Meta: tenha uma, ou ficará sem rumo

Atualizado em 29 de abril de 2016
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Por Marcos Caetano

Em 2001, fui convidado pelo Ziraldo para compor o time de colunistas do jornal semanal OPasquim 21, uma tentativa de reviver a trajetória do glorioso Pasquim, símbolo da luta contra a ditadura nos anos 70. Nesse processo, além de trabalhar ao lado de alguns dos meus heróis — como Aldir Blanc, Fausto Wolff e Fritz Utzeri, entre tantos outros, sem falar no próprio Ziraldo —, tive o privilégio de ganhar um novo amigo: Zélio Alves Pinto. Irmão de Ziraldo, Zélio é um genial pintor e ilustrador, além de cartunista, artista gráfico, jornalista, escritor e, sobretudo, uma extraordinária figura humana. Coube a ele a tarefa de relançar o célebre jornal.

Certa vez, ao visitar o Zélio em seu ateliê, topei com um quadro belíssimo, que já tinha rodado o mundo em exposições de artes plásticas. Hipnotizante, tão simples e ao mesmo tempo tão cheio de significados, o quadro mostra um campo de futebol visto da perspectiva de alguém que está sob as traves do outro lado do gramado. Nesse lado oposto, o retângulo formado pelas traves e a linha do gol forma uma espécie de passagem dimensional, na qual há um ponto de luz no centro. Tudo leva o nosso olhar para aquele ponto, para aquela luz. Título da obra: A Meta.

O Zélio percebeu que fiquei vidrado naquela pintura — que acabou indo parar na sala lá de casa. Agora, toda vez que passo em frente dela, sou forçado a refletir sobre a importância de termos metas tão claras e encantadoras como aquele gol com o ponto de luz.

Parece óbvia aquela frase ancestral do filósofo Sêneca: “Se o homem não sabe a que porto se dirige, nenhum porto lhe será favorável”. No entanto, por incrível que pareça, muitos corredores não conseguem refletir sobre suas metas. Um quadro na sala para nos lembrar delas a todo tempo pode ajudar bastante. Mas, com ou sem quadro, não podemos perder de vista que um corredor sem metas é como um veleiro sem bússola e sem vento. Não precisa ser nada desafiador, como correr 10 km abaixo de 45 minutos. Pode ser apenas mais uma volta no quarteirão. Simples assim.

A dona Mitiko, campeã mundial em várias provas de longa distância para a sua faixa etária (acima de 70 anos), começou dando uma volta no quarteirão de casa para se recuperar de uma longa enfermidade. Um dia foram duas voltas, depois três. Quando ela já estava dando dezenas de voltas pelo quarteirão, alguém recomendou que ela passasse a correr. E assim ela fez. Conseguiu um técnico, foi para o parque e acabou se tornando, já vovó, uma lenda das pistas. Mas reparem: tudo começou com um mero quarteirão a mais.

Qual é o tamanho do quarteirão que você quer percorrer caminhando? E, quando for correr, quantos quarteirões serão? Em qual tempo? Por quanto tempo?

Da mesma maneira que não saio mais de casa sem observar o quadro que me recorda a importância de se ter metas, um corredor, não importa seu estágio atlético, jamais deveria abrir mão de ter objetivos bem claros a alcançar. Porque objetivos e metas são o que movem o mundo. O mundo e as nossas pernas.

(Matéria publicada pela Revista O2, edição 123, julho de 2013)