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A falácia da endorfina e do muro dos 30 km

A cada fase da minha vida, seja pessoal, profissional ou de corredor tento retirar algum aprendizado.

Como descrevi em meu artigo anterior, estou me recuperando de uma lesão, a qual não relaciono com a corrida.

Sem dúvida foi por um exagero jogando futebol, esporte que não recomendo para quem realmente quer se dedicar às corridas.

Mas o objetivo aqui não é falar da lesão em si, mas sim o que ela causa — a abstinência de correr.

Devo admitir que por muitas vezes que passei pela situação de ficar sem correr para me recuperar de lesões ou por algum outro acaso que a vida nos proporciona, geralmente era bem difícil.

Difícil dormir, difícil manter um bom humor, difícil não engordar, difícil não perder massa muscular.

Tenho passado por uma mudança importante trilhando novos caminhos nos meus estudos e na minha prática de atendimento.

Esse momento tem me revelado a importância que a meditação e exercícios com movimentação mais natural na evolução dos pacientes.

Também estou apreciando uma outra realidade nesta fase de recuperação. Muito do que sentimos está ligado a crenças adquiridas durante a vida.

Sem dúvida há duas crenças muito repetidas no mundo da corrida do triathlon, que são a barreira dos 30 km da maratona e o sofrimento causado pela abstinência da endorfina quando nos lesionamos.

Quando corri minhas primeiras maratonas, percebi que sendo fiel a estratégia de fazer o tempo negativo (ou seja, correr mais lento os primeiros 21 km e deixar uma reserva de glicogênio para os 21 km restante), resolve-se a questão da barreira dos 30 km.

Ou seja, essa crença está mais relacionada a erro de estratégia do que a uma entidade cósmica. É importante desmistificar!

A outra crença muito repetida em relação à abstinência da endorfina, assim como a barreira dos 30 km, possui uma explicação fisiológica.

Na medida em que nos acostumamos com alguma substância no nosso corpo e diminuímos bruscamente a circulação dela por nossos sistemas, realmente a tendência é sentirmos falta dela.

E não importa se essa substância é endógena (produzida no corpo, por exemplo a endorfina e a serotonina) ou exógena (produzida fora do corpo, por exemplo drogas).

O fato é que já senti na pele por muitas vezes a sensação de que falta algo. À noite na cama, e sem sono, sem saber porque não consegue adormecer, o mau humor que não sabemos porque se instala.

São situações que realmente parecem que estão relacionadas a um vício ou a abstinência de uma substância.

Como descrevi anteriormente, minha vivência dessa vez tem se mostrado um pouco diferente e não posso deixar de compartilhar.

Na eterna busca pelo equilíbrio, começo a entender que esse tipo de crença não agrega, só atrapalha!

Tornar uma crença uma verdade é fácil a partir da repetição, acontece em todos os meios.

Focar em desenvolvimento de consciência corporal e mental e estimular o corpo com uma movimentação natural tem sido o meu calmante, meu ponto de equilíbrio nessa fase sem a corrida.

Trabalhar com a abordagem psicossomática e estudar esse aspecto do ser humano claro tem sido um caminho para entender o porquê de certos padrões de comportamento.

A recomendação é que sempre procure um fisioterapeuta para reabilitação de lesões.

Na minha opinião, hoje já não basta que seja apenas um fisioterapeuta com foco em reabilitação esportiva.

As demandas dos corredores e triatletas são bem mais profundas e não dá para acharmos que uma lesão ortopédica é só um tecido cicatrizando, pois esse processo está acontecendo com um pai ou filho, mãe ou filha…

Ou seja, pessoas que trabalham e sentem a dura realidade do mundo onde vivemos, no qual nos relacionamos com todos os tipos de pessoas todos os dias.

Claudio Cotter

Fisioterapeuta esportivo e gestor da CM2 Clínica Multidisciplinar em São Paulo. Pós-graduado em Medicina Psicossomática, especialista em RPG, Método Busquet e Força Dinâmica. Palestrante com experiência em vários eventos internacionais como Mundial FIFA Sub-17 Feminino em 2008 na Nova Zelândia e X-games em 2004 no Rio de Janeiro. Ultramaratonista, corre montanha e asfalto, mas adora uma meia-maratona.

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Claudio Cotter

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