Um maratonista com histórias para contar

Atualizado em 26 de julho de 2016
Mais em Papo de Corrida

Os relatos do gaúcho Luciano Sauer podem preencher páginas e mais páginas, ou acarretar muito page down pela tela do computador. O corredor amador tem se dedicado nos últimos tempos a uma grande paixão, as maratonas, e delas têm colecionado muitas histórias de apaixonados por corridas que conhece em viagens e provas, e que gosta de reproduzir para amigos e família.

Maratonista recente, aos 31 anos concluiu seus primeiros 42.195 km de corrida em 2006, a Maratona de São Paulo, conquista muito comemorada, após 10 meses de ter reiniciado atividades esportivas, ter deixado para trás vários quilos e altos níveis de colesterol, como ele mesmo conta.

De olho no calendário de competições, Luciano Sauer se empolgou especialmente com os 42.195 km da 22ª Maratona de Blumenau, diferente por ser uma prova noturna. A Maratona foi em novembro de 2006 e Luciano tomou fôlego nos últimos meses para contabilizar um pouco das tantas histórias de corredores que ouviu e, claro, para narrar as suas e de seus companheiros de esporte.

Entre agosto e novembro participou de três Meia-Maratona (Rio de Janeiro, Revezamento no Pão de Açúcar e Tribuna da Praia Grande) mais quatro corridas de rua e, no primeiro final de semana de outubro, da II Maratona de Revezamento Bertioga-Maresias.

-Em meados de Agosto de 2006 estava lendo uma revista de corridas nacional e eis que passo por um anúncio de uma maratona… Meu coração acelera, e volta ao normal… Decidi! Vou correr a 1ª Maratona Noturna Brasileira! Passados 15 dias estava inscrito, treinando forte e muito feliz por ser um dos integrantes da equipe de corrida Mevilela que participaria da Maratona. Meus grandes amigos Reynaldo 01, Gabriela Motta, Ligia Hossokawa aceitaram o desafio de treinar forte por três/quatro meses, alterar sua rotina diária e alimentar-se com restrições para conquistar a grande medalha de uma Maratona-, conta Luciano.

-No início de Setembro ao receber minha planilha de treinamento, prescrita pelo nosso grande Prof. e mestre Emerson Vilela, fiquei um pouco tenso e ansioso para ver se conseguiria manter uma média semanal entre 65 km-80 km. Quando me preparei para a Maratona de São Paulo, a preparação perdeu um pouco o foco pois priorizamos o treinamento para a prova de revezamento de Ilhabela – Corpore Terra e Mar 105 km. Entretanto, as semanas foram passando os desafios sendo alcançados e o condicionamento melhorando cada vez mais. Em Outubro, vieram os longões de 24, 32 e 36 km-, narra o corredor.

A Maratona de Blumenau

-O que e isto? O que estou fazendo aqui? Estes foram os primeiros pensamentos ao descer do ônibus que nos levou até o local da largada. A chuva era forte, e a noite nos proporcionava uma imensidão negra naquela rodovia. A prova iniciava no meio do nada, em um trecho da rodovia SC 470 – Jorge Lacerda – que liga Itajaí a Blumenau. Passados dois minutos desde que havíamos descido do ônibus pude compreender o que estava acontecendo, e não era nada muito bom… A organização, havia pecado em muitos quesitos indispensáveis para uma maratona…Não havia ainda pórtico de largada, a tenda de entrega dos chips não estava montada, o ônibus que serviria de guarda-objetos não havia chegado, a tal tenda do café idem, o transito na rodovia não estava interrompido… Sem falar que o numero de atletas que chegavam ao local aumentava a cada minuto e já chegava perto de 500 (quinhentos) quando a chuva ficou muito forte, conseguimos um local reservado da chuva embaixo de uma lona que cobria o caminhão de som… Tumulto e correria a cada vez que a chuva aumentava e diminuía-.

Resolvidos todos esses problemas, tudo pronto para a largada. -Em 20 segundo consegui relembrar minutos, horas, dias de treinamento que foram seguidos à risca. Notei a felicidade dos atletas que estavam alinhados, apesar de todos os problemas que enfrentamos a alegria e motivação era o que estava mais evidente na expressão de cada um daqueles vencedores. Voltei meu foco para a largada. Minha estratégia de prova era completar a Maratona em mais ou menos 3h25min. Para tanto, deveria manter uma média (pace) de 4min50seg por quilômetro o que representa mais ou menos 13,2Km/h-.

-Saída leve, muitos corredores aglomerados (516 homens e 78 mulheres concluíram) e todos em ritmo progressivo. As marcas de quilômetros passavam e mais ou menos no quarto quilômetro já estávamos em pelotões de ritmo e já podíamos apreciar as belas imagens que tínhamos no percurso. Imagens marcantes, do lado esquerdo o Rio Itajaí nos acompanhava, nas margens do rio surgiam casas de onde aos poucos os moradores iam aparecendo na janela para ver o que estava acontecendo! Casinhas humildes e pessoas emocionadas com o que estavam apreciando-, conta Luciano.

A dor chega

-À frente tínhamos uma leve subida, passamos, e mais ou menos ao chegar ao quilometro 33 notei que meu batimento cardíaco havia parado em 186 e não saia… Depois senti algumas dores no centro do peito que em seguida irradiou para o braço direito. Segui em frente… Batimento 186 e dores ainda constantes. Comentei com o pelotão que iria ficar um pouco mais lento e todos decidiram diminuir um pouco, acho que todos precisavam daquilo. Passamos por um posto de água, derramei água na cabeça nos braços, passei a mão molhada nas pernas e tomei alguns goles, me senti melhor, mas os batimentos não mudavam e estavam em 186. Isto me acompanhou até o quilometro 38 quando comecei a sentir câimbras generalizadas. Chegou à minha barreira, pensei! Comecei a brincar com minhas câimbras, ora eu pensava que estava doendo em um lugar ora em outro, peguei-me em dado momento sentindo dores na ponta dos dedos. Mas, em seguida voltei a correr muito bem-.

A Chegada

-Chegamos em uma cidade grande e sabia que era Blumenau! O calor humano aumentava a cada metro que percorríamos. Avistamos o pórtico de chegada! Estávamos a 500 metros mas nunca chegávamos… em seguida segurei a mão do meu companheiro de corrida e cruzamos a linha de chegada juntos! Dei-lhe os parabéns e passei a refletir muito sobre aquele momento de esplendor e extremo prazer que estava usufruindo… Havia concluído uma Maratona em 3h22min36seg líquido e 3h23min39seg bruto. Aquele momento foi eternizado, jamais irei esquecer-.

A experiência marcou Luciano. -É incrível e indescritível o sentimento de vitória, fiquei inundado neste rio de alegria e completude por minutos, horas, dias e semanas! Posso dizer que até hoje ainda tenho reflexo desta chegada no meu dia-a-dia!