e grandes distâncias sem pontos de apoio, ou seja, uma travessia por uma zona inóspita que não estávamos preparados para cruzar.

Nesse contexto continuamos aproveitando San Pedro de Atacama em alto estilo. Descobrimos -Las Turbinas-, um o local com água abundante onde podíamos nos refrescar em pleno deserto. Com a extensão de nossa estadia em San Pedro conhecemos um dos museus arqueológico mais importante do Chile, fomos até as ruínas de Pukará de Quitor e pedalamos pelo Vale da Lua. Lá conhecemos Ricardo e Simone, outro casal de brasileiros que após uma conversa nos ofereceram uma carona para conhecer os Geisers del Tatio que ficam a 4.500 m de altitude. Nosso encontro com Ricardo e Simone foi bastante significativo, pois conversamos e refletimos bastante sobre nosso projeto e as questões que estamos problematizando.

Terça-feira nos despedimos de San Pedro e seguimos de ônibus para Calama, o objetivo era embarcar no trem que sai de Calama no Chile com destino a cidade de Uyuni na Bolívia. Devido ao carnaval de Oruro na Bolívia as passagems para o trem estavam bastante disputadas e foi preciso passar a noite em uma fila para tentar comprar as passagens. A noite foi muito conturbada, foram chegando muitas pessoas, algumas delas começaram a tumultuar e arrumar confusão, a madrugada foi longa!!! Em fim, abriram-se as portas para comprar as passagens, quando chegou a nossa vez, o ingresso se acabou… juramos por Deus!!!! As passagens acabaram na nossa vez, PASSAGENS ESGOTADAS!!!! O que fazer?

Viver as transformações, ser flexível e dinâmico como a vida! Nesse contexto, tivemos a idéia de pegar um ônibus até La Paz na Bolívia e inverter o sentido da rota. Ao invés de pedalar sentido norte, decidimos pedalar sentido sul! O aprendizado é simples, a imprevisibilidade está sempre presente em nossas vidas, vivemos num instante presente aberto de probabilidades e possibilidades.

Assimilamos a mudança e logo no embarque do ônibus de Calama para Arica no Chile, o motorista cobrou uma taxa extra para leva
rmos as -bikes-, ficamos indignados!!!! Porque cobrar essa taxa se há espaço suficiente no ônibus? Para quem fica esse dinheiro? De repente, em meio a uma discussão entre nós e o motorista, um passageiro retira o equivalente a cinqüenta reais do bolso e paga a taxa extra relativa as bicicletas, imposta sem critério confiável pelo motorista.

Ficamos sem entender absolutamente nada, mas aceitamos e agradecemos aquele homem de bondade rara. Logo em seguida, embarcamos para Arica refletindo sobre a necessidade de integração entre os meios de transporte, em muitos paises já existem ônibus urbanos com espaços especiais para guardar bicicletas, dessa forma os ciclistas podem pedalar e também utilizar o transporte público urbano sem nenhuma dificuldade ou impedimento. De acordo com a nossa perspectiva, essa integração é muito inteligente e deve ser fomentada em todo mundo, pois compreendemos que a vida de uma pessoa que utiliza a bicicleta como meio de transporte deve ser facilitada e não dificultada, principalmente devido aos benefícios que a utilização da bicicleta gera para o convívio coletivo.

Para nós, isso foi como um sinal de que estamos fazendo algo importante e significativo, as pessoas se sensibilizam com nossa ação e estão nos apoiando sempre na hora que mais precisamos. Somos cientes que existem aqueles que querem continuar vivendo na mesma lógica de exploração, mas também existem aqueles que estão transformando essa lógica, e as forças estão a nosso favor!

No trecho de Arica para La Paz aconteceu o mesmo conflito, mas somos salvos por dois holandeses que conhecemos no Vale da Lua e que estavam viajando conosco até La Paz, mas em Arica eles resolveram mudar seus planos, ao invés de seguir para La Paz foram para Oruro. Os dois não tinham tempo para vender a passagem e deram as mesmas para nós. Conseguimos vendê-las e com esse dinheiro pagamos o -171 da bagagem extra- cobrada mais uma vez pelo motorista do ônibus e embarcamos para La Paz.

Na fronteira do Chile com a Bolívia tivemos mais problema, o guarda boliviano da fronteira nos impediu de entrar na Bolívia, porque não tínhamos o comprovante que havíamos nos vacinados contra a febre amarela. Na realidade esse é um acordo entre os dois paises e o erro foi nosso. Percebemos nossa falha e começamos a conversar com o policial Boliviano, que se irritou e nos levou para uma sala.

Quando o mesmo começou seu discurso referente ao problema, compreendemos que o que nos impedia de entrar na Bolívia não era a vacina, e sim uma propina de 10 dólares para os policiais da fronteira, que serviu como comprovante da vacina contra febre amarela, burocracia e corrupção… que merda! Somos cientes que o erro foi nosso, mas também somos cientes, que aquele homem não estava preocupado com a possibilidade de estarmos infectados com o vírus dessa doença e com os problemas que isso poderia gerar para a nação Boliviana, ele estava preocupado com seu -bolso-. Mais uma vez o velho discurso vazio do bem coletivo, a favor do egoísmo estúpido.

Em fim, estamos em La Paz, vivendo o processo dialético de viajar de bicicleta. Planejando, realizando e avaliando, sempre de forma circular e não linear, refletindo e agindo, fluindo na lógica da transformação!

Os ciclistas Rodrigo Ferrari, Vitor Carneiro, Ricardo Zinner e Karina Oliana embarcaram no último dia 4 de janeiro para uma jornada de 18 mil quilômetros de bicicleta pela América do Sul. A viagem tem um propósito e um nome, Projeto Ciclopoiesis, que pretende difundir a bike como meio de transporte e como simbolismo de transformação das relações sócio-ambientais. O ativo.com vai acompanhar o projeto.

Redação

O Ativo é o maior portal de eventos esportivos e esportes participativos do Brasil! Aqui você encontra tudo sobre corrida, bike e cross training, natação, triathlon e mais!

Share
Published by
Redação

Recent Posts

MOV: evento esportivo da BB Seguros reuniu cerca de 10 mil pessoas em São Paulo

A cidade de São Paulo foi palco no sábado, dia 9 de julho, do MOV…

12 horas ago

Eco Run São Paulo teve conscientização ambiental e sustentabilidade

A cidade de São Paulo foi palco no domingo, dia 10 de julho, da Eco…

12 horas ago

7 dicas para voar nos 21 km

Saiba como você pode melhorar (ainda mais) o seu tempo na meia-maratona

3 dias ago

Eco Run São Paulo abordará conscientização ambiental e sustentabilidade

A cidade de São Paulo será palco no dia 10 de julho da Eco Run,…

5 dias ago

Eco Run em Salvador: corrida e conscientização ambiental em pauta

A Eco Run chegou a Salvador no último domingo, dia 3 de julho, com a…

6 dias ago

Up Night Run em Ribeirão Preto tem muita música e diversão; veja as fotos!

A Up Night Run é mais do que uma corrida, é a proposta de uma…

6 dias ago