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Planejamento da maratona: imprevistos existem

Os maratonistas somos tidos como sujeitos metódicos, que planejam seu treinamento tintim por tintim, pensam no ponto futuro, organizam sua vida da maratona para trás e da maratona para a frente.

Afinal, trata-se de uma prova extenuante, em que qualquer erro pode ser fatal, levar ao desgaste antecipado, à decepção, à depressão e à morte –não estou sendo dramático nem apocalíptico: na última Maratona de Londres morreu um jovem oficial do Exército Britânico, para falar apenas de uma prova de alto coturno.

Por isso, não podemos deixar lugar para o azar, não dá para permitir que o acaso se intrometa no caminho do atleta.

Pura ilusão.

Como alguém mais esperto já disse antes de mim, não há o que não haja.
Recentemente, por exemplo, o maior, mais complexo e mais caro equipamento científico do mundo, monitorado por computadores superpotentes ao custo de milhões de dólares, foi parado por causa de um roedor.

O Grande Colisor de Hádrons, um acelerador de partículas de 27 quilômetros de extensão, construído no subsolo entre a França e a Suíça, foi atacado por uma fuinha.

O animalzinho mastigou um cabo de alta tensão de um transformador em uma parte do equipamento localizada perto de Genebra.

Submetido a um choque de mais de 66 mil volts, o animalzinho foi praticamente desintegrado no instante em que deu a primeira dentada.

Isso provocou um curto-circuito, fazendo com que o equipamento construído ao longo de mais de dez anos, ao custo de mais de US$ 7,5 bilhões, parasse de funcionar.

A função do LHC é colidir partículas no mais alto nível de energia já atingido para simular as condições da época do Big Bang, o nascimento do universo.

A assessoria de imprensa do instituto que opera o equipamento não informou qual foi o prejuízo com a inesperada interrupção de operações, mas disse que o conserto levaria vários dias. A esta altura, já deve ter voltado a operar, pois o ataque animal ocorreu no final de abril.

São as coisas da vida, um exemplar ataque do Imponderável de Almeida. “Imagine isso na Copa!”, poderia dizer alguém.

É melhor não se divertir com a desgraça alheia. Quando eu li a notícia, fiquei pensando com os meus botões: se os caras, que são OS CARAS, não conseguem proteger a máquina mais cara do mundo de um ataque de uma fuinha, como eu, que sou apenas de carne e osso, vou evitar fazer algum erro monumental em minha vida corrida?

A resposta é simples: não sei. O que sei é que, por enquanto, continuo com energia. Já levei bicada de passarinho, enquanto corria na USP, mas nunca fui mordido por fuinha. Espero manter a escrita agora, amanhã e sempre.

Rodolfo Lucena

59, é jornalista, gaúcho, gremista, cachorreiro, escritor e ultramaratonista – já fez mais de 30 provas longas em cinco continentes. Autor de “Maratonando” e de “+Corrida”, atuou na Folha de S. Paulo por mais de 25 anos, faz o Blog do Lucena (lucenacorredor.blogspot.com) e o Maratonando com o MST (mstmaratonando.wordpress.com).

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Tags: treinamento

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