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Por falar em Desafios… Semana passada, rolou o Desafio das Serras

Conseguir encaixar os treinos na rotina do dia a dia não é moleza. Não temos tempo para preguiça, sono, saco cheio…Tudo isso não existe, não é mesmo? Final do ano, época de muito trabalho, sem hora pra sair, sem hora pra comer… Mas as madrugadas são de treino! Muito treino.

E lá vou eu e meu parceiro Carlos Henrique Silva, ultramaratonista que pisou na terra esse ano e já tomou gosto pela coisa, para mais um Desafio, bem audacioso também: competição em montanha de dois dias, 40 km por dia e uma elevação acumulada de arregalar os olhos, 9.300m em São Francisco Xavier (SP). Escolhemos o nome da equipe: We Rock!

Fomos em dupla mista, ou seja, os dois devem correr lado a lado, podem e devem se ajudar e a equipe vencedora é aquela que, na somatória de tempo dos dois dias de prova, fizer em menor tempo.

Devo confessar que tínhamos uma desvantagem: havíamos treinados juntos apenas duas vezes, pois ele mora em Santos (SP) e eu em Campinas (SP). Conversávamos quase todos os dias, para saber como estavam os treinos, então isso já gera uma empatia super necessária para a prova. Mas como eu digo, treino é treino, jogo é jogo. E competição, rola um estresse individual, imagina segurar o da equipe?! Outro anseio meu: eu nunca havia competido corrida de montanha em dois dias seguidos! Não conseguia imaginar como meu corpo reagiria, e pior como as “meninas” (minhas pernas) seriam judiadas.

Mas eu tinha um plano: decidi não avisar nada para as “meninas”. Elas não sabiam de nada… Não souberam previamente o que sofreriam. Costumo brincar com minha mente, antes e durante a prova. Isso funciona pra mim.
Já o plano da Equipe We Rock era claro: avaliar o ritmo das outras equipes e não “atacar”, chegaríamos próximos da equipe vencedora no primeiro dia. Já no segundo dia, iríamos fazer muita força (e as “meninas” nem desconfiavam tamanho sofrimento).

Sábado 06 de Setembro, largada do centro da cidadezinha de São Francisco Xavier, 9h.

Todos felizes, animados, muita expectativa. Como sempre, éramos praticamente atração turística dos moradores da cidadezinha: todos coloridos, com os bastões de corrida (trekking pole), meias esquisitas, alguns usavam luvas, outros levavam mochilas cargueiras enormes…

Sirene. Nos primeiros quilômetros, saindo da cidade, a primeira subida: 10 km. Assustador! Mas encarei com a cabeça tranquila. Estava bem, mas não queria forçar. Liguei o som para distrair a mente. Isso me acalma. Com 3 km já estava na prova e não precisava mais do som. Alternávamos entre trotar e andar.

Nesse momento, começo a pensar onde e quem seriam as equipes adversárias. Largamos todas as categorias juntas e por isso, estava difícil identificar. Continuamos a subir e o sol já castigava. Cinco quilômetros direto subindo em estradão de terra e, finalmente, entramos no single track (área de mata mais fechada em que a trilha é estreita e somente se passa um por vez, difícil ultrapassar atletas). Olho o Carlos e ele não parecia nada bem. Pergunto. “As minhas pernas não respondem, acho que minha frequência subiu muito rápido”, ele diz. Eu olhei e tentei acalmá-lo. Sal, gel, molha a cabeça, fomos muito ultrapassados, apenas caminhávamos. Ele me diz que está melhor e voltamos a correr. Passamos uma equipe de amigos e segui até a próxima equipe que conseguia avistar. Mas o Carlos ainda não estava bem e fomos obrigados a diminuir o ritmo.

Conversamos sobre a situação durante a prova, mas eu não sou de focar no problema e fui buscando solução. Precisava me animar, precisava ajudar a recuperar o ânimo da equipe. A trilha foi bastante dura e parecia que conseguíamos fluir melhor no single track. Mas, era muito travada, muito técnica e de qualquer forma, estávamos muito lentos.

Já muito próximos da chegada, sem nenhuma ideia de colocação, lembro que era uma descida e nossa vontade de chegar, de acreditar que no próximo dia nos sairíamos bem, era infinita! Descemos igual doidos e eu voei até cair… Bati forte e ralei ambos os joelhos. Agora, era terminar logo aquele dia e pensar no domingo. Chegamos 21 minutos atrás da dupla mista vencedora daquela etapa.

O Carlos conhecia a dupla e me disse que eram bem fortes. A menina havia conquistado pódio em Paranapiacaba (SP) numa prova de 50 km e foram ali para vencer. Mas nós também. O dia seguinte seria uma briga boa.

Domingo, Dia da Independência e dia que a We Rock decidiu voltar para a prova com força total. Largamos bem, ritmo forte e consistente. Sem forçar. Ninguém parecia ameaçar nossa liderança, mas vencer a etapa não era suficiente. Tínhamos que vencer com pelo menos 22 minutos de diferença e eu superar as dores dos joelhos.
Como correr em São Francisco Xavier foi especial. A paisagem, os moradores incentivando. No segundo dia, percorremos estrada de terra em fazendas e pasto (a parte mais dura da prova) e subimos muito!!! Pela altimetria da prova, mais que no primeiro dia. Aqui minhas “meninas” já desconfiaram que eu tinha sacaneado, mas só foram dar uma gritada depois do km 30. Já os joelhos… Se pudessem falar, gritariam de dor. Carlos me perguntava “você está bem?”. Corri como se nada estivesse acontecendo…

A equipe vencedora do primeiro dia, grudou na nossa equipe no km 10 e, já sabíamos que correr forte não bastaria. Teríamos que alucinar! Não sei dizer bem o que passou, mas eu enxergava vontade de vencer no rosto do Carlos e aquilo me motivou. Fomos curtindo a prova, mas focados e fazendo muita força.

Última subida. Encontro meu grande amigo Taka. Meu amigo de treinos e ser humano maravilhoso que conheci há quase três anos, na minha segunda prova de aventura. Lembro como, hoje, a gente pedalando umas 2h da manhã, chovendo, quando eu dormi na bike e ele provavelmente também, e caímos juntos. Ficamos um pouco no chão descansando até retornar a pedalar. E lá encontro o Takinha, meu companheiro de aventuras. Fez sólo (40 km) no primeiro dia, mas torceu o pé. E como não desistimos jamais, decidiu correr 20 km domingo. Trocamos palavras de incentivo. Eu já estava bastante emocionada, querendo chegar e torcendo para termos aberto grande vantagem de tempo. Nos despedimos do Takinha e, finalmente, 800m de descida para a chegada no centro de São Francisco Xavier. Eu chorava de emoção! Chegamos, assim como no primeiro dia, eu e Carlos de mãos dadas, apesar de tudo o que passamos, passamos juntos e o objetivo era comum! Foi sensacional! As pessoas gritando, torcendo, até mesmo os staffs da prova estavam nos incentivando muito. Fui a primeira mulher a chegar nesse dia! Sentia orgulho. Um orgulho que só a gente sente quando manter o foco e a rotina de treinos diários exige mais de nós mesmos.

Equipe We Rock chegou com 23 minutos de diferença e marcou pra sempre na nossa vida essa experiência incrível que foi correr em dupla em São Francisco Xavier, com 9.300m de elevação acumulada. O Dia da Independência foi o dia da nossa vitória. Um agradecimento especial ao meu parceiro de prova Carlos, ao meu treinador Daniel Franquin, ao meu nutricionista Tubarão e ao meu grande amor que vivenciou tudo isso comigo com direito a bolo de aniversário do dono do restaurante em São Francisco Xavier, no almoço (risos), Beto.

Quem venha mais os 50 km no Indomit Campos do Jordão, no próximo sábado. Afinal, a Montanha Chama!

Redação

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