Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Entre 2008 e 2016, eu corri 15 maratonas. Significa que, durante tal período, toda corrida que eu fazia era, necessariamente, um treino para a próxima maratona. Quem treina deve, ou pelos menos deveria, ser rigoroso no cumprimento de metas. Ou seja, se de acordo com a sua planilha, você deve correr 10k naquela tarde de abril, você não vai correr mais do que o programado, ainda que você esteja em um belo local, que o dia esteja lindo, a temperatura agradável, e mesmo que você saiba que, se você seguisse adiante, apenas mais 1 ou 2k, você encontraria uma deslumbrante paisagem da costa.
Entre 2016 e 2018, não corri qualquer maratona. Gostaria de tê-lo feito, mas não o fiz. Talvez porque eu só treinasse, independentemente de onde quer que eu estivesse, do entorno, as corridas a mim me pareciam sempre a mesma – quem treina costuma só ter olhos para o relógio. Sempre achei que a realização eu só a poderia encontrar no dia prova. O objetivo, que não estaria no correr em si, só seria alcançado com a conclusão de uma maratona.
Sem ter uma maratona à vista, eu, aos poucos, deixei de treinar. Mas não deixei de correr. Um dia me dei conta de que o garmin havia ficado na gaveta, de que o ritmo e a distância percorrida pouca ou nenhuma importância tinham. E foi assim, com o espírito livre – liberdade é não usar relógio, disse o filósofo – que eu, dia desses, saí correndo de Cascais e fui até o Cabo da Roca. Ao lá chegar, desci a trilha até a praia da Ursa, o lugar mais bonito do mundo.
Eu larguei para correr 15 maratonas junto com a pessoa que eu amo. Em nenhuma das vezes chegamos juntos. Os relógios, o meu e o dela, impuseram a nossa separação durante o percurso – cada um foi buscar a sua marca. Juliana e eu saímos juntos de Cascais, e juntos chegamos ao Cabo da Roca; e, depois, sempre juntos, à praia da Ursa. Ao pisar na areia da praia deserta, eu tive a impressão de que eu jamais serei tão feliz.
O Cabo da Roca é, segundo Camões, o lugar onde “a terra se acaba e o mar começa”. O Cabo da Roca é o fim da Europa. É provável que eu volte a correr maratonas. Do outro lado do mar, terra há. Antes, contudo, eu vou correr uma certa prova. A Corrida do Fim da Europa, que larga de Sintra e, 16 quilômetros depois, termina no Cabo da Roca. A minha dúvida é saber se, faltando poucos metros para a chegada, se eu sigo para pegar a medalha ou se eu desvio e desço a trilha até a praia.
Publicidade
Publicidade
Compartilhar Certificado
Salvar Pdf
Salvar Imagem
Cookie | Duration | Description |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |