Ultramaratonista Marcio Villar luta para fazer história

Atualizado em 30 de maio de 2017
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O ultramaratonista Marcio Villar tem a chance de conseguir uma conquista inédita para um atleta brasileiro, na verdade, um feito absolutamente único na história esportiva mundial. Márcio é o primeiro atleta autorizado a fazer o percurso dobrado da ultramaratona Arrowhead 135, simplesmente um dos desafios mais extremos do mundo, uma corrida de 217 km com temperatura em torno de 40ºC negativos, disputada no estado de Minnesota, nos Estados Unidos, próximo à divisa com o Canadá.

Se conseguir terminar os 434 km da Double Arrowhead (217 km de ida e a mesma distância de volta) o carioca Márcio, de 43 anos, será também o primeiro atleta no mundo a completar, em dobro, a Copa do Mundo das Ultramaratonas radicais.

E Marcio já foi o primeiro corredor no mundo a completar a Copa do Mundo das Ultramaratonas nas suas distâncias “normais”. A Copa é composta por três provas para poucos selecionados – a BR 135, prova de 217 km nas montanhas da Serra da Mantiqueira, feita quase toda de subidas e descidas, a Badwater, também com 217 km e que começa no ponto mais baixo da América, no chamado Vale da Morte, na Califórnia, atravessa o deserto mais quente, cuja temperatura pode chegar a 60ºC, e tem a chegada na montanha mais alta dos Estados Unidos. A Arrowhead é realizada com temperaturas em torno de 40 graus negativos, sem equipe de apoio, na qual os corredores puxam um trenó pela neve com seus suprimentos.

“A Arrowhead é a prova mais difícil e agora será ainda mais, pois o frio extremo é muito perigoso e você está sozinho. Você precisa conhecer muito, mas muito mesmo seu corpo. Eu não aconselho ninguém a fazer essa prova, eu faço por puro amor, e me preparei bastante para isso, faço muito treino. Nós temos uma força mental que desconhecemos. Não há irresponsabilidade”, diz Marcio.

O ultramaratonista viaja nesta sexta-feira para os Estados Unidos para fazer a “Double Arrowhead”. A prova, com 136 inscritos, tem início no dia 31 de janeiro e Márcio chegará uma semana antes para se aclimatar com as temperaturas extremas.

“Até hoje nunca ninguém foi autorizado a fazer isso, pois a prova é extremamente perigosa por conta das condições climáticas. Mas por conta dos meus resultados em 2010, quando fui o único atleta a fazer o percurso dobrado de outras duas provas da Copa do Mundo das Ultramaratonas, a BR 135e Badwater, a organização da Arrowhead me deu essa autorização inédita”, conta Marcio.

O entusiasmo do atleta movido a paixão por desafios inéditos é grande, no entanto, apesar da dureza dos percursos nas disputas desafiadores que encara, Marcio tem um percalço maior e aparentemente muito mais difícil de transpor no seu caminho de atleta: a falta de apoio e patrocínio.

Apesar de ter a chance de conquistar uma façanha inédita para o Brasil e colocar o país como destaque na ultramaratona, Marcio teve que fazer empréstimo em banco para poder custear a viagem. Ganhou um tênis, emprestou algumas roupas e conseguiu a passagem aérea da empresa Win Sports. O restante dos custos será pago com o empréstimo. 

Querido no meio esportivo, Marcio tem contado com a ajuda dos amigos na divulgação do desafio, que estão fazendo campanha nas mídias sociais e por e-mail para tentar arrecadar dinheiro para a viagem. Marcio conta que até agora foram depositados cerca de R$ 1.100.

“Alguns amigos estão me dando dólares, e muitos depositam o que podem (abaixo informações para quem quiser contribuir e ajudar Marcio no desafio). Isso me emociona e me motiva ainda muito mais, contudo, não entendo a falta de apoio por parte das empresas. Sei que é assim com outros atletas, mas é uma burrice corporativa. Saí em uma matéria de 3 minutos no Jornal Nacional, quanto custa esses espaços em mídia, que a empresa teria de graça?”, indigna-se Marcio. Pelos seus cálculos, ele precisa de cerca de 3.500 dólares. “Isso vendendo o almoço para comprar o jantar”, diz. 

Um atleta de feitos inéditos – Em 2010, Marcio bateu o recorde da Badwater e ainda por cima na “Double”, ou seja, correu os 434 km do percurso duplo fazendo a ida em 36h31min e a volta em 42h58min. Até hoje, alguns poucos norte-americanos conseguiram fazer a Double Badwater. Marcio foi o primeiro estrangeiro e bateu o recorde de tempo. 

Enquanto todos os sobreviventes cruzavam a linha de chegada exaustos, Marcio se preparava para dar meia volta e começar tudo de novo.  Em janeiro de 2010, Marcio também conquistou um feito inédito na BR 135 ao ser o primeiro atleta a fazer duas vezes a prova, ida e volta sem parar.

Marcio não tem uma equipe de suporte, faz seus treinos sozinho, puxando pneu por cerca de seis a oito horas em vários lugares no Rio de Janeiro, como Floresta da Tijuca. “É difícil, não tenho estrutura, trabalho num escritório o dia todo, mas é o jeito que dá”.   

Com todo esse currículo, poucos podem acreditar que há apenas oito anos este maluco por ultramaratonas era um pai de família sedentário, com quase 100 quilos e com o apelido de “mocotó”, famoso entre os colegas por só comer ‘porcarias’. Mas como um sedentário acima do peso consegue se transformar num dos maiores ultramaratonistas do mundo em tão pouco tempo?

“É preciso gostar muito. Não há premiação em dinheiro nas ultramaratonas, então é só por amor mesmo”, diz Marcio, que tem uma filha de 19 anos.

Marcio descobriu a corrida por acaso, levado por uma colega a correr uma prova de revezamento na qual teria que fazer 4 km. “Sabe-se lá Deus como consegui fazer esses 4 km, fui quase rolando”, diverte-se Marcio. Mas apesar do sacrifício Marcio gostou do desafio e decidiu mudar de vida.

“Comecei a me cuidar, fechei a boca e comecei a treinar devagar, até conseguir fazer minhas primeiras provas de 5 km. O problema é que as provas no Rio são todas no Aterro do Flamengo e depois de um tempo fiquei desestimulado. Para não perder o ritmo fui atrás de desafios”.

O primeiro deles foi numa corrida 24 horas em pista em São Paulo. “Fiquei sabendo da prova e fiquei louco para participar, meus amigos fizeram muita gozação e não acreditaram que eu fosse ter coragem, porém, não só completei o desafio como fiz o recorde na minha categoria já na primeira empreitada – 176 km! Eu chorei igual criança de emoção”, diz Marcio.

Apesar de tantas conquistas espetaculares hoje, Marcio não se esquece de fatos simples que marcaram sua guinada para a vida de atleta, e comemorados a exaustão. “Um dia inesquecível foi quando fui comprar uma calça jeans e vesti o número 42 (usava 46), quase sai gritando no shopping de tanta alegria”, conta.

Outra fato que emociona Marcio é lembrar-se da Double Badwater e do apoio dos outros corredores. “Eu larguei com os 79 corredores na Badwater, mas só eu voltei para fazer a prova novamente, e os corredores ficaram me incentivando, doaram comida que havia sobrado e ficaram me esperando na chegada e um deles disse uma frase que nunca esquecerei – você provou que o impossível não existe”, lembra Marcio. 

“Eu tenho muitos projetos, minha paixão é a ultramaratona e quero trazer muitas conquistas inéditas para o Brasil”, diz Márcio 

Na campanha pela Internet, os amigos pedem um depósito simbólico de R$ 20,00, que somados poderão ajudar Marcio na sua empreitada. Para quem quiser colaborar os dados são: Banco Real / Ag.0959 / Conta: 6004530-5 / CPF: 916.238.207-15