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Dilatador nasal: você usa antes do treino ou competição?

Vocês já perceberam que aqui no Ciclismo Científico eu sempre trago algum tema que observamos no esporte profissional, mas que também não é difícil de ver na prática recreacional. Afinal, essa é uma das características interessantes do ciclismo. A UCI exige que tudo que os ciclistas profissionais usam, em termos de equipamentos, seja disponível comercialmente. Nessa nova postagem vamos discutir se usar um dilatador nasal, seja o que é aplicado dentro do nariz, ou aquele que é colado na pele sobre o nariz, tem de fato algum efeito no desempenho.

Quem nunca viu aquele parceiro ou parceira aquecendo com um algodão dentro do nariz? E para responder essa pergunta, vamos pedir ajuda à ciência.

A premissa para usar um dilatador nasal é de que ele melhoraria o desempenho de endurance pois poderia aumentar a economia de movimento do ciclista. Essa hipótese foi testada com 15 ciclistas bem treinados e com um desenho experimental robusto.

 

 

Esses atletas realizaram três sessões de avaliação, sendo que em cada uma tinha um aquecimento padronizado de 15 minutos, e então realizavam um contrarrelógio de 20 km. Em uma condição eles usavam um dilatador nasal externo (Breathe Right external nasal dilator – aqueles que se cola no nariz e muita gente que tem problema com roncar enquanto dorme usa), um dilatador interno (Turbine internal nasal dilator – que é colocado dentro do nariz preso na base da columela – a parede que separa as narinas direita e esquerda), e por fim uma condição em que nenhum dilatador era usado.

A ordem dos testes foi randomizada entre os atletas para que não influenciasse os resultados. Durantes as avaliações, a potência produzida, o tempo de competição, frequência cardíaca, percepção de esforço e a dispneia (dificuldade para respirar) foram avaliadas a cada 4 km dentre os 20 km percorridos.

Os resultados mostraram que o uso de dilatador nasal não causou mudanças significativas no desempenho. A potência produzida, por exemplo, foi de 270±45W quando usado o dilatador interno, 271±44W no caso do dilatador externo e 272±44W quando nenhum deles foi usado.

A economia de movimento também não foi diferente entre as condições testadas. Dessa forma, com uma avaliação bastante robusta, este estudo mostra que o uso do dilatador nasal não tem um efeito fisiológico no rendimento em um contrarrelógio de 20 km.

Se ele pode ter um efeito motivacional ou psicológico? Talvez, mas não sei se isso seria suficiente para garantir que determine um melhor rendimento.

Referência
Adams CM, Pfeiffer JJ. Neither internal nor external nasal dilation improves cycling 20-km time trial performance. J Sci Med Sport. 2017 Apr;20(4):415-419. doi: 10.1016/j.jsams.2016.08.018.

Felipe Carpes

É graduado em educação física, doutor em ciências do movimento humano e professor da Universidade Federal do Pampa (RS). Apaixonado por ciclismo, há mais de 10 anos está envolvido com o esporte, desenvolvendo estudos científicos voltados ao aperfeiçoamento da técnica e maximização do desempenho competitivo. Também é praticante de ciclismo de estrada e de mountain bike maratona.

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Felipe Carpes
Tags: Experimento

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