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Vem comigo mergulhar correndo na história do Brasil

Se você me conhece ou acompanha minhas reportagens na revista “O2” e por toda a parte na internet, você já sabe (e se não me conhece, eu conto): sou um corredor meio doidão, que gosta de fazer coisas aparentemente esdrúxulas.

Disse aparentemente pois todas elas têm razão de ser e motivação clara: combinar num bloco sólido minhas paixões pela corrida e pelo jornalismo, por contar histórias e por fazer histórias.

Foi assim, por exemplo, com meu projeto 460 KM POR SÃO PAULO: durante quase dois meses, percorri recantos escondidos da cidade e conversei com pessoas que talvez nunca antes tivessem falado com um jornalista. Produzi uma homenagem à cidade e ganhei de brinde uma fratura por estresse.

Também foi desse jeito, gigantesco e atabalhoado, que fiz minha PRIMEIRA MARATONA COMO APOSENTADO, em que corri e contei a trajetória de um sujeito – eu mesmo – que se aproxima da Terceira Idade, mas quer se manter enfrentando desafios que exijam grande resistência.

Agora enveredo por um caminho que combina tudo isso e mais alguma coisa: um mergulho na história recente do Brasil.

Começo nesta semana a CORRIDA POR MANOEL, uma homenagem jornalístico-esportiva a MANOEL FIEL FILHO, operário metalúrgico assassinado nos porões da ditadura militar há 40 anos. Manoel foi morto sob tortura no dia 17 de janeiro de 1976 no DOI-CODI de São Paulo.

Vou fazer 40 dias de corridas por percursos significativos para a vida e a morte do operário assassinado três meses depois da execução de Vladimir Herzog.

Em muitos desses trajetos, que relembrarão a luta contra a ditadura, pela democracia, pela liberdade e pela justiça, o maratonista será acompanhado por convidados.

Vamos visitar, por exemplo, o Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos no Regime Militar, instalado no Ibirapuera e criado por iniciativa da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, por meio da Coordenação de Políticas de Direito à Memória e à Verdade.

Além de familiares de Manoel, estão convidados os advogados Samuel Mac Dowell e Marco Antonio Rodrigues Barbosa, que representaram a família de Manoel em processo contra a União, o ex-preso político e diretor do Núcleo Memória Maurice Politi e a coordenadora do Memorial da Resistência, Katia Regina Neves.
“Consideramos que o grande valor da Corrida por Manoel Fiel Filho é justamente por ser uma forma original de resistência política contra o esquecimento e, portanto, pela preservação da memória”, afirma Katia.

E Maurice acrescenta: “Homenagear Manoel Fiel Filho, 40 anos após seu brutal assassinato, com essa corrida simbólica, significa resgatar a luta dele como operário metalúrgico, trabalhador consciente de seu papel, e de todos aqueles que deram a vida em favor do fim de um dos regimes mais violentos que tivemos no Brasil republicano”.

A largada da CORRIDA POR MANOEL será em ato no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (rua Galvão Bueno, 782), às 8h da próxima quarta-feira, 17 de fevereiro. A partir dali sairemos na primeira jornada, uma caminhada em memória da vida e da morte do operário.

“Importante esse resgate da luta e da vida de Manoel Fiel Filho”, diz Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. “Oportuno num momento em que as novas gerações não têm acesso ou conhecimento de nossa história.”

Cada trajeto será registrado em foto e vídeo; reportagem sobre o percurso de cada dia, com entrevistas e documentação histórica, será publicada no blog especialmente desenhado para o projeto CORRIDA POR MANOEL. O endereço é http://lucenacorredor.blogspot.com. De vez em quando, vou falar do projeto também aqui neste espaço virtual.

Você pode participar da CORRIDA POR MANOEL, que é um projeto aberto e democrático. Está oficialmente convidado a estar presente na CAMINHADA MEMORIAL, na quarta-feira, dia 17, que vai marcar o início de nossa jornada.

Minha primeira corrida será no dia seguinte, 18 de fevereiro. Vou correr até a Vila Maria, zona norte, para passar pela rua onde Manoel morou depois de chegar a São Paulo e onde ele veio a conhecer aquela que seria sua esposa.

É um percurso que vai de 12 a 14 km, vamos ver. Vou num ritmo MUITO LEVE, em blocos de 300 metros caminhando e 1.700 m correndo (sigo a orientação de meu treinador, Alexandre Blass). Conforme o entusiasmo, poderemos fazer blocos de 300 por 3.700.

A CONCENTRAÇÃO será às 6h45 na rua Oscar Freire, em frente à saída do metrô Sumaré (linha verde). A LARGADA será às 7h. Vale a hora do meu relógio.

É um treino coletivo. Não tenho nenhuma expectativa quanto a número de pessoas. O convite é aberto. Pode vir uma ou cem, sabe-se lá… A largada será feita com quem estiver presente no momento.

Cada um é responsável por sua própria segurança ao longo do caminho, assim como por sua hidratação, alimentação e transporte de volta.

Se você quiser fazer uma camiseta comemorativa, veja duas opções de arte que os designers Joana Brasileiro e Adilson Secco criaram especialmente para o evento.

Você pode imprimir a camiseta onde e como achar melhor. A minha eu fiz na Galeria do Rock, confira as lojas lá. Encontrei por 15 reais com a camiseta de malha, 30 com camiseta de corrida.

Se alguma boa alma quiser produzir camisetas em penca para distribuir DE GRAÇA, beleza. Será ótimo, agradecemos a colaboração.

É PROIBIDO VENDER OU FAZER QUALQUER TIPO DE COMÉRCIO COM AS ARTES criadas por Joana e Adilson.

Ou você faz sua camiseta como quiser. Ou usa qualquer outra.

Não vendemos nada, não cobramos nada de ninguém. A participação é livre, democrática, com respeito a todos.

Rodolfo Lucena

59, é jornalista, gaúcho, gremista, cachorreiro, escritor e ultramaratonista – já fez mais de 30 provas longas em cinco continentes. Autor de “Maratonando” e de “+Corrida”, atuou na Folha de S. Paulo por mais de 25 anos, faz o Blog do Lucena (lucenacorredor.blogspot.com) e o Maratonando com o MST (mstmaratonando.wordpress.com).

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