A bike como meio de transporte viável em São Paulo

Atualizado em 01 de agosto de 2016
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Na cidade com um dos trânsitos mais caóticos do mundo, a bicicleta ainda não é viável como meio de transporte urbano. Ainda que tenha muitos adeptos, e uma escala crescente de novos usuários, o uso da bike para locomoção em São Paulo é quase uma tarefa para o “incrível exército de Branca Leone”.

A referência ao clássico filme italiano deve-se às agruras e os perigos aos quais são submetidos os ciclistas paulistanos que insistem em desafiar a falta de estrutura para se pedalar diariamente na maior cidade da América do Sul.

Além de um meio de transporte ecológico, a utilização maior da bike poderia significar menos estresse urbano e mais economia de recursos, uma vez que há pesquisas que comprovam a perda financeira que os engarrafamentos propiciam. Onde está o problema então para tornar o uso da bike como meio de transporte em São Paulo uma opção viável e segura para os usuários?

A jornalista e ciclista Renata Falzoni, adepta da bike como meio de transporte, aponta a Secretaria de Transporte em São Paulo como o principal problema para que a estrutura cicloviária saia do papel. “A Secretaria de Transporte não assume a bicicleta como meio de transporte e ela fica sempre como um “brinquedo”, um lazer, confinada dentro de parques aos fins de semana”, desabafa.

O fundador do Sampa Bikers, Paulo de Tarso, que organiza regularmente alguns dos maiores passeios de bike pela cidade, concorda com Renata. “Em São Paulo, a Secretaria de Transportes e a CET se preocupam principalmente em resolver somente o problema dos automóveis, ampliando ruas, diminuindo calçadas, construindo pontes, tudo em benefício dos automóveis”.

Ainda que a abordagem principal da matéria seja a capital paulista, praticamente todas as grandes capitais brasileiras não oferecem condições adequadas para se fazer uso da bicicleta como meio de transporte seguro.

Entre os poucos avanços recentes na área na capital paulista que podem ser citados está os bicicletários nas estações de Metrô, que já contam com mais de 5 mil usuários cadastrados, apesar do tímido número de cerca de 200 bicicletas disponíveis.

No momento, o aluguel de bicicletas está disponível nas estações Armênia, Santana, Liberdade, Anhangabaú, Barra Funda, Brás, Carrão, Corinthians-Itaquera, Guilhermina-Esperança, Marechal Deodoro, Santa Cecília, Sé, Paraiso, Vila Mariana, Vila Madalena.  “Mas os custos dos bicicletários estão sendo pagos pela Porto Seguro e há também o Use Bike em algumas das estações”, diz Renata.

“Tivemos ainda a inauguração de 6 km de ciclovias na radial Leste, com possibilidade de serem 12 km. Essa área foi cedida pelo Metrô e a execução feita pela secretaria de Verde e Meio Ambiente, a única coisa que ficou por conta da CET foi a sinalização da ciclovia. Mesmo assim, a CET está devendo solucionar a passagem de nível da ciclovia com a radial leste e, devido a isso, ainda não foram inaugurados os outros 6 km de ciclovia que estão prontos, mas não entregues pois falta sinalização”, acrescenta Renata.

Atualmente, a capital paulista tem apenas 36,5 km de ciclovias. Bogotá, capital da Colômbia, tem 300 km. Se comparar com cidades européias, o disparate é ainda maior, por exemplo, Berlim tem 625 km, Amsterdã 400 km e Paris, 379 km.

Porém, mais do que simplesmente um meio de transporte, pedalar é um estilo de vida, cada vez mais adotado por aqui. “O que acontece de bom no momento é um aumento absurdo de bicicletas nas ruas, e isso forma uma massa crítica. Essa opção pela bicicleta não é resultante de algum fomento político, mas sim pelo caos que está a cidade. De bike é melhor, sempre melhor”, define Renata.

Se não há infra-estrutura adequada para pedalar, mas mesmo assim cresce o número de ciclistas, então há outra questão a ser levantada: o respeito aos ciclistas.

“O maior obstáculo é a falta de educação e respeito com o próximo. Enquanto não houver isso, não só em São Paulo, mas em todo o Brasil, o uso de bicicleta no dia a dia sempre vai ser um obstáculo. Se houvesse isso nem precisaria de ciclovia, a ciclovia viria como um complemento em grandes avenidas de maior fluxo de veículos”, diz Paulo de Tarso, pessimista com relação a isso.

“O que é necessário em uma primeira instância é o trânsito partilhado com responsabilidade, são os motoristas dividirem as ruas com respeito às hierarquias. Pedestres e ciclistas nessa ordem têm prioridade. A CET não inclui em sua prioridade os pedestres muito menos os ciclistas. Nas faixas de pedestres está escrito “olhe” para os pedestres e não “pare” para os motoristas. Só isso exemplifica quem a CET considera como prioridade de passagem por sobre uma faixa de pedestres”, acrescenta Renata.

De volta ao exército de Branca Leone, São Paulo assiste recentemente às várias demonstrações de incentivo ao uso da bike, ainda que em uma primeira instância como opção de lazer.  No mais novo cartão- postal da cidade, a Ponte Estaiada, não passam bicicletas, porém, no aniversário da cidade este ano, dia 25 de janeiro, cerca de cinco mil de paulistanos se reuniram para a versão brasileira de um evento de sucesso criado na Europa, um bike tour no qual a inscrição de R$ 180,00 incluiu a bicicleta, o capacete e a camiseta do evento. Uma bela e rara imagem de ser ver em São Paulo.

No link abaixo confira o relato de um exemplo bem diferente do uso da bike como meio de transporte feito por Rodrigo Bini, colunista do ativo.com, membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Ciclismo e doutorando da Universidade de Tecnologia de Auckland, na Nova Zelândia.

Confira a matéria – Pedalando na Nova Zelândia: um estilo de vida.