Cruce de Los Andes! Muy Loco!

Atualizado em 28 de julho de 2016
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Bueno, me gustaría escribir este relato en español, tamanha foi a emoção dessa travessia andina, cruzar os Andes pela Patagônia, uma travessia cheia de surpresas e visuais ímpares, ou seja, locais totalmente diferentes do nosso Brasil

Bueno, me gustaría escribir este relato en español, tamanha foi a louca emoção dessa travessia andina, cruzar os Andes pela Patagônia. Em primeira pessoa, tentarei passar as incríveis sensações de encarar uma travessia cheia de surpresas e visuais ímpares, ou seja, locais totalmente diferentes do nosso Brasil, tão cheio de trilhas e roteiros inigualáveis.

Por que muito louco? Isso porque sem equipe de apoio simplesmente não dá para percorrer os trezentos quilômetros de bike. Além das “picadas” quer dizer, os single-traks que se transformam em sinuosas micro-trilhas, em que era mais comum carregar minha amada Graziela (Scott MC 10) às costas, que pedalar de verdade, seja subindo ou descendo cordilheira abaixo.

Na tentativa de descrever o que passei neste janeiro de 2007, comecei por examinar atentamente, mais de 500 fotos sacadas por mim e pelos demais membros da expedição. Difícil tarefa, pois por mais que tentava, este artigo corria o risco de transformar-se em uma novela de aventura, tamanha são as sensações que ainda trazem os locais incríveis pelos quais cruzei a Patagônia.

Então, separei uma centena delas e comecei a relatar a expedição propriamente dita. Na medida do relato, vocês podem, agora, conferir o que vislumbrei nesses dias de aventura.

Onde tudo começa

Uma pintura. Puerto Montt, uns 1.100 quilômetros ao sul de Santiago – Chile é isso. Um pintor anônimo retrata o cais, local de partida. Minha amada seguiria em um caminhão de apoio, rumo ao Rio Puelo inicio da expedição pela patagônia. Na noite anterior, naquele mesmo cais deliciei-me com uma sopa de mariscos gigantes. Ali junto a cada Box de venda de peixes, se apresentava um mini-restaurante, local que apesar da simplicidade, se tornava muito convidativo e apetitoso, devido a simpatia dos pescadores investidos em cozinheiros, bem como pelo aroma irresistível dos múltiplos pratos apresentados em um despojado cardápio.

Naquela fria manhã em pelo verão chileno, um caminhão de apoio levava as bikes dos 14 integrantes da expedição: 4 brasileiros, muitos chilenos e alguns alemães e suíços, num total de 14 ciclistas rumo ao Rio Puelo. Para tanto, tivemos que cruzar um braço de mar.

Antes de começar a pedalar, como aconteceu em todos os dias da expedição, um requintado lanche foi servido. Requintado não só pela variedade, mas pela qualidade do que foi servido: queijos, pães, embutidos, fiambres, frutas, sucos e refrigerantes, além de pratos e saladas típicas do Chile, sem reservas, podiam-se comer o que e o quanto se quisesse sem nenhum tipo de restrição. Uma fartura que nunca havia visto. Explica-se o Guia-Chefe, Pablo, é um renomado cozinheiro, professor de educação física, entre outras qualificações.

Depois de pedalar dezenas de quilômetros por uma estradinha pedregosa, nosso destino no primeiro dia foi chegar até o Lago Tagua-Tagua, local em que encontramos uma barraca individual que seria nosso lar neste e nos dias seguintes. Devidamente acomodado esperava pelo jantar. E que jantar! Antes, foi oferecido vinho tinto e branco (resfriado no gélido lago) entre queijos, carnes e iguarias da culinária chilena. Para encurtar a historia, no festival gastronômico de cada dia o “Chef” preparava pratos “exquisitos o muy ricos” que aumentava as calorias, mesmo depois das duras pedaladas.

Rumbo al Rio Mapocho

Na manhã do segundo dia de expedição ou pedalada, nosso destino seria as margens do Rio Mapocho, nome derivado da linguagem dos índios Mapuches que historicamente habitam a região. Além da deslumbrante paisagem, rios, cachoeiras, vista da Cordilheira dos Andes, os “coliguachos” nos festejavam. Os “coliguachos” tratam-se das populares “bitucas” brasileiras, aqueles simpáticos bichos que ficam zoando sobre nossas cabeças, além de chupar nosso nobre sangue sem piedade. Coisas da natureza. Tardezinha, hora de montar a barraca, ajeitar o saco de dormir sobre um colchonete oferecido e esperar por mais um banquete, Não falhava. Tinha até entrada com diversos quitutes, na tentativa de amainar o nosso voraz apetite. E dá-lhe vinho branco devidamente gelado no rio.

Lá permanecemos acampados por mais um dia, pois fomos conhecer uma das mais belas cachoeiras da região, local em que aproveitamos para a tradicional foto de todo o grupo de audazes ciclistas. Antes, pela manhã demos um rolê até o Lago Azul, que pasmem: era azul mesmo!

Rumbo al Primer Corral

No quarto dia pode-se dizer que a “batata assou”. Naquela ensolarada manhã, como foram todas, partimos em direção ao Primeiro Curral, ocasião em que os dois veículos de apoio, ou seja, o caminhão e uma camionete que vinha acompanhando os mais tranqüilos ciclistas seguiram rumo à fronteira com a Argentina, pois a partir daquele ponto nem motocicleta passaria pelas trilhas. Então, nossos pertences mais essenciais foram colocados em sacos individuais que passaram a ser transportados pela equipe de apoio em cavalos de pura raça.

Foi um sufoco! Levamos quase 10 horas para pedalar uns trinta e poucos quilômetros, se é que se possa chamar pedalar. Na verdade levar bike às costas a maior parte do tempo era o mais comum. Em compensação a força da natureza patagônia aliviava todo cansaço, riachos mescla de montanha e neve ao alto, trilhas inusitadas, banho refrescante de riacho, se é que se pode chamar refrescante água a menos de dez graus centígrados. Tudo sem contar que para se chegar ao nosso destino naquele dia, terminava-se por cruzar a corredeira de um rio.

Rumbo al Segundo Corral

No dia seguinte pedalamos pouco para chegar ao Segundo Curral. Lá, as margens do rio Puelo, como de costume armamos nossas barracas e à tarde aproveitamos para descansar e ir até um lago chamado Las Rocas, muito procurado por aventureiros que curtem acampamento selvagem. Ali a beira do rio, um dos guias preparou para o jantar: um cordeiro assado em grande estilo. Seria um pecado da gula, se não esclarecesse que o cordeiro parecia uma iguaria destina aos deuses do Olimpo ou a algum chamã ou feiticeiro da tribo Mapuche. Delicia!

¡Viva los argentinos y Argentina!

Naquele ponto estávamos a poucos quilômetros da fronteira com a Argentina. Então, ao despertar nos preparamos para cruzar a fronteira. Antes cruzamos as bikes, os cavalos e nossos pertences em uma pequena barcaça presa a cordas e correntes.

Daquele ponto em diante a expedição foi pura adrenalina! Ao pedalar e carregar a bike às costas por alguns quilômetros, tivemos iniciar a travessia rumo a Argentina. De cara passamos pela Aduana Chilena, uma pequena colônia militar, ocasião em que fomos muito bem tratados e sem nenhum imprevisto todos providenciaram a autorização de saída daquele país tão marcado belas deslumbrantes belezas das cordilheiras andinas. Inclusive alguns militares nos acompanharam até a Aduana Argentina.

Naquele momento alguém perguntou ao militar:

– Mire señor: -A cuántos quilómetros estamos de la frontera Argentina? Então todo solicito, o sargento disse:
– A pie, unas tres horas. A caballo uns dos hora y media. Não satisfeito nosso companheiro acrescentou:
– -Y en bicicleta? E prontamente ouviu: – Mire usted que en bicicleta no es posíble.
Aí pensei eu: Caracas! Vai dar bode! Agradecemos e seguimos com as bikes decididos e destemidos. Ah, meus camaradas! Foi tal de empurrar bike, carregá-la às costas, cruzar cachoeiras e riachos sem parar, subindo, descendo, suando pacas.

Como prêmio o visual era de tirar o fôlego. O Polar marcava 180 fácil, fácil! até chegar definitivamente às duas fronteiras.

¡No llores por mi Argentina!

Depois de uma semana por terras chilenas, finalmente sentíamos a sensação única de haver cruzado os Andes, no que pese naquele trecho da cordilheir
a as altitudes não serem tão acentuadas. Todos sentiram a satisfação de vencerem, mesmo que as duras penas, imposições que a soberana Natureza nos apresenta.

Naquela tarde armamos acampamento em um Camping na cidade argentina de Bolsón, uns 150 km ao sul de Bariloche, famosa região turística, não só pela sua natureza soberba, mas principalmente pelos centros de esqui e das espetaculares infra-estruturas para receber qualquer tipo de turista, inclusive ciclistas aventureiros. Ali, saboreamos nosso último banquete, digo jantar, bem como tivemos a penúltima oportunidade de admirar a grandeza dos Andes. Alguns até dormiram ao relento, só para apreciar o luar encantador. Na manhã seguinte tomamos nosso desjejum e a saudade começou a apertar: era o final da expedição. Uma pena!

¡Echar de menos a la Patagônia y a los Andes!

Bem, a partir de Bolsón até Bariloche, fomos transportados em uma luxuosa Van Após algumas horas de viagem nos acomodaram em um excelente hotel às margens do lago Nahuel Huapi, que em português significa Lago do Tigre.

Em fim, foi uma aventura muito louca! Conheci pessoas encantadoras. Uma delas, um senhor de 78 anos, que tinha uma séria atrofia em ambas as mãos, que o impedia de frear a roda dianteira. No entanto, com a outra freava a bike e a conduzia com uma maestria de emocionar a todos. A ele dedico mais essa aventura cheia e emoção e êxito! Até a próxima!