Camilo Alves: provas preparatórias para maratona - quais devo fazer?

Atualizado em 24 de abril de 2024

Por: Camilo Alves*

A preparação para uma maratona é uma jornada complexa, que envolve muitos aspectos diversos, tais como: controle nutricional, suplementação, treinamento de força, trabalho psicológico – e o mais importante, a periodização, o controle e organização do treinamento de corrida até a prova (Bompa & Haff, 2012). Nesse sentido, ao longo da periodização, pode-se inserir provas de distâncias intermediárias para servirem como treino ou até teste para a maratona. Se por um lado isso pode ser muito vantajoso, pois são trabalhados diversos aspectos importantíssimos do treinamento, por outro pode ser um problema, pois uma prova em ritmo intenso em hora errada, colocará todo o ciclo a perder.

No ciclo de maratona, cada treinador projeta os treinos longos (aqui pensamos em treinos de quilometragem acima de 12km podendo ir até 34 ou 36 km) de forma própria e é válido dizer que diferentes métodos podem ser bem-sucedidos mesmo que tenham diferenças grandes entre si. No entanto, é consenso que o uso de meias maratonas (21,1 km) devem estar presentes ao longo da periodização (Daniels, 2009). As provas com distâncias similares a 30 km também tem sido frequentes na programação de treinos para os 42 km. É bem possível encaixá-las no calendário de maneira a trazerem grandes benefícios aos atletas, no entanto é necessário saber: Porque, como e principalmente quando devemos usá-las.

Existe um ditado em que se diz: “treino é treino e prova é prova”. Essa frase vem coberta de razão.  Vale dizer que quando o atleta vai fazer uma prova, ele se prepara de maneira muito diferente do que seria um treino, alimentação adequada, sono e planejamento. Além disso, é um ótimo momento para “treinar” a hidratação, suplementação, vestuário e até o tênis que irá usar. Isso tudo é importantíssimo para que no evento principal (a maratona), o atleta não tenha um desconforto estomacal por causa do gel, não use uma roupa que possa lhe trazer assadura ou um tênis que lhe dê bolhas. De maneira mais prática, pode-se dizer que essas provas são essenciais para que o atleta fique cada vez mais habituado com o “ritual pré-prova” e se sinta mais preparado para o grande dia. Além disso, todo maratonista deve se acostumar com a adrenalina que as corridas trazem e que possa controlar sua ansiedade de maneira cada vez melhor, já que a maratona é um evento único que finaliza um árduo e grande longo ciclo.


No que tange ao treinamento, é possível usar as meias e provas de 30 km de diversas maneiras. Alguns treinadores colocam no planejamento dos atletas para que eles façam as provas em ritmo leve, somente para que treinem os aspectos acima descritos. Existe uma outra linha de pensamento que é fazer essas provas em ritmo de maratona (ou pelo menos um bloco da distância total), pois a depender do desempenho do atleta em suportar a intensidade proposta, pode-se fazer projeções para a escolha do ritmo para a maratona. Por fim, existe também os que busquem a quebra do recorde pessoal na distância da meia, mesmo que o treino não seja específico para esta. É interessante dizer que isso de fato acontece muito, pois o treinamento para a maratona oferta uma carga tão intensa de treinos, que muitas vezes o atleta amador pode acabar batendo todos os seus recordes pessoais durante o ciclo.

Como se pode ver, existem muitas alternativas no uso das provas ao longo do ciclo, vale dizer que nem uma escolha parece errada, mas a depender do momento, isso pode trazer graves consequências. Os treinos de longa duração exigem uma recuperação de, no mínimo, 24 a 48 horas de recuperação, a depender da intensidade do treino isso pode se estender por uma semana, duas ou até mais (recuperação entende-se por reequilíbrio hormonal e energético, reestabelecimento das fibras musculares e ativação muscular retomada). Dessa forma, a depender do momento, nem sempre bater o recorde pessoal em uma meia, pode ser uma boa ideia no ciclo da maratona, no que dirá então fazer uma prova de 30 km em alta intensidade.  No período de polimento em que o atleta começa a se sentir cada vez melhor (é um período que as cargas diminuem para que o atleta se recupere), a chance de o atleta exceder-se na intensidade é muito grande. É bem provável então que ele não consiga se recuperar a tempo para o próximo treino e assim o cansaço vai se acumulando, como consequência final, a repercutir na hora da prova principal. Por isso, respeitar a estratégia de ritmo que foi passada pelo treinador é essencial nessa situação. As provas de distâncias intermediárias são importantíssimas para testar acessórios, avaliar o treinamento e fazer projeções para a maratona, entretanto, fazer em ritmo mais intenso que o necessário e na hora errada pode ser muito pior do que não fazer nenhuma prova!

*Camilo Alves é diretor-técnico da RunFun Assessoria Esportiva, ultramaratonista e colunista dos sites Ativo.com e O2 Corre.