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Off season: é hora de descansar, mas nem tanto…

Chegamos ao fim da temporada, no período do off season, e a maioria dos atletas não sabe o que fazer, se deve treinar ou descansar. Fui nadadora, ciclista, triatleta profissional, e como treinadora trabalhei com alto rendimento para nadadores e ciclistas profissionais, tendo me dedicado há mais 20 anos a treinar também triatletas e corredores. Com base nessa minha experiência, entendo que existem pelo menos dois tipos principais de atletas.

Um deles é aquele que quando acaba o período competitivo quer férias. Ele não quer compromisso, engorda e some por uns tempos. É conhecido pela famosa frase: “vou dar uma paradinha com as planilhas e ano que vem retorno…” O outro é aquele que não quer parar para não perder performance e emenda uma temporada na outra. Sobre qual dois está correto, afirmo que nenhum deles.

O monitoramento do período de transição entre uma temporada e outra (ou off season) é muito importante e influencia diretamente nas demais fases de seu treinamento, podendo ser parte de seu sucesso na nova temporada. Independentemente se você é profissional ou amador, se passou por um período de preparação, trabalhou arduamente e participou de competições onde testou seu condicionamento físico, determinação, motivação, força de vontade, no final da temporada você terá um alto nível de fadiga fisiológica e psicológica.

Quanto mais intenso o treinamento e maior o número de competições, mais elevado é o nível de fadiga. Por tanto nenhum atleta deve começar imediatamente um novo ciclo anual de treinamento sem a recuperação necessária . Quando um novo ciclo se inicia o atleta deve estar totalmente recuperado, e com isso voltará com grande vontade de treinar.

A fadiga muscular pode desaparecer em poucos dias, mas a fadiga do sistema nervoso central (SNC), que muitas vezes não observamos, permanece por mais tempo. A remoção da fadiga do SNC é considerada o principal objetivo do período de transição. Para minimiza-la, o atleta deve cuidar da preparação psicológica durante a temporada e também durante a transição. Deve identificar os problemas que passou, os pontos negativos e trabalhar neles para que não voltem a aparecer – ou se voltarem, deve saber como lidar.

O período de transição/off season une dois planejamentos anuais, facilita a recuperação psicológica, a regeneração biológica e mantém no atleta um nível de preparação física geral (50% do que tinha no período competitivo). A duração deve ser de 3 a 4 semanas, com treinos sem intensidade e baixo volume. Também deve-se reduzir o número de sessões diárias de treinamento.

De maneira nenhuma o atleta deve ficar sem atividade. A interrupção dos treinos com recuperação passiva leva ao destreinamento e as perdas são muito grandes. A recuperação passiva é prejudicial ao organismo! Um corpo treinado tem muita dificuldade em adaptar-se à inatividade.

Executando um planejamento correto, o corpo utiliza proteínas para reparar os danos causados aos tecidos. O desuso causa a degradação das proteínas no organismo, diminui os ganhos da temporada anterior e o atleta perderá muito tempo até voltar a sua forma ideal.

A abstinência total do treinamento causa diminuição dos níveis de testosterona e beta endorfina, podendo levar a dores de cabeça, sensação de exaustão, tensão, insônia, mau humor, falta de apetite e depressão psicológica.

O primeiro sintoma de destreino é a perda de velocidade, pois a degradação proteica e a degeneração das unidades motoras diminuem a potência da contração muscular. A fibra muscular sofre uma redução nos impulsos nervosos, contraindo e relaxando de forma rápida. Ocorre uma diminuição no número de unidades motoras recrutadas durante as contrações, levando à perda de potência.

Ainda dentre os estragos causados pela inatividade do atleta, estão:

– Perda de 3 a 4% de força na primeira semana;

– 7% de perda de resistência nos primeiros 10 dias;

– Diminuição de até 30% dos níveis de hemoglobina;

– Decréscimo de 5% no volume de sangue e de mitocôndrias com diminuição de sua densidade;

– Decréscimo da função oxidativa (aeróbia) e glicólica (anaeróbia) das enzimas. A consequência é uma elevada produção de acido lático com diminuição da capacidade do organismo tamponar (regular) o acúmulo de lactato.

A recuperação passiva prejudica o atleta ao iniciar um novo ciclo de treinamento em um nível mais alto, e prejudica o desempenho pela falta de continuidade. A inatividade completa no período de transição/off season leva à perda do primeiro microciclo do novo planejamento anual até o atleta atingir o nível desejado, ao passo que se ele fizer um planejamento de atividades leves neste período iniciará a nova temporada descansado e apto a adquirir melhor performance.

Dicas para seu período de transição/ off season:

– Evite o álcool;

– Evite engordar muito – o ganho acima de 2 a 4 quilos é indesejável;

– Procure fazer exercícios diferentes, mas que não irão trazer lesões futuras;

– Se você está realmente exausto, pode até ficar inativo por uma semana, mas depois inicie atividades gerais;

– fique distante de seu técnico, você precisa descansar (e ele também!);

– Mude o ambiente de seus treinos;

– Aproveite para fazer exercícios de flexibilidade, força e alongamentos;

– Pratique seu hobby;

– Aproveite para analisar seus erros anteriores e listar suas dificuldades;

– Faça seus exames médicos de controle para iniciar a temporada sabendo que está apto;

– Faça seu planejamento de provas de acordo com seu estilo de vida, cuidando para que as provas escolhidas não se tornem um transtorno para sua vida pessoal.

 

Espero ter esclarecido e ajudado vocês !

Bom descanso e bons treinos!

Rosana Merino

Formada em educação física, é diretora-técnica da RM Consultoria Esportiva, treinadora de triathlon da Cia. Athletica e da Prefeitura de Campinas, onde trabalha com atletas de alto rendimento. Foi nadadora - seis vezes campeã brasileira -, ciclista, corredora de aventura e triatleta, sendo a primeira brasileira a vencer Fernanda Keller no auge de sua carreira.

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Rosana Merino
Tags: off season

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