A história da minha esposa Gabriela e eu na Maratona de Praga, realizada no dia 8 de maio, começa por acaso. Depois da viagem programada, voos definidos, hotéis fechados e roteiros prontos, ela resolveu olhar se, em alguma cidade onde passaríamos, teria alguma prova que servisse como preparação para a sua esperada estreia nos 42 km da Maratona do Rio de Janeiro, no dia 29 de maio. Descobriu que havia, mas não uma prova preparatória, mas sim um desafio muito maior: a Maratona de Praga.

A nossa preparação para o Rio estava praticamente pronta, longão feito, treinos em dia – e correr a maratona na capital da República Tcheca significava antecipar em três semanas a data- alvo. O aval definitivo veio do nosso treinador, Marcelo Duarte, da MD Runners. A recomendação era fazer treinos leves durante a viagem, porque ele sabia que andaríamos muito, e manter a boa alimentação. É claro que entre uma caminhada e outra não faltou tempo para degustar algumas das melhores cervejas do Velho Continente. Nada, porém, que atrapalhasse. Os efeitos antioxidantes devem ter nos ajudado bastante, já que a prova foi sensacional.

Recordes e comemoração
Chegamos a Praga dois dias antes da prova e fomos buscar nossos kits. A feira tinha organização impecável, congressos técnicos, estandes do mundo todo e muitas lojas de equipamentos. No dia da corrida, saímos do hotel e fomos para a área da largada, na praça principal de Praga. Uma caminhada de cinco minutos que nos permitiu encontrar corredores do mundo todo, tirar fotos com um grupo de samba tcheco e ver a elite se aquecendo.

Estranhei um pouco ao ver que teria que largar muito atrás, mas depois imaginei que o motivo poderia ser por termos feito a inscrição por uma das instituições que a prova ajuda. Sim, a organização cede algumas vagas para que essas instituições vendam e essa foi a única forma de entrarmos, já que as inscrições por eles já estavam encerradas. Mas isso não importava. Combinamos de cada um ir no seu ritmo e levamos celular para o caso de algum problema.

A largada foi dada pontualmente às 9h e, de cara, vimos que seria mais fácil correr. Pelo menos mais fácil que os treinos na escaldante, úmida e maravilhosa cidade do Rio de Janeiro. A temperatura estava na casa dos 10°C e a umidade baixa.

Praga foi uma cidade pouco afetada pelas grandes guerras mundiais e  é linda, com uma arquitetura rica e várias pontes que cruzam o rio Moldava. Logo no início passamos pela mais importante e conhecida, a Ponte Carlos, que liga a Cidade Velha à Cidade Pequena, construída entre os séculos 14 e 15. Havia muitos postos de hidratação e todos tinham água e, alternadamente, esponja encharcada de água ou isotônico.

A temperatura e umidade baixas (para nós) ajudou bastante e pudemos imprimir um ritmo muito bom – e até certo ponto surpreendente. Passei a marca dos 10 km, 21 km e 30 km com meus melhores tempos em maratona e próximo dos melhores tempos nas distâncias. Gabriela fez melhor: bateu seus tempos nos 10 km e 21 km.

Durante praticamente todo o percurso havia pessoas incentivando, crianças estendendo as mãos, bandas tocando ao vivo e mensagens de apoio aos corredores em painéis e outdoors. Paguei um pouco o preço por ter forçado até o km 32 e diminuí o ritmo. Mesmo assim, desci a larga avenida que levava à chegada com um sorriso tão largo quanto.

Fechei a prova em 3h40min, melhorando meu tempo no trajeto em 7 minutos. Ganhei minha medalha e uma manta térmica. Fui rapidamente até o hotel, tomei um banho, peguei um chinelo para a Gabriela, máquina fotográfica e parti para esperá-la. Fiquei numa arquibancada quase em frente ao pórtico, ligando toda hora para monitorar onde ela estava (e não correr o risco de perder aquele momento).

Foi lindo ver uma pessoa que há alguns anos não conseguia correr 200 metros se propor a concluir um desafio desses, passar por um treinamento exaustivo, abdicar de várias coisas, encarar uma maratona longe de casa e chegar correndo, inteira, sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Chorei junto. Seu tempo final foi de 5h21min

E, como não podia deixar de ser, a comemoração foi numa cervejaria que ficava ao lado do hotel, regada a algumas das melhores cervejas do mundo. Sem culpa e com muito gosto!

Relato de Gabriela e Sérgio Maggessi.

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