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Correr por uma causa: ele venceu 1.450 km para arrecadar doações

Atualizado em 12 de abril de 2018
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Uma ideia ousada de um cara comum, que quis fazer algo para mudar a realidade ao seu redor: correr por uma causa. Giovane Lorusso, 26 anos, tinha um sonho: mostrar que a corrida pode unir pessoas — e mudar a vida de outras. Foi assim que nasceu o projeto NaStrada. 

Giovane correu 1.450km para arrecadar alimentos, roupas e eletrodomésticos para famílias cadastradas por ele, todas elas de Santa Cruz da Cabrália-BA. Foram mais de 120 dias atravessando as cidades, conhecendo pessoas e divulgando o projeto nos meios digitais (site e redes sociais). De quebra, ainda chamou atenção — por meio da corrida — para as diferenças sociais do Brasil.

Giovane mora em Caraíva-BA, onde trabalha atualmente, e está treinando para o NaStrada II. Conversamos com ele sobre essa ideia de correr por uma causa:

NaStrada I: correr por uma causa

Giovane decidiu correr para arrecadar doações de alimentos não perecíveis, roupas, medicamentos e utensílios domésticos para famílias necessitadas de Santa Cruz da Cabrália, interior da Bahia. “Não quero ficar sentado vendo TV e reclamando de um Brasil que não melhora. Resolvi ajudar fazendo meu esporte, correndo. Falei com amigos, eles botaram fé na ideia e nasceu o NaStrada 1”, relembra. Foi uma ideia ousada, até porque, apesar de ter escrito um projeto bem elaborado, buscado apoio e patrocínios para a empreitada, no fim, Giovane acabou correndo “sozinho”. 

Agregar parcerias para recolher essas doações era seu objetivo e, ao passar pelas cidades vizinhas, a ideia era “contaminar” as pessoas com o propósito de correr por uma causa. “No meu caminho eu divulgava onde as pessoas podiam deixar as doações, lá em Cabrália, e publicava vídeos e fotos do caminho, igual um diário de bordo, para quem sabe também incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo”, conta ele.

Sua jornada começou no dia 01/07/2017. O objetivo era, durante este período estimado (80 dias), correr 25 km por dia, até Curitiba-PR, cidade de seus familiares. Mas, como em todo projeto, muita coisa mudou, desde a ideia até sua execução, o que o levou a muitos perrengues pelo caminho.  

Os 80 dias se transformaram em 120, e muitas vezes a meta diária ultrapassava os 25 km — certas vezes corria 30, 35, 50. Chegou a correr 57 km. O destino final também mudou: seu caminho foi pela BR-101 passando por outras cidades da Bahia, estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, até finalizar seu projeto na praia de Maresias, litoral norte de São Paulo, no dia 11/10/2017. “Por questões de segurança no percurso, decidi parar o projeto em Maresias, depois de correr os 1.450km até ali”, relembrou Giovane. Ao todo, a iniciativa coletou 650 kg de alimentos, com 65 família beneficiadas. Quando regressou para Cabrália, priorizou as entregas e dividiu entre as famílias mais necessitadas.

Os perrengues

Durante todo o projeto, o ultramaratonista seguiu correndo sozinho, com uma mochila pequena, sem carro de apoio e sem recursos financeiros suficientes para chegar até Curitiba, destino que era para o ponto final de sua aventura. Quando acabou o dinheiro, Giovane se viu em uma situação precária e teve de recorrer aos amigos de suas redes sociais para pedir ajuda. Conseguiu alguns recursos e, felizmente, por onde passou, também obteve ajuda de desconhecidos. 

“Acabei tendo que pedir ajuda para mim também. Nas redes sociais divulgava o dia a dia, os desafios, as distâncias percorridas para que todos acompanhassem e ajudassem como pudessem. Quem queria me ajudar com recursos para eu continuar a viagem, fazia uma transferência bancária ou até mesmo oferecia uma refeição ou um lugar para dormir. Já para o projeto, as pessoas doavam mantimentos diretamente nos pontos comerciais parceiros de Cabrália (lojas, farmácias e supermercados).

 

Sem estrutura e correndo sozinho, ele registrou tudo que conseguiu pelo celular

Os desgastes físicos

Mesmo se tratando de uma causa nobre, correr por tantos quilômetros sem estrutura não é uma tarefa fácil. Apesar das dificuldades, Giovane não sofreu nenhuma lesão, mas sentiu fortes desgastes físicos.  “Fiquei por muitos dias sem dormir depois de correr longas distâncias. Depois de ter corrido 57 km de uma vez, fiquei com tremores pelo corpo todo durante a noite inteira. Acho que foi por causa da falta de alimentação e do descanso adequados”, relembra.

57 km foi a maior distância que ele correu em um dia, no projeto

 

Garçom-corredor

Giovane é barman, guia turístico e garçom. Começou a correr quando era adolescente e um amigo do pai falou para ele correr para gastar energia. “Era muito hiperativo. Lembro que com 12, 13 anos já fazia longas distâncias, 16 km, 18 km. Mas nunca tive o intuito de participar de competições. As distâncias foram aumentando e comecei a ver que poderia ir além. Comecei a fazer ultras, 50, 52 km em um único treino, por exemplo. Hoje, quando saio para correr, faço 18, 20, 22, e longos de 50 km, por aí”, comenta.

Na Strada II: a continuação

E ele não vai parar, não. Giovane está se preparando para o Na Sarada II. Planeja ir correndo da Praia do Espelho, litoral Sul da Bahia, até Itacaré, litoral norte. Serão 20 dias para completar 460 km.

“Quero que as pessoas conheçam meu projeto. Criar um elo cada vez maior entre esporte, educação, cultura e saúde. E principalmente continuar com as ações do projeto NaStrada, correndo por aí. A ideia é a mesma, conseguir arrecadar enquanto estou correndo. Se você pedala ou corre, pode se tornar um representante do projeto NaStrada da sua cidade”, convida o jovem sonhador. 

 

Quer ajudar, saber mais ou só acompanhar os passos do projeto NaStrada?

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Site: www.nastrada.com.br

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