Adoro correr uma prova longa em etapas e, principalmente, dormir no meio do mato. Curtir o acampamento, dividir uma refeição com um amigo que a montanha acaba de apresentar, tomar banho no lago gelado e observar o céu da Patagônia são experiências inesquecíveis. Já corri três edições do El Cruce (2013, 2014 e 2015) e uma do El Origen (2016). Ambas são disputadas nas lindíssimas montanhas da Patagônia e têm duração de três dias. Mas as semelhanças acabam aí.
Em 2013, quando participei do El Cruce pela primeira vez, a prova já estava consagrada no Brasil, mas reunia um número muito menor de participantes. Acompanhei literalmente in loco a sua incrível expansão em três anos consecutivos e o fenômeno de marketing que ela se tornou. E foi justamente isso que acabou por me desanimar.
Nos acampamentos, percebi que as filas estavam cada vez maiores. Fila para ir ao banheiro, para deixar o relógio para recarregar, para descobrir o horário da minha largada ou para retirar uma bebida ou fruta (limitadas a uma unidade apenas) na hora das refeições. Me senti em uma megalópole no meio do mato.
Descobri o El Origen sem querer. Além do custo muito mais acessível, ela oferece duas opções de distância – 100 km ou 50 Km – que podem ser completadas nas categorias solo ou em duplas. Outra diferença é a possibilidade de o corredor optar entre se hospedar em hotéis nos arredores ou utilizar o camping do acampamento base.
Enquanto no Cruce as refeições são sempre as mesmas – churrasco, macarrão, arroz e frutas – no El Origen ela varia a cada dia. Tem a noite do churrasco, da pizza e da massa. O El Origen é totalmente disputado em solo argentino, tendo o capacete como item obrigatório. O Cruce, via de regra, envolve cruzar a fronteira com o Chile.
Se o Sebastián Tagle, diretor do Cruce, é praticamente inacessível, o Mariano Alvarez, diretor do El Origen, é figura onipresente por onde quer que você passe no circuito da prova. E ele também faz questão de participar da festa de encerramento, realizada sempre na noite da última etapa embalada pelo melhor rock argentino.
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Mas, para mim, a grande diferença entre ambas é que enquanto o Cruce tem uma pegada muito mais competitiva, no El Origen prevalece uma atmosfera mais contemplativa. Para quem já correu ambas isso fica muito claro. Pessoalmente, prefiro o perfil mais low profile do El Origen, que reúne, por enquanto, cerca de 400 participantes.