Ciclovia Rio Pinheiros: SP tem local de treino reduzido às vésperas do Ironman 70.3

Atualizado em 06 de novembro de 2019
Mais em Ciclismo

Principal local de treino de ciclismo da cidade de São Paulo, a Ciclovia Rio Pinheiros foi parcialmente interditada às vésperas da capital receber uma competição da franquia Ironman pela primeira vez. A área entre as pontes Cidade Universitária e Jaguaré foi fechada no fim de outubro, a 15 dias da competição, e deve permanecer assim até a última semana de novembro.

O trecho de aproximadamente 2,5 km foi interditado em 25 de outubro para a realização de obras da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMEA) nas margens do Rio Pinheiros – a obra não é feita na ciclovia, mas a EMEA utiliza a pista para o armazenamento e manipulação de materiais e o tráfego de tratores e outros veículos pesados.

A expectativa é que a pista seja liberada apenas em 25 de novembro, aproximadamente duas semanas após o Ironman 70.3 de São Paulo, anunciado em março e que teve todas suas inscrições vendidas em menos de uma semana. A prova, com 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21 km de corrida, será realizada em 10 de novembro.

Com isso, os atletas, que costumam rodar dezenas de km por dia de treino, acabam concentrados em um trecho de aproximadamente 5 km de pista simples em cada sentido, o que aumenta o risco de colisões, sobretudo em manobras de ultrapassagem. A má conservação da pista, o tráfego de carros de serviço da CPTM, e a presença no local de fezes das capivaras que vivem no Rio Pinheiros são outros agravantes.

“Está impossível de pedalar em horário de pico, não dá para treinar. Fica bem difícil e bem perigoso”, diz Guilherme Gil, triatleta e treinador da assessoria esportiva Santiago Ascenço. “Como São Paulo não tem nenhum outro local para se pedalar, a ciclovia começou a ficar muito cheia. E com a interdição, aglomerou cada vez mais ciclistas dentro de um espaço muito pequeno. Então o que mais nos afeta é o risco de acidente. Se você for lá, todo dia tem acidente”, completa.

A Ciclovia Rio Pinheiros foi adotada como local de treinamento por ciclistas e triatletas amadores e profissionais nos últimos anos – a estrutura tem pequeno número de acessos, pouca conectividade com o sistema viário e um horário de funcionamento restrito, fatores que dificultam seu uso como solução de mobilidade.

O número de frequentadores do local cresceu depois que a USP restringiu o horário e os dias permitidos para o treino de ciclismo na Cidade Universitária – terças, quintas e sábados, das 4h30 às 6h30 – assim como a proximidade do Ironman 70.3 São Paulo, primeira prova da milionária franquia na maior cidade do País.

Segundo a CPTM, no entanto, o uso esportivo do local é proibido, já que a velocidade máxima é de 20 km/h e se trata de uma “alternativa de lazer e deslocamento para os moradores da capital”.

Placa indicativa de velocidade na Ciclovia Rio Pinheiros

Com uma pista simples para cada lado, a Ciclovia Rio Pinheiros tem uma das faixas destinada a carros e limite de velocidade maior para veículos do que para bicicletas

Os acidentes após a interdição já tiraram, inclusive, inscritos na prova deste domingo. Um atleta que treina com a equipe de Guilherme Gil, por exemplo, colidiu com uma Kombi de serviço da CPTM parada na pista, sofreu fratura nas costelas e não poderá participar da prova.

Nos fins de semana, quando crescem o número de atletas e o de ciclistas utilizando a área para passeio, problemas são ainda mais frequentes. Para evitar casos similares, muitos atletas têm recorrido a treinos indoor.

De acordo com a CPTM, cerca de 2 mil pessoas utilizam o local aos sábados e 2,5 mil aos domingos. Nos dias úteis, são aproximadamente mil usuários.

A Ciclovia Rio Pinheiros foi interditada para reparos nos taludes da margem leste do Rio Pinheiros, em frente à estação Cidade Universitária da CPTM. Segundo a EMEA, o conserto precisava ser feito antes do período chuvoso para prevenir escorregamentos. Questionada se a disputa do Ironman 70.3 em São Paulo foi levada em conta para a definição do cronograma de obras, a empresa disse apenas que “o evento não é realizado na ciclovia”.

Já a CPTM, gestora do espaço, informou que a interrupção do tráfego de ciclistas é uma medida de segurança, já que no local serão utilizados máquinas e equipamentos pesados na execução dos serviços.

Apesar de frequentadores do local relatarem diversos casos de acidentes, segundo a empresa houve apenas um desde a interdição do trecho final da pista, justamente o do atleta treinado por Guilherme Gil e ele “foi causado por excesso de velocidade do ciclista que bateu de frente com um veículo estacionado na pista destinada à circulação de veículos” – mesmo com o local tendo apenas uma pista simples para cada sentido, a CPTM ressalta que uma delas é destinada para carros.

“A diminuição de locais e horários adequados para treinar ciclismo vem dificultando muito o nosso trabalho. Os poucos locais que temos estão a cada dia mais cheios e perigosos e as opções para iniciantes desenvolverem uma técnica básica antes de irem para treinos mais longos e exigentes quase não existem dentro da cidade”, lamenta Lucas Cintra, treinador da assessoria esportiva Deluka.

A Ciclovia Rio Pinheiros tem, no total, 21,5 km, mas grande parte está interditada desde 2013 para a realização de obras da Linha 17 – Ouro do Metrô (monotrilho). Os trabalhos deveriam durar dois anos, mas ainda não há previsão de liberação do trecho.