Costumamos pensar que as mais recentes novidades no segmento esportivo estão disponíveis apenas “lá fora”, ou seja, em países como Estados Unidos e da Europa. Mas, a verdade é que, atualmente, não devemos nada aos mais desenvolvidos, pelo menos no que se refere ao que é mostrado em feiras e exposições esportivas. Isto pode parecer estranho em princípio, mas foi o que pude constatar agora no final de janeiro na TriExpo, uma feira voltada para triatletas em San Diego, Califórnia.

Na verdade, tenho participado de algumas dessas feiras no exterior e, cada vez mais, constato que em termos de criatividade ousaria dizer que somos até melhores, afinal, faz parte da nossa necessidade ter que driblar as dificuldades de acesso aos produtos, principalmente por conta das altas taxas de impostos. Porém, compensamos isso investindo em apresentações mais atrativas para os atletas e também facilitando o acesso a um bom número de informações relevantes.      

Nesta feira em San Diego, a TriExpo, apesar das boas palestras e clínicas com grandes nomes do esporte, como Craig Alexander, Chris Lieto e Michaellie Jones, os estandes das marcas nada tinham de muito novo e a disposição dos produtos e informações eram semelhantes às tendas de patrocinadores de qualquer grande corrida ou prova de triathlon no Brasil. Se comparar com a feira do Ironman Brasil, por exemplo, esta se sairia muito melhor. Em Florianópolis há um bom número de novidades, produtos de ponta e informações bem organizadas à disposição de triatletas que costumam vir de mais de 30 países.  

Contudo, meu otimismo brasileiro é bastante reduzido quando a análise vai para outro lado: a estrutura pública que é dedicada aos esportistas lá fora é algo que para nós é apenas sonho. E essa é uma das razões pelas quais modalidades como o triathlon são tão desenvolvidas lá fora – e crescem cada vez mais – com provas, como o Triathlon de Chicago, que chegam a reunir mais de oito mil participantes!

Em uma cidade como San Diego, por exemplo, só não pratica esporte quem realmente não quer. Há áreas bem cuidadas para correr, é relativamente seguro andar de bicicleta pelas ruas e rodovias da região, sem falar no maior respeito aos ciclistas, e há ainda muitas piscinas públicas de qualidade olímpica para o triatleta escolher onde treinar, de graça ou por valores irrisórios como 1 dólar. E isso é comum na maioria das cidades norte-americanas e também européias, onde existe realmente o estímulo público para a inclusão do esporte no dia-a-dia dos cidadãos.

Ser um triatleta aqui no Brasil envolve custos relativamente altos, inevitavelmente, é preciso pagar uma academia para ter uma boa piscina para treinar, pedalar em uma cidade como São Paulo é quase um ato de heroísmo, e mesmo para correr as opções não são as mais adequadas. O Triathlon cresce no Brasil a custa da paixão dos seus praticantes e dedicação de organizadores, que fazem um grande esforço para ampliar a base da modalidade no país. Claro que impostos mais baixos para aquisição de bons equipamentos ajudariam bastante os triatletas nacionais, mas o que mais falta para nós – eu sou um triatleta – é ter uma política pública que realmente privilegie, ou pelo menos incentive, a prática esportiva para o maior número possível de pessoas. Com isso o triathlon – e claro outras modalidades – explodiriam no Brasil, pois o potencial é gigantesco!