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Jaqueline Mourão, a desbravadora olímpica

Os resultados almejados já foram todos conquistados? Ou jamais o serão e é melhor partir para outra, porque a motivação já não é mais a mesma? Jaqueline Mourão, a única brasileira a ter no currículo participação em Jogos Olímpicos de Verão e Inverno, é a prova viva, pedalante e esquiadora de que nunca é tarde para recomeçar e, depois…recomeçar de novo. Com a história da ciclista/esquiadora/atiradora, iniciamos uma série de perfis de atletas que tiveram sucesso ao migrar de uma modalidade para outra(s).

A mineira de Belo Horizonte, de 40 anos, se prepara para tentar emplacar participação nos Jogos pela sexta vez. Já competiu no mountain bike, nas Olimpíadas de Verão de Atenas-2004 e de Pequim-2008; e nos Jogos de Inverno de Turim-2006, Vancouver-2010 (ambos no esqui cross country) e Sochi-2014 (esqui cross country e biatlo). Nos Jogos de PyeongChang, na Coreia do Sul, em 2018, ela pretende encerrar a carreira olímpica.

Ao olhar para trás, Jaqueline se orgulha sobretudo pela persistência. Afinal, ela não teve exatamente um grande incentivo quando tentava entrar no mundo competitivo do pedal, no mountain bike, ainda nos anos 90. “Quando estava começando, um treinador de fora fez uma avaliação de ciclistas no Parque da Pampulha. Dei tudo o que podia, para tentar impressionar, e pedalei forte. No final, ele disse que, se fosse eu, desistiria, porque era muito ruim”, diverte-se a atleta, que hoje mora em Quebec, no Canadá. Ela prefere não revelar o nome do técnico.

Correta ou não a avaliação do treinador, é certo que Jaqueline evoluiu, a ponto de desbravar as fronteiras do mountain bike. Em 2004, ela foi a primeira representante do Brasil a participar de uma Olimpíada nessa modalidade, que faz parte da programação dos Jogos desde Atlanta-96.

Em Atenas-04, Jaqueline tinha a singela meta de não tomar nenhuma volta das líderes. Para sua infelicidade, um de seus pneus furou na pista de Parnitha, e ela terminou na 18ª posição entre as 24 ciclistas que concluíram a prova. Seis desistiram.

Quatro anos depois, a mineira se esforçou bastante para se classificar novamente e alimentou uma meta mais ambiciosa: ficar entre as 15 primeiras, sonhando até com um  lugar no top 10. Porém, foi premiada com uma falta de sorte que comoveria até Rubens Barrichello: seu pneu furou novamente, e  terminou em 19º lugar. “Foi mais frustrante. Uma adversária caiu no meio da pista e ficou estirada no chão. Para desviar dela e não machucá-la, acabei batendo numa pedra, que furou o meu pneu”.

Jaqueline deixou a China sem o resultado sonhado, mas ao menos com a consciência tranquila. Em situação similar à enfrentada por Jaqueline, muitas ciclistas não hesitam em passar por cima de colegas caídas, no afã de não perder tempo, o que pode provocar lesões na coluna da vítima.

Do mountain bike, além da força nas pernas que a encorajou a perseguir resultados no esqui, restou também o orgulho de ter ajudado a formar ciclistas que estão batalhando por vaga no Rio 2016. A briga está entre a goiana Raiza Goulão e a mineira Isabella Lacerda. Seja qual for a representante do país-sede nos Jogos, é certo que será uma cria do projeto esportivo M-Teen B, bolado por Jaqueline, que vicejou de 2009 a 2011.

“Elas são produto de uma sementinha que eu plantei”, orgulha-se a veterana. “Vão dar continuidade ao meu sonho e ultrapassar meus resultados, aproveitando o que aprendi na raça”, vaticina.

Jaqueline ajudou a desbravar um campo ciclístico com muitas dificuldades. “Minha mãe foi e é fundamental na minha vida. É um anjo”, diz a ciclista. Para se ter uma ideia do esforço reconhecido pela filha, sua mãe pagou, com o salário de professora de rede pública, uma bicicleta importada de MTB nos anos 90. E a bike acabou afastando a filha do curso de medicina, frustrando um grande sonho familiar.

A despeito de todo esse amor pelo pedal, Jaqueline foi seduzida pelo esqui em 2005 graças a uma tempestade de neve em Quebec, que a impediu de treinar na bike. Para não ficar parada, aceitou um convite do marido, Guido Visser, para praticar esqui cross-country. Foi amor à primeira esquiada.

“Foi uma luta muito grande para ser competitiva num esporte que comecei a praticar depois dos 30 anos. Nos países com neve, as crianças começam a esquiar bem novinhas. Vejo o meu filho, que já desliza na neve e desce montanha superbem aos 3 anos de idade”.

Justamente por conta de um de seus filhos, Ian, é que Jaqueline começou a atirar, com a finalidade de praticar o biatlo. Quando estava grávida, resolveu mirar nos alvos – uma atividade que não exige grande esforço físico.

O biatlo se assemelha à parte do pentatlo moderno em que o competidor deve correr, parar e atirar. “É muito complexo, porque você está com a frequência cardíaca altíssima depois de esquiar e é necessário parar, se concentrar e atirar”.

Sem nunca ter conquistado uma medalha olímpica, Jaqueline é uma das atletas brasileiras com mais histórias olímpicas para contar, o que deve inspirar praticantes de todos os esportes que abraçou.

Redação

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