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Crews: boas para rodagem, mas não para treino matador

Acho bacana essas crews de corredores como meio de sociabilização. Na verdade, desde os anos 90 tínhamos crews. Como negar o posto de crew de corrida ao “Bonde das 6h” – que até nome descolado já tinha?

O Bonde das 6h era um grupo de amigos que, por anos a fio, se encontravam na barra de alongamento da Praça do Porquinho, no Ibirapuera, e religiosamente de sábado e domingo iam desbravar a cidade correndo.

Diferente dos trintões e quarentões do “Bonde das 6h”, que não davam tiros e só giravam sempre mais que 20 quilômetros em seus passeios de corrida, os novos grupos, as crews, ganharam outra roupagem.

Formados basicamente por jovens na casa dos 20 anos de idade na linha hipster-descolados, os novos grupos têm atraído um bom número de participantes, que se reúnem para correr, sociabilizar e treinar. Mas é aí, no treino, que mora o perigo, no meu ponto de vista.

 

 

Dia desses li um professor de educação física se lamentar que pagava seu CREF, mas que via no parque grupos de crews ‘dando treinamentos’, o que teoricamente é proibido. Ele então foi lembrado que grandes crews têm professores formados supervisionando as atividades.

Como sabemos, em uma crew o professor basicamente serve para cumprir um quesito legal e burocrático, nada mais do que isso. Vai lá que o professor pode dar algumas dicas genéricas e básicas, mas nunca sabe da individualização de treino do novo corredor que está em sua frente. O corredor é responsável por si.

Quem define se naquele treino “soca-bota” o corredor tem que seguir o pacer dos 3min30s ou 4min? O ideal seria uma avaliação do pelotão ideal, do pace a seguir, do tipo de treino, do condicionamento atual, da sua individualização, do seu lastro e muitas outras variáveis para decidir colocar alguém atrás do bonde X ou Y para dar tiros e fazer intervalados pelo parque.

Dito isto, as crews são ótimas e válidas para fazer aqueles treinos de rodagem com a galera jovem, animada e observar a cidade. Mas para treinos mais intensos o cuidado é fundamental. O corredor deve avaliar se aquele “bonde-matador” é o que melhor o atende de forma confortável e segura.

Não é porque seu corpo-crossfiteiro é igual ao corpo de seu amigo-crossfiteiro que ambos correm o mesmo. Ou seja, há muitas nuances em que as crews não cumprem o papel de administrar treinos.

Há ainda outras pressões e motivações, como as impostas pelas redes sociais no pós-treino, que ‘cobram’ que você tenha uma selfie com a galera ‘trincando’, com o GPS registrando altos volumes e a foto ‘irada’ no point turístico.

Repito: crews são ótimas como meio de sociabilização e para o treino de rodagem leve descobrindo a cidade. Mas não muito aconselháveis para o treino matador, caso o participante não tenha um treinamento prévio para segurar o ritmo autoimposto.

Lembre-se: é você quem deve matar o treino; e não o treino te matar.

Harry Thomas Jr

Jornalista especializado em corridas de rua desde 1999, Harry competiu pela primeira vez em 1994 e desde então já completou 31 maratonas – sendo três sub 3 horas: São Paulo (2h59min30), Nova York (2h58min20) e Blumenau (2h58min10). Também concluiu seis Ultratrails: 60K Ultratrail Putaendo, 67K Ultratrail Torres del Paine, 50K Indomit Costa Esmeralda e os 50K Ultra Fiord por três vezes. Já correu em países como Argentina, Chile, Estados Unidos, Grécia e Japão.

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Harry Thomas Jr
Tags: novidade

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