André MotaFoto: André Mota

42k de Floripa: uma estreia para ficar na memória

Atualizado em 31 de julho de 2018
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Junho de 2018. Florianópolis. Cruzo a linha de chegada da maratona 42k de Floripa e não contenho a emoção. Aos prantos, abraço amigos, desconhecidos e ligo imediatamente para a minha família, que me acompanhou e sofreu comigo in loco nove meses antes.

No caso, em setembro de 2017. Buenos Aires. Estava na cama de um hospital público da capital argentina após terminar a meia-maratona com hipotermia e hipoglicemia causadas por um erro no planejamento para a prova.

Correr a minha primeira maratona foi certamente uma das melhores sensações que já vivenciei. Ainda mais pelo gostinho de superação depois da experiência negativa da minha terceira prova de 21 km. 

Na busca pelo tal do RP, desafiei os meus limites e paguei caro por isso. Consegui fazer o “minuto a menos” desejado, mas não tive forças nem para buscar a medalha. Voltei para o Brasil de mãos vazias.

Após Buenos Aires, foram meses complicados. Primeiro, uma bateria de exames. Tudo o.k., menos mal. Tentei seguir adiante, mas os treinos não encaixavam.

Foram longas semanas sem conseguir correr 10 km. Ou 8. Ou 7… “Tênis apertado”, “pé formigando”, “dores musculares” estavam entre as desculpas, mas o problema estava mais para cima: na cabeça. O psicológico tinha sido muito afetado e era preciso recomeçar.

 42K de Floripa

Em fevereiro, procurei um treinador: Julio Dotti, da Limite Team. Ele me passou confiança e ensinou a fazer um planejamento passo a passo, treino a treino, semana a semana. Péssimo para um cara metódico que gosta de programar o que estará fazendo daqui a 15 anos. Mas acatei. E os resultados foram aparecendo. Treinos de fortalecimento, variação de ritmo, tiros…

A maratona virou uma realidade, coloquei como ideia fixa. Entre março e maio me preparei como nunca para os 42k de Floripa. A prova era perfeita: rápida, plana e com o belo visual da capital catarinense. Além disso, a primeira maratona da O2. Melhor, impossível!

 

 

Foram meses sem futebol, sem pastel de feira, sem pequenos prazeres da vida. Sem sair com os amigos na sexta e muitas vezes no sábado. O longão, de dramático, virou o melhor momento da semana. Acordar às 5h30 em um sábado e correr 30 km? Claro que sim. Voltava para casa com um sorriso no rosto e com o café da manhã.

O tempo passou voando, ansiedade batendo forte. Na noite anterior, o filme 100 Metros, que conta a história de um espanhol que superou a esclerose múltipla para fazer um Ironman, ajudou a encontrar uma motivação final. As condições eram perfeitas para a maratona: 14°C, sol, paisagem de tirar o fôlego e animação geral dos corredores.

Dada a largada, no primeiro quilômetro, a emoção tomou conta ao me lembrar da preparação e das pessoas que torciam por mim. Mas eu ainda tinha 41 km pela frente. Encontrei o meu ritmo e consegui mantê-lo por 70% da prova. O objetivo de sub-4h era uma realidade.

 42K de Floripa

Dois companheiros de corrida e do trabalho me acompanham por quase todo o percurso. Até o forte e inesperado vento sul, que mostrou a sua força entre os km 25 e 30, não foi obstáculo. Mas no 35, as pernas travaram e quase me tiraram da prova. Parei, respirei, me hidratei, reunindo as forças necessárias para seguir.

Pensava o tempo todo no meu filho de 4 anos e na medalha que entregaria para ele. O ritmo, aos poucos, foi voltando. Os últimos quilômetros foram sofridos, muito difíceis, mas o incentivo dos torcedores e competidores que já haviam terminado a prova foi o impulso final para fechar em 4h08min. O tempo: um pouco acima do previsto. E daí? Dane-se o tempo. A emoção de estar com a medalha do peito é única.

Sensação de dever cumprido. Dois dias de recuperação e já estava calçando o tênis de novo, correndo atrás de novos sonhos, novas histórias para contar e, claro, uma nova maratona.