Ácido lático: mocinho ou vilão?

Atualizado em 04 de outubro de 2019
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Você já deve ter xingado mentalmente o ácido lático algumas dezenas (ou quem sabe centenas) de vezes, culpando-o por aquela dor chata que aparece depois de uma prova ou treino intenso, fazendo sua perna parecer um pedaço de madeira. Mas ele não é esse vilão que você imagina — pelo menos não totalmente.

1- Nas células musculares

O ácido lático é produzido pelo seu corpo a todo o momento (e não apenas quando você está correndo). Como resultado de sua importante missão de conduzir o oxigênio para as células musculares a fim de produzir energia, os glóbulos vermelhos acabam por produzir também o ácido lático — facilmente “absorvido” pelo organismo no estado de repouso.

2- Bicarbonato de sódio (NaHCO)

No repouso e também em atividades leves/moderadas, o bicarbonato de sódio presente no corpo é o responsável por manter o equilíbrio, pois neutraliza facilmente o acúmulo de íons hidrogênio resultante da produção de energia.

3 – Gordura X Glicose

À medida que aumenta a intensidade do exercício, ocorpo passa a utilizar uma diferente fonte de energia (e é assim que atinge o limiar anaeróbico). Se antes usava preferencialmente a gordura,agora exige a glicose (carboidratos) em maior escala. A glicose, porém, está presente em menor escala em nosso organismo. Para que você não acabe com seu estoque, vem a fadiga, dizendo para diminuir o ritmo. Nesse período o ácido lático começa a correr solto, já que é um dos “subprodutos” do consumo de glicose como energia.

4- Sinal de dor

Quando o bicarbonato de sódio que metaboliza o ácido lático começa a ficar escasso, seu corpo entra em acidose metabólica, que prejudica a contração muscular e limita a duração do exercício, com sintomas de fadiga. Isso se dá porque a energia está sendo formada e consumida numa velocidade muito maior do que aquela capaz de ser mantida em fase estável.

Fibra I x Fibra II

Outra mudança que ocorre ao atingir o limiar anaeróbico é a fibra muscular utilizada. Em cargas leves e moderadas, seu corpo prefere as do tipo I (vermelhas), uma espécie de “motor” que usa principalmente a gordura como energia. Porém, na alta intensidade, quem passa a trabalhar com mais ênfase é a fibra muscular do tipo II (branca), que exige o carboidrato como combustível predominante (produzindo mais ácido lático).

Dividindo o ácido lático

O vilão, portanto, não é o lactato. Ele é utilizado como energia pelas células musculares, além de ser transformado em glicose pelo fígado e, em menor escala, também em energia pelo coração. É o lactato que te dá aquela mãozinha final para continuar correndo apesar de a acidose metabólica.

O lado negro

O lactato virou energia. Já o ácido H+ está lá, circulando na sua corrente sanguínea e precisa ser contido. Para isso, se une ao bicarbonato de sódio, que acaba transformando-o em água e gás carbônico. Mas quando o estoque de bicarbonato de sódio fica escasso, o ácido fica livre na sua corrente sanguínea, causando a dor que todo corredor que testou seus limites conhece.

(Fonte: Raul Santo de Oliveira é educador físico e professor de universidades em São Paulo/Renato Dutra treinador e diretor técnico da Run & Fun Assessoria Esportiva, de São Paulo)