Luis Claudio Antunes/CBCFoto: Luis Claudio Antunes/CBC

Em vez do Velódromo do Rio, Brasileiro de Pista será em Maringá

Atualizado em 10 de outubro de 2016

O Maracanã está reformado e reluzente, mas a final do Campeonato Carioca será disputada num campo de peladas do Aterro do Flamengo. É dessa forma que Claudio Santos, presidente da Federação de Ciclismo do Estado do Rio de Janeiro (FECIERJ), interpreta a decisão do presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), José Vasconcellos, de abrir mão do moderno Velódromo do Parque Olímpico do Rio para realizar o Brasileiro de Pista em Maringá (PR), fazendo uma analogia com o universo do futebol.

O Velódromo Olímpico custou caro (R$ 137,7 milhões, com estouro de R$ 25 milhões do orçamento) e ficou pronto em cima da hora, tanto que nem evento-teste para a Olimpíada recebeu, deixando dirigentes do Comitê Olímpico Internacional (COI) e da União Ciclística Internacional (UCI) de cabelos em pé. Uma vez inaugurado, no entanto, revelou-se uma joia, com projeto de altíssimo padrão muito bem executado e apuro tecnológico avançadíssimo. Nada menos do que 26 recordes, entre mundiais e olímpicos, foram registrados sobre sua impecável pista de pinho siberiano. No entanto, a primitiva pista de Maringá, de cimento e a céu aberto, é que acomodará os grandes nomes do Brasil nas categorias Elite, Sub-23 e do Paraciclismo, a partir da próxima segunda-feira, 10 de outubro, até o dia 14.

“Quando você organiza uma competição dessas, em que as provas são decididas por milésimos de segundo, numa pista a céu aberto, as interferências climáticas exercem um papel indesejável. Uma rajada de vento contrário pode tirar as chances de vitória de um ciclista. No contrarrelógio, um competidor que vá para a pista com sol a pino certamente será prejudicado. Além disso, a pista de Maringá tem rachaduras, vários problemas e não é sequer homologada pela UCI”, dispara Santos.

 

 

Acionado pela assessoria de imprensa da CBC, Vasconcellos se apressou a telefonar para a redação do VO2 Bike para apresentar sua versão. “Após a Olimpíada e a Paralimpíada, existe um prazo para que o Comitê Organizador da Olimpíada retire todo o material colocado nas instalações, que é específico daquela competição. O CO-Rio ainda não entregou o Velódromo para a Prefeitura do Rio”.

O dirigente destaca ainda que a sede do Brasileiro havia sido escolhida antes da realização da Olimpíada, e agora seria impossível alterar o local. “Os atletas já compraram passagens e reservaram acomodações visando a Maringá. Impossível mudar agora.”

Vasconcellos explica também que, quando os ciclistas da seleção brasileira não estão se preparando no exterior, é em Maringá que realizam seus treinamentos.

A quem teme que o Velódromo do Rio vá se transformar num elefante branco, Vasconcellos alega que a CBC está se empenhando para promover uma etapa da Copa do Mundo, talvez em 2018 (calendário de 2017 está definido). Ele diz que existe uma expectativa de que, no atual ciclo olímpico, o Rio sedie o Mundial Júnior ou o Master.

No dia 14, Vasconcellos estará presente numa reunião com dirigentes da UCI, em Doha, no Catar, para apresentar o que ele entende que seria o legado olímpico para o Brasil no ciclismo. “A UCI deseja ver o Velódromo do Rio transformado num centro de treinamento continental, principalmente para os países do Sul do continente (Cone Sul)”. Os países do norte do continente são atendidos por instalações da Colômbia. Cali, aliás, receberá uma das etapas da Copa do Mundo de 2017.

De acordo com Vasconcellos, o Rio pode abrigar uma etapa a partir de 2018 se o calendário for reformulado e estipular que a América do Sul receba duas etapas dessa importante competição.

Quanto à administração do Velódromo, o que se discute entre dirigentes do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), do Ministério do Esporte e da CBC é a criação de uma PPP (parceria público-privada) para explorar as instalações, levando em conta as necessidades de desenvolvimento do ciclismo nacional. Nessa mesa de negociações, um importante ator ainda é desconhecido. Trata-se do representante do próximo prefeito do Rio. Foram para o segundo turno Marcelo Crivella, do PRB, e Marcelo Freixo, do PSol, que tinha apenas dez segundos na propaganda eleitoral na TV e mesmo assim deixou fora da disputa final o candidato da situação, Pedro Paulo (PMDB), que contou com o apoio da máquina da Prefeitura, numa fragorosa derrota do prefeito Eduardo Paes, que pretendia colher frutos nacionais beneficiado pela exposição que a realização dos Jogos Olímpicos em sua cidade lhe proporcionou.