Sente dor no tornozelo ao pedalar?

Atualizado em 19 de abril de 2017
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Depois do joelho, uma das articulações mais exigidas durante o movimento de pedalar é a do tornozelo, onde se localiza o tendão calcâneo, popularmente conhecido como tendão de Aquiles. Trata-se do tendão mais resistente do corpo humano, que suporta as maiores cargas, contudo não é raro lesioná-lo na prática do ciclismo. O tipo de lesão mais comum no caso é a tendinite, inflamação aguda que pode ser ocasionada por movimentos repetitivos e excessivos, encurtamento da musculatura ou mau ajuste do ciclista na bicicleta. Caso não seja tratada adequadamente, a tendinite pode evoluir para uma tendinopatia, quando o quadro se torna crônico e há comprometimento da função. Para saber mais sobre a dor no tornozelo ao pedalar, conversamos com o médico ortopedista Moisés Cohen, chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte.

O QUE É

A tendinite é uma lesão caracterizada pela inflamação aguda do tendão, o que causa inchaço e dores no local. Caso não seja tratada adequadamente, pode evoluir para uma tendinopatia, quando a dor se torna crônica e o nervo apresenta em sua estrutura alguma alteração que compromete sua função, limitando o movimento. O tendão é um tecido que prende o músculo ao osso, porém é menos elástico e pouco vascularizado, o que faz com que receba pouco oxigênio, tornando a cicatrização de uma eventual lesão mais difícil. Também conhecido como tendão de Aquiles, o tendão calcâneo liga a musculatura da panturrilha (batata da perna) à região óssea do calcanhar e é considerado o mais resistente do corpo humano.

CAUSAS

Na grande maioria das vezes, as tendinites do calcâneo são causadas por sobrecarga, provocada por movimentos repetitivos e excessivos, acompanhados em geral por encurtamento da musculatura da panturrilha. No caso do ciclismo, o movimento repetitivo ao pedalar e a altura inadequada do selim em relação aos pedais podem provocar maior sobrecarga no tendão calcâneo e, consequentemente, uma inflamação. O aumento na quantidade ou intensidade dos treinos, o retorno intenso após um período de folga e treinos excessivos em subida também podem ocasionar a lesão.

 

 

DIAGNÓSTICO

O principal sintoma da tendinite calcânea é a dor. Inicialmente é sentida logo após o esforço, mas com o agravamento pode ocorrer durante a atividade física ou mesmo ao caminhar. Pode ser percebida também apalpando a parte mais baixa do tendão (de 3 a 5 cm acima de sua inserção óssea), pela ocorrência de edema (aumento de volume do tendão), limitação dos movimentos e dificuldade em ficar nas pontas dos pés. A ultrassonografia é o exame complementar mais utilizado no diagnóstico clínico, porém a ressonância magnética pode ser requisitada para uma avaliação mais detalhada.

TRATAMENTO

O tratamento consiste basicamente em repouso relativo, afastamento temporário das atividades físicas, uso de anti-inflamatórios e analgésicos, crioterapia (aplicação de gelo no local por 20 minutos cerca de três vezes ao dia) e reabilitação de fisioterapia com medidas analgésicas e cinesioterapia (exercícios para alongamentos específicos). Nos casos crônicos, nos quais não há melhora ou ocorre aumento súbito da dor durante a atividade esportiva, com ruptura total do tendão de Aquiles, é indicado o tratamento cirúrgico — o que é não comum, pois a maioria dos casos é resolvida com o tratamento clínico adequado.

PREVENÇÃO 

Para evitar o problema, o recomendado é aumentar a quantidade e a intensidade dos treinos gradualmente, obedecer ao tempo de descanso necessário ao esforço despendido no exercício, fazer um bike fit para o correto ajuste da bicicleta e realizar exercícios de alongamento e fortalecimento da musculatura local. A seguir, o fisioterapeuta e especialista em bike fit Fernando Rianho sugere alguns exercícios que podem auxiliar na prevenção.

 

Fortalecimento 

Os exercícios de fortalecimento devem ser realizados em três séries de 15 repetições para cada membro inferior.

 

Mantenha-se sentado com uma perna flexionada e a outra em extensão. Apoie uma faixa elástica (tipo “Thera-band”) na região da cabeça dos metatarsos (bola dos pés) e segure-a com as mãos, mantendo a flexão dorsal do pé. De forma controlada, realize a flexão plantar do pé, intercalada com a flexão dorsal, mantendo a faixa esticada com as mãos.

 

Em pé, apoie as mãos na parede ou em uma cadeira e mantenha os pés no chão. Com os joelhos em extensão, realize de forma controlada a flexão plantar dos pés até ficar apenas na ponta dos pés. Depois volte à posição inicial até apoiar os pés no chão. Esse exercício pode ser realizado com uma perna de cada vez, intercalando os membros inferiores. Caso o exercício esteja fácil, pode-se segurar um halter em uma das mãos durante o movimento.

 

 

Alongamento

Os alongamentos podem ser realizados em três séries de 30 segundos cada, com intervalo de 30 segundos entre elas. Deve-se sentir a musculatura alongar, tendo cuidado para não ir além do limite e correr o risco de lesionar-se.

 

Em um step ou degrau, mantenha a região da cabeça dos metatarsos (bola localizada nos pés abaixo do dedão) apoiada e o calcanhar para fora do degrau. Deixe o calcanhar abaixar com o peso do corpo mantendo a extensão completa do joelho e flexão dorsal do tornozelo. Esse alongamento pode ser realizado apoiando os dois pés ao mesmo tempo ou de forma unilateral, mantendo a outra perna com o joelho dobrado.

 

 

Utilize a parede para escorar as mãos e mantenha a perna a ser alongada com extensão total do joelho e o pé completamente apoiado no chão. A perna oposta deve estar à frente do corpo, com o joelho flexionado e apontado em direção à parede.