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Nunca corri ultramaratonas de montanha. Será que consigo?

Se você leu um post meu que falava do real espírito das corridas de montanha, isso já é pelo menos 50% do que é preciso. O restante, na minha opinião, é o que chamo de “cabeça”, uns 40% e treinamento físico fica com 10%.

Ops?! 10%, apenas, de treinamento? Sim! Isso é o que vivencio e vejo acontecer com meus amigos que correm montanha. De forma alguma estou dizendo que não seja importante um bom preparo físico para encarar essa modalidade, pelo contrário. Estou partindo do princípio que treinamento físico e técnico é condição básica para a prática de qualquer esporte. Especialmente, em montanhas que exige habilidade, equilíbrio, resposta muito rápida às mudanças de terreno e diante de obstáculos naturais e muito preparo físico envolvendo endurance e explosão em corrida. Se vocês não sabem, o melhor atleta de Endurance Trail (corridas de montanha de longa distância) da atualidade Kilian Jornet, um espanhol de apenas 27 anos, que desde os 25 anos já era considerado o melhor atleta da modalidade, tem o maior VO2 máximo do mundo, de 92. Ou seja, treinamento físico é importante, mas o fundamental é a “cabeça”.

O que vejo muito acontecer com amigos e mesmo comigo é que, se a cabeça não acompanhar e não fortalecer o corpo diante das dificuldades e, principalmente, adversidades encontradas durante os treinos ou competições, o corpo falha. Mesmo estando extremamente preparado.

E o que é afinal “cabeça”?

É aquele controle mental que o atleta aprende a fazer com a experiência em treinos e provas duras. Duras tanto na intensidade, quanto na duração e quando, principalmente, há uma situação adversa em jogo: clima, terreno, indisposição ou, simplesmente, aquele dia que nosso corpo “não responde”. E posso dizer, que a prova mais dura para mim, foi em maio desse ano, quando decidi correr os 100 km no Indomit Costa Esmeralda.

A única certeza que eu tinha durante toda a prova era que eu iria chegar. Tive dores em ambos os tendões de Aquiles, a partir do km 40, e correr no plano, onde deveria desenvolver maior velocidade, era muito dolorido. E faltavam ainda 60 km. Resisti e completei bem a prova, mas foi uma batalha mental muito grande. Conversei com várias pessoas no caminho, ultramaratonistas muito experientes. Lembro da conversa que tive em uma longa subida com um deles no final da prova (faltavam uns 20 km). Ele dizia que havia largado muito forte, estava em 3º lugar na geral masculina, me contou das provas que fez, e essa seria apenas mais um grande desafio. Mas que estava pagando pelo erro dele, e não desistiria. Andaria 20 km até o final. Cabeça. Ele queria chegar. E chegou. Esse espírito de não desistir jamais vejo em muitos ultramaratonistas. Vão até o limite, sem pensar nas consequências para o corpo.
Principalmente, os atletas amadores.

Confesso que fiquei pensando muito sobre isso. Já cheguei a sair de prova para me poupar, por diversos motivos. Mas, principalmente, porque eu não queria estar ali. De novo, a cabeça. Já tomei essa decisão em duas provas para respeitar meu corpo, descansar e voltar mais forte em outra competição. Talvez, porque já tenha excedido o limite do meu corpo por várias vezes (carrego 3 cirurgias, 2 em ambos os pés e 1 no quadril). Então, hoje prefiro me poupar e recuperar para ir muito próximo dos 100% para as provas. E desistir, para mim, hoje, me chateia, mas não tira minha motivação para seguir forte treinando e buscando meu melhor. Aliás, se não desisti em três cirurgias de correr, não vai ser agora, totalmente recuperada, que desistirei de correr.

Ultramaratonistas não desistem. Mesmo abandonando um treino, ou uma prova, nós sempre voltamos para conquistar aquilo que, momentaneamente, nossa cabeça tenha pedido uma trégua.

A melhor forma de fortalecer a cabeça é colocando seu corpo, aos poucos, em situações de superação. Para ser ultramaratonista de montanha é preciso querer, e muito.

Ótimos treinos!! A montanha chama!

Vivian Pavão

Corredora há mais de 15 anos, fez sua primeira maratona aos 20 anos, conquistando o terceiro lugar em sua categoria, e não parou mais. Já praticou diversos esportes, mas atualmente dedica-se à corridas de montanha. Entre as maiores conquistas está o primeiro lugar Geral no Desafio das Serras em dupla mista, prova de 80 km, e o primeiro lugar geral da Copa Paulista 50 km em Paranapiacaba, em 2015.

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Vivian Pavão

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