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A progressão da nossa corrida

Quando somos bem jovens, queremos  metas de corrida, como distâncias menores em curtos espaços de tempo, diversas vezes, incansavelmente. Nosso corpo é mais flexível, nosso coração e pulmões são fortes e nossas cartilagens estão bem hidratadas e sadias. Os hormônios funcionam extraordinariamente bem, assim como as enzimas e outras substâncias reparadoras. Utilizamos músculos de contração rápida, com grandes amplitudes de movimentos nas articulações e enormes impactos ao corpo todo, tornando possível dar saltos, cambalhotas e frequentemente sofrer quedas e contusões. Não nos preocupamos com lesões crônicas, pois sabemos que qualquer machucado some rapidamente.

Já no início da fase adulta, estamos com o físico e a mente mais fortes. Somos mais ambiciosos e queremos ir mais longe na corrida. Depois que corremos 5 km, queremos 10 km, 21 km… E depois, queremos chegar mais rápido, buscando constantemente a perfeição. Estamos no auge do desenvolvimento físico e conseguimos utilizar diversos grupos musculares de acordo com cada situação, pois nosso corpo responde da maneira como queremos. Correr passa a ser um aprendizado progressivo.

Chegando na meia idade, os aprendizados diminuem bastante, pois a pessoa acredita que já sabe correr (pois aprendeu tudo na fase anterior), mas começam os sintomas da queda do desempenho, seja por indisposição, ou por lesões constantes provenientes da redução dos treinos, ganho de peso e aumento de outras responsabilidades.

Quando consegue disponibilizar um tempo para treinar, a pessoa às vezes acredita que ainda está na fase anterior e por isso se machuca, ou sofre com a falta de fôlego e de resistência muscular, jogando a culpa no trabalho e nos problemas familiares. Mas a verdade é que o corpo está mudando. Os hormônios estão mais seletivos, os músculos já não possuem a mesma facilidade de explosão, o coração já está a décadas trabalhando e as cartilagens já estão um pouco mais desidratadas, pelo uso na corrida dos anos passados.

Finalmente, na terceira idade, todos estão mentalmente muito fortes, mas fisicamente desfavorecidos, quando comparados ao potencial do início da fase adulta. As fibras de contração lenta estão muito mais desenvolvidas que as de contração rápida, favorecendo atividades com longos períodos de duração e baixa intensidade. As articulações não permitem mais movimentos muito amplos nem muito bruscos. O sangue já é transportado pelo corpo todo com mais dificuldade, pois os vasos já estão mais desgastados. Mas por outro lado, já não existe tanta pressa em terminar um treino, afinal o objetivo principal, na maioria das vezes, é simplesmente terminar a corrida.

Agora é possível entender por que a maioria esmagadora dos maratonistas não possui vinte e poucos anos, ou menos de vinte, apesar desta faixa etária incluir pessoas que fisicamente estão no auge do potencial. E também da dificuldade em encontrar campeões velocistas dos 100 m ou 200 m com mais de trinta anos, que teoricamente tiveram mais tempo para treinar que os garotos que costumam ganhar. É comum ouvir dizer que jogadores de futebol com mais de 30 anos já estão velhos.

Todos devem se observar e entender que para cada fase existe uma expectativa diferente. Isso evita desapontamentos e o abandono dos treinos, mas principalmente lesões indesejáveis. Claro que não é uma regra (é possível evoluir no desempenho em qualquer uma destas fases!), mas casa com a maioria das pessoas.

Por isso, não desanime se o seu pai de 45 anos é maratonista e você mal chega nos 21 km. Ou se o seu filho sedentário de 10 anos te ultrapassa quando apostam uma corrida até o outro lado da rua.

Marcel Sera

Fisioterapeuta, palestrante e atleta amador! A ideia, aqui, é explicar como usamos e o que acontece com o nosso corpo em cada situação, ação e emoção de nosso dia-a-dia. Correr é uma terapia e minha fonte de inspirações para compartilhar o conhecimento de forma simples e objetiva para todos os interessados. Sugira, critique, questione, treine e corra à vontade!

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Marcel Sera

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