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A baixa cadência pode ser a causa das lesões?

Atualizado em 20 de setembro de 2016

Muitas pesquisas defendem que, para correr mais rápido e diminuir as chances de lesões, o atleta deve diminuir a amplitude das passadas e aumentar a sua cadência, ou seja, a quantidade de passos que ele dá por minuto. Em tese, isso diminuiria o impacto nos tornozelos, joelhos, quadris e coluna. Mas será que a cadência é mesmo o fator responsável por causar lesões nos corredores?

Dois recentes estudos foram desenvolvidos com o objetivo de responder essa questão, contudo seus resultados foram contraditórios. O primeiro, desenvolvido pelo Spaulding National Running Center, em Massachusetts, nos Estados Unidos, comparou dois grupos de corredores: um com 32 atletas saudáveis e outro com 93 corredores lesionados. Os pesquisadores compararam a cadência entre eles e constataram que não havia diferenças significativas. O grupo com lesão tinha uma frequência de passadas média de 164, enquanto que era até um pouco menor, 161.

Foram analisadas também informações quanto a força de impacto médio e instantânea das passadas. Quando os dados foram comparados com a cadência, constatou-se que os corredores com maior frequência de passadas não tinham as menores taxas de impacto, contrariando, assim, a teoria de que uma maior cadência diminui as chances de lesão.

Isso não quer dizer, contudo, que aumentar a cadência não é útil. A pesquisa apenas questiona a teoria até então defendida de que a baixa frequência de passadas é a razão de algumas pessoas serem mais suscetíveis a lesões do que outras.

Por outro lado…
O segundo estudo, contudo, chegou a conclusões diferentes do primeiro. Pesquisadores da Universidade Virginia Commonwealth, também dos Estados Unidos, avaliaram a cadência de 28 corredores amadores antes e depois deles treinarem para uma meia-maratona. Neste caso ficou clara a reação entre a frequência de passadas e o risco de lesão.

 

 

Dos 12 corredores com cadência até 162, 8 se machucaram; também se lesionaram 5 dos 7 atletas com cadência entre 163 e 168; e apenas 2 dos 9 corredores com cadência de 169 ou acima tiveram algum problema.

A pesquisa constatou também que a cadência média de todos os corredores aumentou de 165 para 173 durante o treinamento, o que normalmente acontece quando atletas inexperientes começam a treinar com mais frequência. Portanto, uma das hipóteses dos pesquisadores é a de que aqueles com menor frequência de passadas eram também os corredores mais inexperientes. Isso poderia justificar a maior vulnerabilidade do grupo a sofrer uma lesão.

Conclusão
Os resultados contrastantes mostram que este assunto precisa ser ainda mais explorado. “Não podemos concluir, portanto, que uma frequência de passadas menor lesiona mais do que uma frequência maior. São vários fatores que levam um sujeito a ter uma maior incidência de lesão do que outro”, explica o fisiologista Rodrigo Alexandre Weber.

De acordo com o especialista, é preciso analisar a mecânica do atleta. “Aquele que é mecanicamente mais eficiente na corrida tende a ter um processo de amortecimento melhor e, portanto, menor impacto”.

Na caminhada, cada vez que a pessoa pisa no chão, ela tem um impacto de uma vez o peso dela. Se você pesa 50 kg, por exemplo, sua articulação vai receber um impacto de 50 kg a cada passada. “Esse impacto é distribuído entre as articulações do tornozelo, joelho, quadril e colunas, sendo que o joelho é responsável por absorver 70% dessa força”, esclarece o fisiologista.

Já na corrida, esse impacto pode ser de 1,5 até 3 vezes o peso corporal da pessoa. “A melhor maneira de prevenir lesões, portanto, é tendo articulações saudáveis e uma musculatura fortalecida, já que esta ajuda a absorver o impacto, minimizando o efeito das pisadas nas articulações”.