JB JuniorFoto: JB Junior

Pedala em SP? Então corre o risco de receber por isso!

Atualizado em 20 de setembro de 2016

O cidadão que contribui, fazendo uso do transporte ativo, para desafogar o trânsito, abrindo mão do carro ou do transporte público, deve ser recompensado financeiramente na cidade de São Paulo. Esse é um princípio defendido pelo gabinete do vereador José Police Neto (PSD-SP), que redigiu o PL 147/2016. Uma das finalidades daquele texto era a criação do Cartão do Ciclista.

A Prefeitura Municipal elaborou um Substitutivo ao PL, que renomeou o benefício, agora chamado de Bilhete Mobilidade. Com os votos governistas, a perspectiva é que o projeto seja aprovado até o fim do ano e entre em vigor no dia 1º de janeiro de 2017.

Police estima que a prefeitura pode oferecer de R$ 4 a R$ 8 diários. Os valores seriam creditados nesse cartão, um parente do Bilhete Único, e poderiam ser utilizados numa rede conveniada para a manutenção da própria bike, para utilização no transporte público, para locomoção por meio de táxi ou Uber….

Os recursos sairiam dos cofres da Prefeitura. Mas não seria nenhuma concessão: antes, uma contrapartida. Como a Prefeitura subsidia o Transporte Público, no valor de R$ 1,91 a cada vez que um Bilhete Único toca o sensor de uma catraca, nada mais justo do que transferir um certo valor a quem vai tornar os ônibus e vagões mais vazios por fazer uso da bicicleta. Ademais, os técnicos encarregados dos números e do orçamento da Prefeitura só abraçaram o projeto porque, caso vire mesmo lei, ele tornará esses mesmos números mais azuis.

A reportagem da VO2 Bike se deslocou (de bicicleta, é claro), até o Palácio Anchieta, a casa legislativa paulistana, para entrevistar Police sobre essa novidade (em São Paulo, porque esse tipo de benefício é realidade em cidades europeias, como Paris, há um bom tempo).

O gabinete, que tem um janelão voltado para a Praça da Bandeira, apresenta, em um canto, pequenas bikes decorativas sobre um frigobar. O parlamentar do PSD (partido de Gilberto Kassab) diz que começou a se deslocar em bicicleta ainda nos tempos em que estudava em Campo Belo, de onde pedalava em direção a Moema (e vice-versa), onde reside até hoje.

O hábito foi mantido entre 92 e 94, período em que Police residiu em Alexandria e estudou estatística aplicada a ciências sociais em Washington. Depois de alguns anos de sedentarismo, o político abriu mão do carro oficial e botou a bike na rua, para se deslocar de Moema até o Palácio Anchieta. Ele diz que os oito policiais militares encarregados de sua segurança, efetivo ao qual fazia jus por ser Presidente da Câmara, perderam, juntos, 150 quilos, porque também foram obrigados a pedalar para acompanhá-lo.

Entre CPIs, sessões plenárias e negociações, Police foi entrando em contato com figuras como Andrés Felipe Jara Moreno, especializado em mobilidade sustentável e desenvolvimento urbano, e Enrique Peñalosa, atual prefeito de Bogotá (exerceu esse cargo antes no período 98-2001). Colombianos com grandes trabalhos no currículo, ambos com experiências bem sucedidas na implantação de projetos tendo a bike como modal de transporte urbano, Jara e Peñalosa ajudaram a oferecer subsídios que resultaram depois na implantação da ciclofaixa em São Paulo e em sistemas de compartilhamento de bicicletas patrocinados por grandes bancos.

 

 

“Bogotá é um bom modelo para São Paulo. Lá eles implantaram projetos ligados à bike que não foram voos de galinha. É uma cidade situada numa região não plana, com 9 milhões de habitantes, que já foi “supercarrodependente” e que tem um sistema de transporte coletivo deficitário e não muito abrangente. Ou seja: tem muitas similitudes com São Paulo”.

Aos poucos, Police quer ver superado o debate que associa as bikes às cores de partidos políticos. Esse tipo de visão alimenta comentários desarrazoados, atrelados a notícias sobre seu projeto e sobre o substitutivo da Prefeitura em sites de velhas instituições como o do jornal O Estado de S. Paulo.

“Na cabeça de algumas pessoas, não pode haver bike na rua. Queremos vencer desafios. Queremos que o “carrodependente” olhe um ciclista com simpatia, e conclua que a pessoa que se desloca de bike significa um carro a menos no viário urbano”.

Antes de que uma parcela majoritária daqueles que hoje postam comentários raivosos se convença, Police continuará a tirar sua bicicleta do paraciclo da Câmara e colocá-la no asfalto, por muitos e muitos dias. É o que muita gente tem feito. A marcha é irreversível, gostem ou não.