Damas do gelo: uma aventura na Patagônia

Atualizado em 08 de junho de 2017
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O desejo de correr uma prova de 100 km surgiu após atender vários pacientes que procuravam orientação nutricional para esse tipo de desafio. No final de 2015, assisti a uma palestra de divulgação da prova El Origen, realizada entre as cidades de Villa La Angostura e Villa Traful, na Patagônia. Fiquei encantada e, então, decidi participar do desafio deste ano, realizado em março.

Já Aline Swale, minha parceira de corridas e treinamentos, sempre me motivou com muito papo e risadas. Acostumada a fazer o famoso longão comigo aos domingos, ela optou por correr os 50 km da prova. Como ela estava voltando a correr após passar por uma cirurgia, achou que não teria tempo suficiente para recuperar o ritmo ideal e participar da corrida mais longa.

Depois que nos inscrevemos para a corrida, criamos o grupo Damas do El Origen, nomeado por outras duas amigas que estavam conosco. Trocávamos informações sobre a viagem, hospedagem, nutrição e equipamentos. Apesar de termos boas experiências com viagens, estávamos ansiosas para decolar.

Já na Patagônia, um breve momento de desespero de Aline: quando chegamos ao congresso técnico, ela descobriu que o trajeto de 50 km havia mudado para 67 km, por um erro de cálculo da organização. O meu, de 100 km, iria para 91 km. Não ficamos muito felizes da maneira como isso foi informado, mas encaramos como mais um desafio e seguimos em frente.

CHEGOU A HORA!
Minha largada era um pouco mais cedo, no centro da cidade de Villa La Angostura, com um frio de 5°C e muita chuva. O percurso do primeiro dia era previsto para 38 km. Já para Aline, a largada foi dada em outro ponto e o percurso teria em torno de 26 km. Inicialmente, meu maior medo era de me perder e, por isso, fiquei entre um grupo de argentinos que tinham um ritmo de corrida bem parecido com o meu. Depois que vi que o percurso era bem sinalizado, com diversas marcações, meu maior problema foi lidar com o clima.

Concluído o primeiro dia, encontrei a Aline, que sentiu dificuldade por causa do forte frio na Patagônia. À noite foi servido um jantar com uma confraternização entre os atletas e uma reunião que explicava o próximo dia e os equipamentos necessários. 

 

 

Ao contrário do primeiro dia, o segundo contou com sol e com ambas as distâncias largando juntas – Aline correria 11 km e eu, 15 km. Corremos juntas até determinada parte, quando o próprio percurso nos separou. A grande dificuldade foi para descer a íngreme montanha coberta com cinza vulcânica, que obrigava o uso de polainas para proteção dos pés, capacete e bastões para frear e fixar melhor o corpo. Depois de conseguir completar mais um dia, um delicioso almoço e uma massagem nos esperavam.

CONCLUINDO O DESAFIO
O último dia foi o mais cansativo, tanto para mim como para Aline. Neste dia, ela correria 30 km, totalizando, assim, 67 km. Eu correria o trajeto final de 38 km que, somado aos anteriores, daria um total de 91 km – 9 km a menos que os 100 km previstos originalmente. Tive que atravessar um trecho de floresta, que exigiu muito do meu corpo, e enfrentar o desgaste dos últimos dois dias.

Mas consegui concluir o desafio e a alegria foi indescritível. Todo o filme dos longos treinamentos passava pela minha cabeça. Na chegada, Aline me esperava emocionada. Para mim, foram 22 horas de corrida em três dias – muito mais difícil e deslumbrante do que imaginava. Aline completou os três dias em 16 horas. Terminamos cansadas, mas com novos objetivos em mente. Queremos correr uma série de provas juntas para servir de preparação para o El Origen 2018, que terá um novo percurso entre Chile e Argentina. Nos vemos nas “pistas” – asfalto e trilhas!

Prova: El Origem
Data: 2, 3, 4 de março
N°de corredores: 350
Cidade: Villa La Angostura/Villa Traful
País: Argentina
Clima: 5°C a 20°C

Por Cristiane Perroni