Letícia Saltori: um salto repentino na corrida

Atualizado em 08 de setembro de 2017

Vencedora pela terceira vez da Mizuno Uphill, prova realizada em Santa Catarina, Letícia Saltori passou boa parte de sua infância correndo descalça e subindo e descendo morros em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba. Mal sabia ela que, anos depois, o que era uma brincadeira de criança na área rural paranaense a faria rodar o mundo e seria o seu ganha-pão.

Apresentada à corrida em meados de 2005 pelo marido, Marco, professor de educação física, a atleta de 29 anos levou pouco tempo para se apaixonar pela modalidade e conquistar resultados expressivos no esporte, como o primeiro lugar no Desafio Samurai da Mizuno Uphill, de 67 km.

O início de sua trajetória na corrida de rua foi tão despretensioso quanto as brincadeiras infantis em Campina Grande do Sul. Aos 18 anos, buscando uma maneira de estreitar o relacionamento com Marco, Letícia passou a correr apenas com o intuito de acompanhar o marido em eventos profissionais. A partir daí, sua ascensão foi tão rápida quanto as passadas que dá mundo afora hoje em dia.

Em suas primeiras provas, ela corria 10 km em 48 minutos – tempo compatível com sua condição de amadora. Em 2008, os mesmos 10 km eram percorridos em 38 minutos. Dois anos depois, incentivada por um coronel do Exército, desenvolveu interesse pela corrida de orientação, modalidade sem percursos definidos, porém com pontos de passagem obrigatórios (veja box). As bússolas e os mapas colocaram como orientista de alto rendimento da Marinha brasileira.

Letícia pelo mundo

Há três anos encantada com a corrida de montanha, viu nas trilhas seu habitat. “Desde que conheci a corrida, me apaixonei por tudo que estava em torno dela. Não vou negar que o ambiente natural, como as montanhas e as trilhas, me atraem mais. Na rua, a pegada é mais trabalhosa. É você com toda a sua capacidade física e o relógio”, conta.

As competições e os períodos de treinamento em regiões insólitas viraram rotina para Letícia nos últimos três anos. Quando conversou com a O2 pela primeira vez, no início do mês de julho, ela representava o Brasil em um campeonato mundial na Estônia. Dias depois, no segundo contato com a revista, falou do interior da República Tcheca. Nada mal para quem vivia em um ambiente rural do Paraná até 2005.

 

 

“Eu nunca pensei que poderia viajar em torno do mundo. Mal tinha noção do tamanho da minha cidade, imagine do mundo! (risos) A corrida tem me levado a lugares incríveis, mas também me coloca em situações inusitadas. Na Sérvia, durante um campeonato militar de cross country, fui pega de surpresa. Não levei roupa de frio e sofri bastante. A neve chegava a provocar dor nos olhos. Mas, como foi a primeira vez que vi neve, mesmo com tanto frio, me joguei igual criança no meio daquele gelo todo”, recorda a corredora.

Letícia planeja seguir nas competições “pelo menos até os 40 anos de idade”. Seu envolvimento com a corrida vai além das competições e das “ótimas premiações” que recebe por participar de disputas no exterior. Formada em educação física, ela conta com a Equipiazza, assessoria esportiva montada em Curitiba ao lado do marido e de outros três sócios, para disseminaros conhecimentos e as experiências acumulados nos últimos 12 anos. “A vitória não acontece em uma prova ou competição. Ela é diária. Sou campeã todos os dias”, finaliza Letícia.

O que é a corrida de orientação?

As provas acontecem em ambiente natural ou urbano. Munido de um mapa, uma bússola, um cartão de descrição e um chip para “carimbar” sua passagem por pontos de controle, o praticante tem de conhecer a simbologia das cartas. A meta não é apenas testar os limites do corpo, mas também desafiar a mente. Vence quem chega mais rápido e com a ordem correta dos pontos. No Brasil, a modalidade costuma ser praticada por militares. Suécia, Finlândia, Estônia, Lituânia, Polônia e França são as referências do esporte. “É importante fazer o treino na floresta, testar a agilidade do raciocínio em tomar decisões para encontrar os pontos de controle no terreno com o auxílio do mapa”, sintetiza Letícia Saltori.