Papo de Corrida

Corredores ‘mortais’ podem abrir mão da academia?

Dean Karnazes, o homem que correu 50 maratonas em 50 estados americanos ao longo de igual número de dias, não se alonga. Ed Whitlock, o inglês de 85 anos que completa maratona em menos de 4 horas, usa um par de tênis de 15 anos de idade e não faz musculação para corrida. Roberto Losada Pratti, um dos primeiros ultramaratonistas brasileiros, diz que a “corrida no lugar” é suficiente para preparar o corpo para longas distâncias, sem necessidade de musculação.

Nas conversas entre corredores, as idiossincrasias de fenômenos da corrida como os três citados no primeiro parágrafo contribuem para alimentar comportamentos “rebeldes”, distantes do padrão preconizado por professores de educação física e treinadores de assessorias de corrida. Afinal, muitos corredores não gostam de se alongar e querem ficar bem longe de uma academia de ginástica.

Diante dessa questão, é razoável imaginar que corredores “mortais” possam imitar as atitudes desses monstros do asfalto e fugir da musculação para corrida?

Gilberto Coelho, especialista em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP, especialista em Metodologia do Treinamento para o Alto Rendimento pelo NAR (Núcleo de Alto Rendimento) e professor de Educação Física da FAAP, é taxativo: a resposta é NÃO.

 

 

“Esses atletas são pontos totalmente fora da curva”, diz o fisiologista. “Estamos todos envelhecendo. O trabalho com pesos tem a função de minimizar a redução de massa muscular que já ocorre normalmente. É uma forma de estabilizar e minimizar o risco de lesões”.

A partir dos 30, 35 anos, todas as pessoas que já correm desde os 20, aproximadamente, vão começar a sentir alguma perda de força muscular, segundo o profissional. “A gente não pode virar as costas para a ciência”, alerta.

Os exercícios feitos com pesos numa academia não são o único caminho a seguir por quem quer reduzir a natural perda de massa muscular. A introdução do trabalho de força específica é uma das maneiras de resistir a esse processo. Exercícios pliométricos, que trabalham a potência (força + velocidade) com a execução de saltos, por exemplo, são uma boa alternativa para quem tem aversão a halteres, segundo Coelho.

O fisiologista orienta corredores que já não fazem trabalho de força a enveredar por esse mundo. “Naturalmente, o seu pace (velocidade por quilômetro) vai melhorar. Orientei um rapaz que fazia musculação com finalidade estética a correr. Ele passou a treinar já há algum tempo e agora está voando”.

Alguns exercícios, como pedalar, logicamente contribuirão para o desenvolvimento de força muscular nas pernas, mas serão insuficientes a longo prazo.

“É necessário trabalhar a musculatura da parte anterior da coxa, da parte posterior. É preciso trabalhar do pescoço para baixo: peito, ombro, costas. Na corrida, diferente do ciclismo, você vai transportar toda a sua massa muscular, e algumas dores provavelmente ocorrerão caso alguns músculos não sejam trabalhados”.

Seguir à risca as manias inconvencionais de Whitlock, Karnazes e Pratti, entre outros fenômenos, pode redundar em riscos à saúde. “Provavelmente esses corredores se alimentam muito bem e têm estilo de via muito regrado. Eles acabam virando referência no meio de corredores. Porém, se os corredores comuns forem seguir seus exemplos, terão lesões e problemas”, avisa Coelho.

Alessandro Lucchetti

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