O esporte imita a vida

Atualizado em 15 de dezembro de 2016
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Neste momento, ao escrever esse artigo, é difícil não levar o raciocínio para uma linha mais política, enquanto carapuças têm caído por todos os lugares do mundo (ditaduras se desmanchando, se agarrando por um fio, e democracias sólidas desestabilizadas pela surpresa da eleição de um bilionário excêntrico). Em nosso País em especial, elas estão relacionadas a construtoras, juízes, políticos, empresas públicas e privadas, e até mesmo entidades filantrópicas que cuidam de crianças com câncer.

Vivemos uma situação de transformação, que também é refletida no esporte, tanto dentro quanto fora do Brasil. Escândalos de corrupção na FIFA (Federação Internacional de Futebol), UCI (União Ciclística Internacional) e até políticas de Estado que consentiram e encobriram o uso de drogas por seus atletas, como vimos na Rússia. Laboratórios criados para fiscalizar o doping, mas que na verdade acobertaram grandes atletas, ícones de suas modalidades, de respeito mundial, que acabaram sendo desmascarados.

Aqui no Brasil, se forem investigar a fundo nossas confederações (CBF, CBB, CBDA, CBV, CBC, CBJ, CBAT…) até chegarmos no COB (Comitê Olímpico Brasileiro), veremos uma avalanche de demonstrações de malfeitorias, de dirigentes praticamente ditatoriais, que comprovadamente enriqueceram depois de assumirem seus postos, eleitos e reeleitos – como em todo ambiente político – através de acertos noturnos, em quartos de hotéis, na véspera da votação oficial das federações.

Nosso País não só perdeu o bonde do crescimento mundial, mas também o do esporte, do poder de transformação que ele comprovadamente promove. Nem mesmo sediando eventos esportivos do peso de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada… Ao contrário, ainda recebemos de legado metrôs que não irão funcionar com frequência, mais uma vez um velódromo novo que acabou desmontado, estádios fantasmas superfaturados, mal aproveitados, e estados e municípios inteiramente quebrados.

Patrocinadores? Se grandes empresas – algumas multinacionais – se aproveitaram de nossas leis de incentivo para fazerem eventos corporativos internos em vez de se comprometerem com investimentos em projetos socioculturais, quem de forma racional irá apoiar nosso esporte com todo este tsunami de notícias negativas?

Por mais que todo este processo seja doloroso aos nossos olhos (e aos do mundo todo) e à nossa alma, já que nos desperta inconformismo, repúdio e incertezas, vejo que o que estamos passando, a longo prazo, é por uma grande faxina geral. Faxina essa na qual conceitos antigos, viciados desde a origem do sistema, estão sendo obrigados a serem deixados de lado. Isso porque, além de não cumprirem seus papéis e comprovadamente gerarem danos seríssimos a todas as comunidades envolvidas, direta e indiretamente, não conseguem mais burlar com tanta facilidade como foi até um passado recente, atuando em favor de interesses individuais e/ou de seus pares suspeitos.

Uma vez, eu estava passando por um momento de dificuldade, e o pai de um grande amigo meu me disse com toda sua experiência: “nós temos que nos preocupar quando as coisas estão indo bem, não quando elas vão mal. Porque aquelas que estão indo mal, só tendem a melhorar!”

Que assim seja, que estejamos firmes, fortes, atentos e preparados para crescermos juntos com a próxima onda de crescimento, mantendo-nos longe dos círculos viciosos e daqueles mal intencionados! Na vida, e no caso aqui, no esporte!