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Seu VO2max não é tão alto? Dá para melhorar o desempenho mesmo assim

No nosso último texto, falamos sobre as diversas estratégias de pacing e como elas se relacionam com o desempenho em provas de corrida. Falamos também que para cada prova existe um pacing “ideal” através do qual espera-se que o atleta obtenha os melhores resultados. Agora é hora de irmos um pouco mais fundo nesse assunto. Vamos abordar o que precisamos melhorar para que essas estratégias de pacing possam ser colocadas em prática durante as competições, desde os 5 km até as maratonas.

Bom, de cara já dá para imaginar que o assunto agora será treinamento, não é? Mas com um detalhe. Vamos explicar as variáveis fisiológicas que influenciam as estratégias de pacing, e que tipo de treinamento contribui para melhorá-las.

Mas antes, façamos a seguinte reflexão. Vocês já perceberam que em uma mesma competição, atletas de elite ou amadores nível elite adotam estratégias semelhantes, porém os desempenhos diferem entre si? Por que será? De imediato podemos afirmar que isso ocorre justamente por conta das seguintes variáveis fisiológicas.

Variáveis fisiológicas que influenciam no desempenho

VO2max (consumo máximo de oxigênio)

A menina dos olhos dos atletas de endurance. O VO2max está relacionado com a captação do oxigênio do meio e sua utilização pelos músculos em atividade. Contudo, quando analisamos diversos atletas com níveis de desempenho semelhantes, nem sempre aquele que tem os melhores tempos, os melhores resultados, é detentor dos valores mais altos para essa variável. Opa! Certamente tem algo aí que está fazendo a diferença!

Economia de corrida (EC)

Essa variável diz o quanto o atleta, literalmente, é econômico. Ou seja, para uma atividade em intensidades submáximas (abaixo do VO2max), aquele atleta que consome menos oxigênio para correr a prova tende a apresentar melhores desempenhos.

Pensemos em uma corrida de 10 km, por exemplo, naquele pelotão da frente, em que todos estão no mesmo ritmo. O atleta que estiver consumindo menos oxigênio para se manter ali, junto de seus oponentes, é aquele que está fazendo “menos” esforço comparado aos demais.

Provavelmente é o que tem melhores valores para a economia de corrida e é um forte candidato à vitória. Ao contrário do VO2max que, mesmo frente ao treinamento, tem seu aumento limitado a fatores genéticos e idade (envelhecimento), a economia de corrida tem maior ‘treinabilidade’. Ou seja, pode melhorar sempre, desde que o treinamento seja bem planejado e aplicado.

Velocidade pico (VP)

Essa variável é a máxima velocidade atingida em uma esteira durante um teste progressivo máximo, o nosso tão conhecido (e às vezes temido) ergoespirométrico. Aqui, atletas com maiores valores para essa variável também apresentam melhores resultados em provas de fundo.

Assim como na economia de corrida, o treinamento pode melhorar muito os valores da velocidade pico, o que permitirá ao atleta imprimir e sustentar velocidades mais altas que seus adversários e até realizar um sprint final em altíssima velocidade.

Teste na esteira ajuda a definir velocidade pico de cada atleta

Limiares metabólicos (L1 e L2)

Estes são os dois pontos em que notamos aumentos significativos no acúmulo de lactato. Quanto mais altos os valores de L1 e L2, mais os atletas demoram para fadigar e, consequentemente, maiores as chances de obterem melhores desempenhos. Assim como a economia de corrida e a velocidade pico, são variáveis que também tem forte relação com as estratégias de pacing e que podem obter melhoras significativas em um programa de treino bem elaborado.

É Sr. VO2max, parece que temos que investir mais tempo planejando e aplicando treinos que visem melhorar os seus companheiros EC, VP e limiares. Pelo que tudo indica, apesar do Sr. ajudar no desempenho dos atletas de endurance, essas três outras variáveis são mais ‘treináveis’ e, juntas, têm maior parcela de participação na obtenção de melhores resultados.

Pensando, então, em treinamento, assim como já abordamos tempos atrás, nada é tão poderoso como o HIIT.

Quando periodizamos o treinamento de um atleta de endurance (corredor, ciclista, triatleta, nadador), saber planejar sessões de HIIT que atendam às necessidades dele trará benefícios significativos para melhoras do VO2max, da EC, da VP e dos limiares.

Outro ponto importante é o treinamento de força (força máxima e potência). Através dele conseguimos melhorar a velocidade de ativação, de recrutamento e de contração muscular, o que beneficiará, principalmente, a velocidade pico.

Portanto, invista tempo em treinar para melhorar a EC, a VP e os limiares metabólicos, pois os três juntos podem te levar mais rápido até a linha de chegada.

Bons treinos e até a próxima!

Rogério Carvalho

Mestre em estudos do esporte pela EEFE-USP, especialista em treinamento desportivo, treinador certificado pela Ironman University e Head Coach da Endurance Sports Coaching Brasil. Também é triatleta desde 1993 - competiu em todas as distâncias: Ironman (inclusive Porto Seguro 2000), Ironman 70.3, olímpico e short triathlons.

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Rogério Carvalho
Tags: evolução

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