Por Daniel Balsa

Quase todos amantes de ciclismo sonham em um dia disputar, ao menos, uma etapa do Tour de France. Este é um sonho muito distante, inclusive para os profissionais. As equipes, geralmente, contém entre 25 e 30 ciclistas contratados, mas só podem inscrever nove para esta prova.

Ou seja: só a nata do esporte compete no Tour, mas agora todos os ciclistas têm a oportunidade de pedalar no mesmo trajeto e mesmo dia de uma etapa da tradicional prova francesa.

Há 15 anos a organização do Tour de France criou o L´etape du Tour, quando ciclistas do mundo todo têm e oportunidade de transpor o mesmo desafio das feras que disputam a competição mais desejada do ciclismo de estrada mundial.

Neste ano, o L’etape du Tour foi realizado no mesmo local da 15ª etapa do Tour de France 2007, entre Foix e Loudenvielle, com 196 km e cinco montanhas – sendo uma fora de categoria – durante o percurso nos Pirineus.

Cerca de 7 mil ciclistas disputaram a prova, sendo 14 brasileiros. Onze deles estiveram no grupo de 4.359 que concluíram o percurso, considerado o mais difícil de todo o Tour de France – cinco competidores não resistiram às montanhas desta etapa e abandonaram a prova francesa.

Em 2008, o L’etape du Tour deverá se disputado nos Alpes, com inscrições limitadas. A Anderson Bicicletas e a Kamel Turismo são as responsáveis por levar os ciclistas brasileiros até à França, com o custo de viagem girando em torno de R$ 6.500.

Confira abaixo o depoimento de Thiago Pontes, brasileiro que terminou o L’etape du Tour em 11 horas.

"Um dia único em minha vida”

“Depois de sete meses intensos de treinamento, mais de 6 mil km percorridos, cheguei ao L´etape du Tour 2007 certo que teria um grande desafio pela frente. Mas jamais poderia imaginar que seria algo tão grandioso, tão desafiador, tão difícil e tão emocionante.

Os primeiros cem quilômetros foram feitos em quatro horas e estava certo de que faria a prova em um belo tempo, mas até então, havia percorrido só as duas primeiras montanhas (Col de Port – 11,4 km com 5,3% de inclinação – e o Col de Portet d´Aspet – 5,7 km com 6,9% de inclinação). Nos últimos 2 km do Portet d´Aspet, caí na real de que teria alguns quilômetros de sofrimento pela frente.

O topo desta montanha parecia uma zona de guerra, com pessoas vomitando, desmaiando, deitadas no chão e lutando para pegar água gelada – uma vez que o calor se aproximava dos 40°C.

Durante toda a prova, existiam três postos de abastecimento com sanduíches, bebidas, frutas e etc. Porém os postos de abastecimento, principalmente os dois últimos, eram sempre no topo das montanhas (Col de Mente – 7 km com 8,1% de inclinação – e Port de Balés – 19,2 km com 6,2% de inclinação), só que para se escalar estas montanhas, principalmente a Port de Balés, se levava em torno de duas horas, depois de cinco ou seis horas de pedal.

Logo, o meu principal adversário foi a fome, no meio da Port de Balés, não agüentava mais de tanta fome, quando parei em um trailer de uma família, que já estava lá para ver o Tour, implorei por um pedaço de comida, até que me deram metade de tomate com sal e iogurtes. Além de agradecido, fiquei emocionado com a alegria com que aquele povo recepciona os ciclistas, mesmo que amadores.

Consegui completar a etapa mais difícil do Tour de France em pouco mais de 11 horas e posso falar com segurança que foi um dos momentos mais especiais de minha vida, quando me aproximei da linha de chegada e vi que, depois de tanto sofrimento, havia cumprido um dos grandes objetivos da minha vida como ciclista.

Pretendo voltar ao L´etape nos próximos anos com algumas lições tiradas deste ano para melhorar o meu desempenho, mas com certeza é uma experiência que todos os ciclistas devem passar, pois poucas coisas no mundo se comparam a tal emoção de competir e completar.

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