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E se a meta for não ter meta?

Final de outubro, chego a Amsterdã para a minha quinta maratona. É tudo lindo: a cidade, as pessoas, os iogurtes, os canais, aquela coisa toda. São 9h30 de um domingo incrível, 13°C, nublado, é dada a largada. Seguro o choro, porque sempre choro no começo e no final de 42,195 km corridos. Findo o primeiro quilômetro e penso: “Pena que está acabando. E minha próxima será Nova York pela terceira vez”. Será?

Por que a gente, que é amadora, tem que ter meta na corrida? E se a meta for não ter meta? Por exemplo: em 2020 quero simplesmente correr. Um dia faço 5 km, depois 7, caio para 3, na semana seguinte pulo para 50 km.

Eu não faço ideia do que diz a literatura especializada em corridas. Nem os pesquisadores ou adoradores. O que sei é que às vezes as metas também são um porre. Ficar com aquilo na cabeça, comunicar a família, guardar dinheiro, fazer dieta, apertar a musculação, contar os meses. Ufa! E aí chega o grande dia e você está exausto com todo o pacote que um grande projeto exige.

Projeto este que saiu da sua cabeça. Ninguém te cobra prazos e resultados. Pegou pódio? Palmilhas. Não pegou? Peninha. Então, para que ter meta de corrida, ora pois?

Porque correr é um ato de liberdade. Você corre quando quiser e puder. Não tem horário, dia, sol ou chuva. Qualquer tênis serve, qualquer camiseta está valendo. Sua cabeça vai longe enquanto corre, ou fica focada em não virar o pé nas ruas escuras da cidade. E não há nada mais libertador do que se aprisionar na disciplina, já dizia Renato Russo. Então, tudo aquilo que era para ser um saco vira uma métrica de liberdade.

Até porque, justamente por sermos amadores, ou seja, sem obrigação financeira ou “jabazeira” de ter que correr, é que a disciplina se faz necessária. Nesse caso, a meta, qualquer que seja ela, vira o troféu, o pódio em si. Depois de meses de preparação para fazer 5 km sem parar ou 42,195 km sub-3, não importa, é hora de chorar. Meta cumprida e comprida!

Respondendo ao título deste artigo (E se a meta for não ter meta?): não ter meta também é um objetivo. Mais solto, talvez, mas é um jeito de colocar a corrida em outra perspectiva. Simplesmente correr. Ter ou não ter meta, o que importa é ir. E isso eu sei que você vai fazer.

 

Anne Dias

Jornalista com especialização em economia e com nove meia maratonas no currículo: duas W21, Meia Maratona das Pontes (Brasília), Disney, Corpore, São Paulo, Uberlândia, Porto Alegre e duas Golden 4 Asics. Concluiu também duas maratonas: Nova York e Buenos Aires. E não pretende parar.

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Anne Dias
Tags: disciplina

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