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A cultura das corridas infantis no Brasil e no exterior

Já estamos em outubro, o calendário está apertado e pelo Brasil afora uma infinidade de corridas infantis estarão postas à prova.

No mês passado aconteceu a mãe delas. A Maratoninha do Pão de Açúcar, evento que certamente foi celeiro-semente de corredores em quase duas décadas. Talvez aquele atleta de três anos de idade nos anos 90 esteja hoje correndo pelas ruas do Brasil. A semente que é plantada, germina e vive. Porém, hão de convir, que nossas corridas perto das existentes em escolas norte-americanas e algumas europeias tem anos-luz de diferença em termos de comprometimento, de performance e de cultura running. Há vídeos de garotos que, aos sete anos de idade, são verdadeiros mini Bolt, mini Johnson, enquanto que aqui prezamos pela iniciação esportiva sob forma de lazer com a preocupação de entretenimento. 

A diferença é cultural. Enquanto o americano cresce com a ideia que é preciso ser competitivo desde sempre, com a cobrança constante de não ser “looser”, no Brasil somos mais complacentes. Um ponto é que, no exterior, essa cultura de competição mini-runners é formada em escolas, e em escolas públicas que tem complexos esportivos de fazer inveja ao Rio-2016. A oportunidade faz o corredor. Lá o corredor-mirim aprende na escola a correr. No Brasil esse papel cabe aos pais.

Na Europa, com a prova da Maratoninha de Berlim, o evento infantil larga igual a uma corrida de rua adulta com as faixas etárias de 10, 12 anos saindo forte.

Pais que incentivam filhos a correr geralmente são corredores e é aí que mora o perigo. Nas primeiras faixas etárias, a corrida é só ‘fun’ e as distâncias de até 50m são algo lúdico. É valido. A idade vai aumentando e o ritmo também. E neste momento os pais devem, antes de inscrever, negociar com os filhos. Corrida dói. Quantas imagens de crianças entediadas com pais extasiados pela experiência em três dimensões já assisti nesses anos? Vejam: a grande maioria dessas crianças no Brasil só correm de pega-pega ou nas aulas de educação física. Se veem em uma bolha e, como não há lembrança cognitiva com a corrida praticada na escola, se sentem deslocados.

Se queremos que nossos filhos sigam nossos passos, o principal ingrediente é o respeito ao livre-arbítrio da criança escolher o esporte que desejar.

É levá-lo para ‘treinar’ algumas vezes na semana até mesmo para prepará-lo para o stress. Por outro lado, há uma leva de crianças que gostam de correr com ou sem seus pais, esses querendo ou não.

Colocá-los, se o orçamento permitir, em acampamentos esportivos outdoor que ajudem a tirar os medos internos da criança lhes dando auto confiança. Os pais devem estar preparados para as negativas imprimindo, no entanto, o papel de apontar alternativas aos filhos lhes inserindo a cultura esportiva seja na corrida, no futebol ou na biriba.

 

Harry Thomas Jr

Jornalista especializado em corridas de rua desde 1999, Harry competiu pela primeira vez em 1994 e desde então já completou 31 maratonas – sendo três sub 3 horas: São Paulo (2h59min30), Nova York (2h58min20) e Blumenau (2h58min10). Também concluiu seis Ultratrails: 60K Ultratrail Putaendo, 67K Ultratrail Torres del Paine, 50K Indomit Costa Esmeralda e os 50K Ultra Fiord por três vezes. Já correu em países como Argentina, Chile, Estados Unidos, Grécia e Japão.

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