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Danilo Balu: nadando contra a corrente

Atualizado em 15 de outubro de 2019
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Danilo Balu é corredor, treinador, escritor, bacharel em esportes pela USP — mais cinco anos de nutrição na mesma Universidade de São Paulo —, trabalhou com marketing numa grande empresa de tênis para corrida… Só não é polêmico. Na verdade, é e muito (e, provavelmente, essa seja a principal razão desta entrevista), mas ele não gosta do adjetivo. Prefere contestador ou questionador.

A diferença entre Balu e boa parte dos “contestadores de plantão”, no entanto, é que ele vai fundo em suas crenças. Para prová-las, ou pelo menos defendê-las, Danilo, aos 41 anos, já está no seu terceiro livro envolvendo alimentação e treinamento para corrida: O nutricionista clandestino (2015), O treinador clandestino (2016) e, o mais recente, Correndo com os etíopes (2019).

Neles, ele coloca abaixo vários “dogmas” da alimentação e do treinamento: carboidratos são essenciais, gordura engorda e faz mal, tênis amortecem o impacto, as contradições da musculação, jejum faz bem e por aí vai.

Entrevista com Danilo Balu

Você tem feito muitas críticas aos nutricionistas. Qual a razão?

Acho que tem um pouco de corporativismo. Você só pode falar mal das teorias da nutrição se for nutricionista também, se tiver muitos diplomas. Uma das minhas críticas é que a base das diretrizes nutricionais, no que diz respeito à saúde e ao emagrecimento, não é nada baseada em ciência. São fundadas em teorias nunca testadas e/ou nunca aprovadas.

A ortodoxia da nutrição no que diz respeito a emagrecimento e saúde é muito mal elaborada, um completo “puxadinho”, não passa de um conjunto de teorias.

Você se refere muito à não essencialidade do carboidrato…

Minhas maiores divergências são duas: quanto à ideia de que o carboidrato deveria ser a base de nossa alimentação quando se fala em porcentagem calórica da obtenção da energia; e quanto ao balanço calórico. Olhar o balanço calórico (consumo de calorias versus gasto de calorias) como uma das causas para engordar ou emagrecer é uma das teorias jamais colocadas à prova.

Não é uma visão original minha. Não direi que minha dieta hoje é baseada no Gary Taubes (jornalista científico norte-americano que tem questionado “dogmas” alimentares), mas foi ele quem abriu minha visão para a nutrição.

Minha dieta pessoal é muito baseada nos princípios do low carb — ou seja, o carboidrato é o nutriente de menor aporte — e também nos princípios da dieta paleolítica: tentar comer comida de verdade, alimentos menos processados, que a gente “encontra na natureza”. Eu defendo, prego e pratico uma dieta low carb e paleolítica.

A teoria, então, de que se você consumir 1.000 calorias e gastar 1.500 emagrecerá é furada?

 A ideia de uma dieta hipocalórica emagrecedora tem um histórico tão grande de fracassos que só é defendida por acadêmicos. Esse tipo de dieta funciona tão mal e por tão pouco tempo que não faz sentido defendê-la como diretriz. Quando dietas hipocalóricas funcionam, entre outras coisas, é porque existe uma grande redução de carboidratos — mas se prega a redução de gorduras. A gordura não processada dos alimentos (a gordura natural do abacate, de qualquer tipo de carne, das castanhas, do coco) não tem como fazer mal porque é da dieta humana há milhões de anos.

Fritura faz mal?

Depende. A fritura é alimento processado. Os óleos vegetais (milho, soja, canola etc.) são produzidos a partir de um processo extremamente industrializado. Mas uma omelete frita em azeite — que é vegetal, mas distinto, pois é uma compressão das azeitonas — em fogo baixo seria um prato que eu, Danilo Balu, comeria sem restrição, dez ovos por dia, por 30 dias, sem peso algum na consciência. Na manteiga, na banha ou em óleo de coco, também. Já a mesma refeição frita em outros óleos vegetais, eu não faria porque esses óleos são muito pró-inflamatórios e ultraprocessados.

Você consome carboidratos?

Consumo por prazer. Quem não gosta de tapioca? Eu adoro milk shake como qualquer pessoa. O ser humano biologicamente tem esse prazer com o açúcar, com o carboidrato, o amido.

 Normalmente consumo o carboidrato que vem das folhas, dos legumes e, eventualmente, de algumas frutas. Mas posso comer uma feijoada e não acredito que ela me faça mal. Mas se uma pessoa está obesa, precisa perder 30 kg, com pré-diabetes, direi para ela não comer feijão até sair desse estado.

Feijão, é bom que se lembre, é fonte de carboidrato, embora possua também proteína. Considerar o feijão uma fonte de proteína, aliás, é delírio da nutrição.

A corrida emagrece?

Eu diria que a proporção para emagrecer fica em 85% “fechar a boca” e 15% correr. E já achei que esses 15% eram muito mais psicológicos. Hoje tendo a crer que sejam fisiológicos também.

Correr cria hábitos saudáveis, coloca uma rotina benéfica — esses são todos fatores psicológicos doComo emagrecer com a corrida: passo a passo. Quer dizer, os fatores fisiológicos da corrida em si representam bem menos do que 15% — a corrida é uma ferramenta muito ineficiente para o emagrecimento. Mas ajuda a mudar os hábitos.

O que você pensa do jejum?

Assim como a atividade física, o jejum deveria ser uma prática para todo ser humano, de forma geral. Ainda que não quisesse emagrecer, ou fazer algum tipo de dieta, o jejum deveria ser rotineiro.

Entre vários aspectos positivos, o jejum melhora a sensibilidade à insulina e sabemos que um corpo mais sensível à insulina é mais saudável. E nem dieta, qualquer que seja, ou remédios aumentam essa sensibilidade como o jejum.

Qual é o intervalo mínimo para ser considerado jejum?

O jejum normal do ser humano fica por volta de oito horas, que é quando estamos dormindo. Não existe uma régua, mas considero que estamos falando de intervalos maiores do que dez horas. Quer dizer, fui dormir às 22h, só comeria depois das 8h do dia seguinte. E, além do jejum diário de 10 a 12 horas, recomendo aos meus clientes que estabeleçam uma meta semanal de um jejum de 16 a 24 horas, que basicamente significa pular um jantar ou café da manhã por semana.

E a corrida em jejum?

Não acho melhor nem pior, mas seguro. A pessoa pode fazer exercício em jejum desde que se adapte. Uma pessoa, para se considerar bem treinada, deve estar apta a fazer algum tipo de atividade em jejum.

Correr em jejum queima mais gordura?

Sim, pelo menos em curto prazo, ou seja, no momento do treino. Porque você tem de tirar energia da gordura. E vai queimar mais. Mas uma hora correndo leve em jejum não emagrece. Mesmo ao longo de três meses, essa queima de gordura não fará diferença alguma. No final do processo, não estarei mais magro.

É verdade que, se você não tiver reserva de carboidrato no corpo durante o exercício, perderá massa muscular?

Outra lenda. Músculo, depois do cérebro, é o tecido mais nobre do ser humano. Se há uma enorme restrição alimentar, uma crise, uma guerra, a pessoa passa a queimar gordura, depois, então, ela consumirá músculo. Mas isso apenas em situações extremas.

O corpo preserva a massa muscular de um jeito muito radical. Não faz sentido algum o corpo abrir mão do músculo se você correr alguns minutos ou mesmo algumas horas.

A energia preferida é o carboidrato. Ainda assim, acabou o treino, corri, esgotei todas as minhas reservas de carboidrato, essas reservas podem ser reabastecidas. Por que não aconteceria o mesmo com os músculos?

Tênis de corrida previne lesão?

Não. O tênis de corrida surgiu na segunda metade da década de 1970. Quando um novo nicho é criado, as pessoas consomem. Mas o perfil de lesões de lá para cá não diminuiu nada, a porcentagem de incidência de lesões continua a mesma.

Ano após ano, a cada coleção, a cada seis meses, as empresas lançam modelos “mais evoluídos” do que na anterior. Mais responsivo, mais isso, mais aquilo… Mas, se cada novo modelo fosse realmente melhor, as pessoas se machucariam muito menos. O gesto da corrida é muito agressivo ao corpo. E a gente sabe que os tênis não aliviam essa carga de impacto.

O melhor sistema de amortecimento é o próprio aparelho musculoesquelético. Pés, pernas, músculos amortecem impacto, mas o tênis é praticamente inútil para isso. Se um tênis conseguisse amortecer 10% na carga, por exemplo, por que não anunciaria isso para o consumidor? Se é que amortece alguma coisa, é um valor tão irrisório que ninguém seria convencido a comprar por causa dessa informação.

Amortecimento ajuda uma pessoa com sobrepeso?

Não. O cara parou de correr por seis meses e engordou 20 kg, pesava 80 e foi para 100, e acha que não deve correr porque os 20 kg extras vão machucar. Não é verdade. O cara que está com 100 kg vai correr menos tempo, uma distância menor e numa velocidade mais lenta. O que machuca esse cara é ter ficado seis meses em sedentarismo. Sem exigir do corpo, ele perdeu massa muscular, o maior amortecedor do corpo humano.

Na literatura, o sobrepeso não é um agravante, é protetor do corredor. Grupos de atletas mais magros se machucam mais do que os mais gordos. Entre outras coisas, porque o corredor mais pesado corre lentamente. A carga de impacto é em função da velocidade, nada a ver com o peso. Quanto mais rápido a pessoa corre, mais alta é a carga do impacto.

Como você vê a questão do tipo de pisada?

 Acho engraçado quando escuto que “cada um é cada um”. Ninguém corre com os cotovelos ou os joelhos no chão. Existe um padrão de corrida. Quando alguém corre atrás do ônibus para chegar ao ponto, essa pessoa está correndo, não está virando cambalhota. Não existe “cada um é cada um”.

O corpo tem um padrão de movimento. Você corre alternando perna direita e braço esquerdo à frente, perna esquerda e braço direito à frente. Existem, sim, estilos diferentes, que nada mais são do que a variação individual da técnica. Algumas pessoas correm mais com o calcanhar, ou com a entrada do pé, ou mais na ponta do pé.

E essas variações não necessitam de correção?

Correr é o gesto mais instintivo do ser humano. O que acontece hoje é que muita gente chega aos 30 ou 40 anos sem nunca ter feito esporte, ou ter feito muito pouco. E aí vai correr, sedentário, sem fazer o gesto da corrida. Algumas pequenas observações no gesto são bem-vindas. Mas posso dizer que um cara ser pronado ou supinado é a mesma coisa que ser ruivo ou moreno, destro ou canhoto, baixo ou alto. São características do ser humano que não precisam ser corrigidas.

O que as pessoas deveriam buscar quando compram tênis?

Um modelo neutro, feito com a menor quantidade de material possível, de preferência articulado, que você pega na mão e consegue “entortar”. Mais para modelos de performance, com pouco material e “mole”. Esse negócio de pronação e supinação nada mais é que uma dificuldade que inventaram para vender a facilidade.

O que você pensa sobre a musculação para corredores?

Fortalecer é importante para o corredor. Ele se machucará menos, será mais eficiente, mais econômico. Mas é diferente de achar que a musculação tradicional de academia vai fornecer isso.

Quando o corredor quer se tornar mais forte, tem de fazer exercícios de força que sejam aplicados àquilo que ele quer fazer. O nadador não vai fazer exercícios de tênis para ficar mais forte para nadar. Ele faz exercícios que simulem o gesto da natação. Na corrida, é a mesma história: o corredor precisa fazer gestos que sejam transferíveis para o gesto esportivo de correr. Na musculação com aparelhos, o músculo é trabalhado sempre isoladamente, quando a corrida é movimento — a cadeia toda é exercitada: a articulação do joelho, do tornozelo, do quadril.

Não existe um movimento isolado na corrida. Um aparelho que trabalha músculos e gestos não similares aos da corrida não traz uma transferência positiva. A mesa extensora, por exemplo (onde você fica sentado levantando o pé para cima trabalhando o quadríceps), gera uma enorme carga na região do joelho — acho esse exercício um crime. E não tem nenhuma similaridade com a corrida.

Academia faz mal?

Não. Se a pessoa busca estética, por exemplo. Academia entrega estética, saúde, a pessoa está se exercitando, vai ter gasto energético e ganhar força — mas não no gesto da corrida. Musculação com os aparelhos da academia não trará ganhos para o corredor, seja em desempenho, seja em redução de lesões.

O fortalecimento, não só para corrida, mas para qualquer modalidade, tem de envolver alguma especificidade com o gesto que você quer melhorar.

O que você pensa sobre alongamento antes de correr?

Alongamento é gostoso. Se tivesse alguém que me alongasse todo dia, antes e depois do treino, seria ótimo. Mas nada melhor do que começar com um trote leve, usando a amplitude do exercício que você fará em seguida. É mais do que suficiente. Desde que se comece o trote lentamente não há problema algum.

E depois da corrida?

Não tem porque fazer alongamento depois. Imagine o Parque Ibirapuera (lugar onde eu mais gosto de correr) — vou lá pelo meio da tarde, aquele sol, você corre meia hora, fica ali alongando, sol na cara, é gostoso.

Agora vamos lá: volto ao mesmo Ibirapuera, duas horas e meia correndo. Alongar? O corpo está extremamente agredido (no bom sentido), minha perna nem estende mais, vou alongar para quê? Estou exigindo algo não natural de um corpo que já está extremamente agredido fisiologicamente, não faz sentido. É como massagem. Massagem é gostoso, mas massagem logo depois do treino longo é desnecessário.

E o desaquecimento, serve para quê?

Parar de suar, talvez… (risos) O desaquecimento é bom como socialização. O cara acabou o treino, está sozinho, espera chegarem mais dois ou três, vão conversando…. Mas não acrescenta nada para a prevenção de lesões ou qualquer outra coisa.

E treino regenerativo?

 Não existe treino regenerativo. O que regenera é sofá. O treino é calculado querendo trazer uma carga que gere estresse ao corpo, uma carga obviamente assimilável. Se eu vou colocar carga não vai regenerar. Então, se o amador está muito cansado, tem algum problema, não treina.

Já o corredor de elite não pode se dar ao luxo de reduzir a carga de treino — ele tem de se manter no nível porque se ele der um passo para trás, é atropelado por dez outros. É como correr em véspera de prova, só serve para cansar. Não há ganho fisiológico nenhum. No máximo, relaxa o corredor.

O que os etíopes fazem de diferente?

Acho que é muita simplicidade. Os caras acordam às 6h da manhã e correm em jejum. Na maioria das vezes, correm leve. Pancadão, no máximo, duas ou três vezes por semana — aí correm forte. Nunca mais do que isso.

O futebol deles é a corrida?

 Na verdade, eles amam futebol. Hoje em dia tem mais gente jogando futebol na Etiópia do que correndo. Eles amam o futebol brasileiro. E assim como o brasileiro sabe que pode ficar milionário jogando futebol, lá eles percebem que podem ficar ricos correndo.

Homem falando

Se houvesse essa intenção na molecada brasileira, nós teríamos muito mais corredores?

Acho que é um conjunto de fatores. Por exemplo, o lugar onde eu treinava lá era mais alto que o Pico da Neblina aqui no Brasil, tem essa questão da altitude. Outra coisa: é país pobre, não tem tanto asfalto, gente pobre e talentosa querendo ficar rica, não tem Habib’s nem McDonald’s.

A dieta deles é muito “natural” porque lá não tem nada. Fiquei na capital, Addis Abeba, um lugar muito simples, tipo uma cidade do interior do Nordeste. Meu pai é do interior de Sergipe. Vou lá eventualmente, e tem sorvete e chocolate. Na Etiópia, nem sempre. Posso dizer que a Etiópia é mais pobre que o interior de Sergipe.

O etíope é magro como a gente vê em provas?

Todos são magros. Se você quiser ser gordo vai ter muito trabalho, gastar muito dinheiro. Não tem fast-food na Etiópia — porque eles não têm dinheiro. Se você der um Big Mac para um etíope, ele vai adorar, mas não tem. Cerveja? Também não. Nem supermercado, refrigerante, sorvete, chocolate… O açúcar de mesa é do tipo cristal, parece areia. Eles se alimentam “bem” não por desejo, mas por necessidade.

O que você aprendeu lá?

 “Não corra no piso duro”, principalmente. Eu ouvia falar, mas lá é radical. Eles só correm uma vez por semana no asfalto. Nos outros treinos, é mato, trilha ou grama.

Na primeira vez que fui correr, entramos no carro, sem brincadeira, não deu 2 minutos de asfalto até chegarmos à trilha. Quando disse que poderíamos ir correndo, a resposta: “Não, a gente não corre no asfalto”. São radicais quanto a isso, por prevenção de lesões e questão de desempenho também.

O que você acha da suplementação alimentar?

 Eu diria que 99% dos amadores que usam suplemento estão jogando dinheiro fora. Se faço um exame médico e minha vitamina D está baixa, um suplemento obviamente vai corrigir essa questão alimentar. Se no meu dia a dia não tenho tempo de comer direito, talvez um whey protein. Agora, BCAA, por exemplo, é rasgar dinheiro. Só conheço dois tipos de acadêmicos que defendem BCAA: o cara que não estudou e o que ganha dinheiro com BCAA.

Como aconteceu sua mudança de percepção?

Conheci o Gary Taubes tão somente porque eu tinha que escrever sobre o livro. Achava que era mais um livro como outro qualquer, tipo “ah, para emagrecer tem que consumir menos gordura blá-blá-blá”… De repente, vi que tudo que eu achava que sabia estava errado. Percebi que algumas pesquisas “clássicas” eram completamente furadas.

O estudo que pode ser considerado a primeira diretriz governamental norte-americana da prevenção cardíaca, por exemplo, que associava risco cardíaco a consumo de gordura saturada, é totalmente sem fundamento. Ancel Keys sugeriu a associação entre o consumo da gordura saturada, mortalidade e doenças do coração por meio de um estudo em sete países, em 1953.

Ele usou dados desses sete países e chegou a uma resultante. Acontece que ele tinha pesquisado 23 países, mas só usou os dados de sete, que comprovavam sua teoria, e omitiu os outros. Se usasse as informações integralmente não teria chegado a essa resultante. Foi o Gary Taubes que acabou “denunciando” a fraude.

O que você pensa das pesquisas científicas de modo geral?

O mundo tem de girar. Uma empresa financiar pesquisas não é de todo errado. Não acredito em conspirações; que, de tempos em tempos, um grupo de homens brancos, velhos, gordos se reúne num salão para decidir o destino da humanidade. Mas é preciso olhar as pesquisas com muito cuidado. Quem está bancando isso? Como foi feita a pesquisa?

As pesquisas podem ser falsificadas?

Não acredito em falsificação de resultados. Mas acho que a pesquisa é feita até o pesquisador encontrar o que procura. Olhando para décadas de estudos, há pesquisas que hoje vieram à tona, mas que não foram publicadas na época.

Vamos fazer um estudo: um grupo consome gordura saturada, o outro recebe gordura vegetal. Termina a pesquisa, o grupo da gordura vegetal teve um desfecho pior, tem mais problemas de saúde. De acordo com os interesses, você simplesmente não publica o estudo. Às vezes, o pesquisador fica atrás do resultado interessante para ele. Ele deveria buscar apenas a verdade e, eventualmente, reconhecer que sua teoria inicial pode ser invalidada pelos resultados da pesquisa. Quando o pesquisador erra, a ciência progride — quando acerta, ele progride.

Então é mais pragmático apresentar um estudo que comprove sua teoria. Se eu defendo X e o resultado é Y, mesmo que a sociedade precisasse saber, pode ser ruim para mim. É um conflito enorme de interesses.

Qual é a sua reação quando dizem que você é sujeito polêmico?

Eu não gosto, mas não fico bravo. Na verdade, me entristece um pouco quando alguém, quem quer que seja, fala: “Será que a gente não está errado neste ponto?” e é chamado de polêmico. Temos de contestar! Falo isso porque saí de duas faculdades, tanto de esportes quanto de nutrição, sem questionar meus professores porque eu acreditava neles. Aí eu saio, pego um livro e vejo que estava tudo errado.

*Por Zé Lúcio Cardim