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Jens Voigt: o alemão especialista em “caos”

Atualizado em 29 de novembro de 2016
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Uma das figuras legendárias e mais icônicas do pelotão do World Tour, o alemão Jens Voigt desembarcou no Brasil para prestigiar na segunda-feira (28) o evento de inauguração da Cyclist, nova Concept Store da marca norte-americana Trek, localizada na região do Panamby, na zona sul da capital paulista. Voigt, de 45 anos, defendeu a equipe Trek Factory Racing de 2011 a 2014, ano em que decidiu se aposentar do ciclismo profissional. No evento da Cyclist – segunda Concept Store da marca no Brasil, onde já conta com uma loja na zona oeste de São Paulo, no bairro de Perdizes -, o ciclista alemão bateu um papo descontraído com jornalistas e convidados, no qual falou um pouco de sua carreira e de sua vida após a aposentadoria.

Voigt na nova Concept Store da Trek, no Panamby (SP)

Especialista em fugas, Jens Voigt tinha fama de causar o caos no pelotão com suas escapadas ousadas, mas também era conhecido por sua personalidade e simpatia fora da estrada. Começou sua carreira profissional em 1997, na equipe australiana Giant–Australian Institute of Sport Cycling Team, passando depois pela GAN, SCS e Leopard-Trek.

Em sua trajetória no ciclismo de estrada, seus maiores feitos foram duas vitórias em etapas do Tour de France (uma em 2001 e outra em 2006), tendo vestido nas duas ocasiões a camisa amarela de líder da competição. No ano de 2008, também venceu uma etapa do Giro d’Italia. Dentre seus títulos, destaca-se o tetracampeonato do Critérium Internacional (1999, 2004, 2007 e 2009).

No ciclismo de pista, fez fama ao quebrar do Recorde da Hora em setembro de 2014, usando uma bike Trek Speed Concept, aos 43 anos, pouco antes de sua aposentadoria – recorde que acabou sendo derrubado em outubro do mesmo ano pelo australiano Matthias Brändle. No entanto, ainda detém o recorde de ciclista com mais participações na história do Tour de France, 17 no total, marca que divide com o australiano Stuart O’Grady.

Em cerca de 20 anos de carreira no ciclismo de estrada, Jens Voigt conta que vivenciou muita coisa na evolução do esporte, e considera o manete de câmbio a maior inovação tecnológica experimentada por ele, que chegou a correr com os modelos de bicicletas antigos que eram equipados com a alavanca de câmbio no quadro. Em relação ao esporte em si, ele avalia que o ciclismo se tornou mais rápido, globalizado e glamouroso, mas em contrapartida mais estressante e perigoso para os ciclistas. “Hoje há mais dinheiro em jogo, uma melhor condição para as equipes, mas parece um pouco menos divertido do costumava ser. Há mais dinheiro, mas também muito mais estresse e trabalho envolvido”, afirma. 

Nova Concept Store da Trek, no Panamby (SP)

Nova Concept Store da Trek, no Panamby (SP)

Sobre a aposentadoria, Jens Voigt é enfático ao dizer que não sente a mínima saudade das competições. “Quando me aposentei, disse a meus filhos: se eu falar em voltar a competir, acertem meu joelho. E se seu perguntar por que fizeram isso, acertem o outro (risos). Chega de sofrimento para mim”, declarou o ciclista, calculando que em toda sua carreira pedalou o equivalente a 875 mil quilômetros, uma distância que daria para viajar até a Lua, ida e volta, e com sobra. “Ao todo, levei cerca de 120 pontos na minha pele, quebrei onze ossos e tenho 25 parafusos no meu corpo. Foi brilhante o tempo que passei lá, mas definitivamente não sinto falta de competir. Sinto falta da boa condição física, de me sentir forte, capaz de conquistar o mundo”. Voigt diz que ainda pedala por diversão quando encontra tempo, mas não como fazia antes, porque não consegue mais ter uma rotina normal que lhe permita pedalar todos os dias. Como viaja muito, conta que costuma levar um par de tênis para poder correr e se exercitar, já que carregar a bicicleta nas viagens fica difícil por conta da logística.

Quando perguntado sobre qual teria sido a conquista mais importante de sua carreira, se a quebra do Recorde da Hora ou as vitórias no Tour de France, o ciclista reconhece que cada conquista teve sua importância em diferentes momentos. “A primeira vitória no Tour de France (2001) definitivamente mudou minha carreira. Antes dela eu era apenas o cara louco das fugas”, diz Voigt, lembrando que na época recebeu os cumprimentos de nomes como o italiano Mario Cipollini (vencedor de 12 etapas do Tour em sua carreira e campeão mundial de estrada em 2002). Já o Recorde da Hora, relembra ele, veio coroar o final de sua carreira. “Eu tinha 43 anos, sabia que meu corpo não era tão forte como antes, e minha temporada não tinha sido das melhores. Então, quando consegui surpreender os fãs ao bater o recorde, foi um final feliz. Eu poderia ter um contrato por mais dois anos, mas não queria terminar minha carreira de outra forma. Sou muito feliz por ela ter acabado assim”, finalizou o ciclista, que hoje ainda continua envolvido com a equipe da Trek nos bastidores, além de colaborar com a marca no desenvolvimento de novos produtos.