Marily dos Santos pós-Pequim

Atualizado em 26 de julho de 2016
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Por Fátima Martin

Única representante brasileira na maratona olímpica em 2008, em Pequim, na China, depois de vencer em primeiro lugar a 8ª Edição da Maratona de Santa Catarina e garantir lugar para competir do outro lado do planeta, Marily dos Santos enfrentou frio, chuva e correu até o final da prova, na qual alcançou a 51ª colocação com o tempo de 2h26min21s, dois minutos acima de seu melhor tempo.

Da fascinante experiência no evento mundial mais esperado por atletas de várias nacionalidades, Marily relembra: “Quando me perguntam como foi em Pequim, fico sem palavras. Entrar naquele estádio com 91 mil pessoas me aplaudindo foi fora do comum”, relembrou.

Depois de 15 dias de férias ativas – dois dias de descanso e um dia de corrida – na casa da mãe, em Alagoas, a atleta dedica-se agora aos treinos para participar da 84ª edição da Corrida de São Silvestre, que será realizada na véspera do ano-novo.

Apesar de não fazer o planejamento de cada uma das provas que vai participar, deixando essa tarefa para o seu treinador, Marily começa a se preparar e deve intensificar os treinos nos próximos anos para correr na Maratona de Londres, daqui a quatro anos, e entrar para o circuito de provas internacionais.

A alagoana, que afirma ter nascido para a corrida, percorreu longas distâncias desde os cinco anos em sua pequena cidade de Joaquim Gomes, em Alagoas. Seja para dar recado ao seu pai, a 4 km de sua casa, seja para vender abacaxi pela região. Sempre correndo, aos 14 anos ela chegava a concluir distâncias de até 14 km.

Em entrevista à O2 Por Minuto, Marily fala sobre a experiência em Pequim, o treinamento para a Corrida de São Silvestre e os projetos a longo prazo.

O2 Por Minuto – Qual é o máximo de distância que você corre por semana para se preparar para provas?
Marily dos Santos –
Em 12 anos de profissão, eu nunca me contundi. Meu treinador diz brincando que o meu treinamento é muito fraco para o nível profissional que atingi. Nunca passei de 140 km por semana, mesmo treinando pra fazer índice A na Maratona de Santa Catarina. Para você ter uma idéia, nunca fiz um longão maior do que 30 km.

O2 Por Minuto – Qual foi a primeira prova que participou? Como foi a experiência?
Marily –
Foi a Corrida do Trabalhador, em 1996, na cidade de Maceió. Fui quarta colocada. Foi muito confuso na época, pois eu nunca tinha saído do sítio, onde nasci, e não sabia como funcionava a organização da corrida. Eu saí na largada num ritmo muito forte, pois pensava que disputaria no geral, com homens e mulheres. Depois de algum tempo, fiquei tão cansada que até as meninas passaram na minha frente. Mas adorei ter participado. Na Corrida da Infantaria, em Maceió, fiquei na segunda colocação e ganhei R$ 300. Na época, achei que estava rica (risos). Nunca tinha visto tanto dinheiro em minha vida. Eram seis notas de R$ 50.

O2 Por Minuto – Qual foi o seu melhor tempo até hoje?
Marily –
Depende. Na 8ª Edição da Maratona de Santa Catarina, finalizei a prova com o tempo de 2h36min21s. Em Montevidéu, no Uruguai, participei dos 10 km na Corrida Internacional de San Fernando e terminei em 33min52s. Já na Meia-maratona do Cerrado, em Uberlândia, cheguei após 1h14min52s.

O2 Por Minuto – Como foi ter participado das olimpíadas?
Marily –
Fico sem palavras quando relembro. Entrar naquele estádio com 91 mil pessoas me aplaudindo foi fora do comum e uma surpresa positiva. Fiquei emocionada. A troca de experiência com atletas internacionais também foi maravilhosa. Nas próximas olimpíadas, espero competir e ter a companhia de mais atletas brasileiros.

O2 Por Minuto – O que achou da sua colocação em Pequim?
Marily –
A colocação eu nem discuto, pois depende também da disposição de outras atletas de acordarem bem no dia. A minha previsão era de correr perto das 2h32min, mas cheguei com o tempo de 2h38min10s, porque alguns imprevistos aconteceram. Além do frio, também choveu, diferente dos outros dias em Pequim.

O2 Por Minuto – De quais eventos de corrida você participou este ano?
Marily –
Faço muitas competições, mas este ano o número foi bem menor. Participei da Maratona de Santa Catarina, que foi marcante porque venci e bati o recorde da
prova em mais de 2 minutos, e ainda conquistei o índice olímpico. Tiveram outras provas significativas, como a Meia-maratona de Brasília, que também venci debaixo de chuva com o tempo de 1h16min04s, no dia 6 de abril desse ano. De todas as competições, a maratona olímpica foi inesquecível.

O2 Por Minuto – Quais são as próximas corridas que estão na sua programação até o final deste ano?
Marily –
O meu treinador ainda esta definindo. Mas, acredito que o foco seja a Corrida de São Silvestre. Resolvi sair de férias recentemente e ir visitar a minha mãe, em Maceió, para ficar mais descansada e poder me dedicar exclusivamente para corrida no final deste segundo semestre. Assim como o planejamento do treinamento feito pelo Gilmário (treinador) para prova de Florianópolis, espero usar toda a minha energia para conquistar uma boa colocação.

O2 Por Minuto – Além de corredora, você tem alguma outra atividade?
Marily –
Eu só treino, mas tenho como hobby a culinária. Gosto de cozinhar duas vezes por semana.

O2 Por Minuto – Qual é o seu projeto de vida para os próximos cinco anos?
Marily –
Vivo cada dia de minha vida sem me preocupar com projetos tão distantes. Há cinco anos, nem sabia direito o que era uma olimpíada e achava muito difícil participar de uma maratona. A vida e a disciplina me levaram a correr a maratona olímpica. Por isso, deixo o planejamento para meu treinador, pois prefiro focar sempre na próxima corrida. Com a minha carreira decolando como maratonista, vou me preparar nos próximos quatro a cinco anos para buscar uma classificação para competir em Londres. Futuramente e com mais maturidade, poderei correr em outras provas internacionais.