Treinos de propriocepção para atletas

Atualizado em 14 de julho de 2016
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A propriocepção é considerada como o sexto sentido para alguns profissionais da área da saúde por ser definida, de modo bem prático, como a capacidade de sentir o posicionamento de nosso corpo no espaço. Um ótimo exemplo seria identificarmos a posição de nosso cotovelo (esticado ou dobrado) sem necessariamente olharmos para ele. Ou seja, neste primeiro parágrafo você já deve estar pensando no uso desta habilidade para tudo o que faz no dia-a-dia… inclusive, nos treinos de propriocepção.

Quase todos nós temos a visão como o sentido predominante perante os demais. Usamos os olhos para nos relacionar com pessoas e com o meio ambiente, para executar tarefas, distinguir comportamentos e até mesmo para estimular outros sentidos, como o paladar e o tato. O que raramente nos damos conta, é que também utilizamos a visão para nos equilibrar. Isso mesmo. Nos manter alinhados enquanto andamos, permanecer ereto enquanto ficamos parados em pé e, inclusive, mudarmos nosso corpo em função de desequilíbrios externos, tudo com a ajuda dos olhos.

Se você está duvidando disso, levante-se da cadeira e vá até um local com um pouco mais de espaço. Pare com os pés virados para frente, mas deixe um pé na frente do outro, com o calcanhar de um deles encostado na ponta dos dedos daquele que ficou atrás. Mantenha os joelhos esticados e os pés bem alinhados como se estivessem sobre a mesma linha. Se você conseguiu ficar equilibrado, meus parabéns. Agora, é hora de fechar os olhos. Se ainda assim você conseguiu se manter equilibrado, provavelmente possui uma propriocepção bem desenvolvida. Não quer dizer que não use a visão para a mesma função, mas certamente possui uma boa capacidade de separar e delegar bem as funções do seu corpo de acordo com a situação.

Uma propriocepção bem desenvolvida é capaz de detectar alterações nas tensões musculares e ligamentares, consequentemente identificando a posição dos ossos, enviando estas informações para nosso cérebro e esse, por sua vez, mandará alguma resposta perante estes estímulos. Um exemplo bem prático é o que acontece quando estamos correndo e de repente pisamos em um buraco indesejado, torcendo nosso tornozelo. Neste caso, ocorrerá um alongamento brusco de fibras de alguns tecidos (músculos, tendões, ligamentos, pele, etc.) de um lado do tornozelo. Este alongamento repentino é entendido pelo nosso corpo como um potencial mecanismo de lesão e com isso, a resposta muscular imediata é se contrair, para tentar evitar o pior. Além disso, existe um sinal que é enviado ao nosso cérebro, fazendo com que ele responda mandando outros músculos se contraírem ou relaxarem, de modo a afastar ainda mais a chance de uma lesão (por exemplo, as pessoas que se jogam no chão evitando a entorse lesiva).

Assim como os nossos cinco sentidos, a propriocepção também pode ser desenvolvida, aprimorando os mecanismos de resposta de nosso corpo perante situações diversas como correr na terra, caminhar em trilhas, andar no escuro ou passear em ruas irregulares. Exercícios caseiros podem ser feitos diariamente como o teste que propus no terceiro parágrafo, ou andar sobre uma linha reta no chão de olhos fechados, se equilibrar encima de uma bola olhando para frente, fazer exercícios em cima da cama elástica, andar descalço sobre uma superfície irregular, ou mesmo tentar caminhar lentamente no meio de um cômodo bagunçado, sem luz, sem fazer nenhum barulho (é o melhor de todos os exercícios! Rs).

Existem estudos que demonstram a perda dela conforme envelhecemos e por isso um número maior de pessoas idosas que sofrem quedas constantes (além, é claro, de doenças diretamente relacionadas ao equilíbrio, como a labirintite). O fato é que hoje em dia somos cada vez mais influenciados a exigirmos da visão, deixando de lado os outros sentidos e capacidades sensitivas. Basta repararmos nos calçados tecnológicos que fazem tudo pelos nossos pés (excluindo qualquer necessidade de controle muscular desenvolvido); no desenvolvimento de esteiras cada vez mais confortáveis (como se estivéssemos correndo em um tapete, sem qualquer desnível); entre diversos outros acessórios que vão tornando nosso corpo cada vez mais dependentes e desestimulados.

Tudo isso vai enfraquecendo a coitada da propriocepção. O ideal mesmo seria que o chão dos shoppings fosse de paralelepípedos, as ruas fossem de terra batida e as esteiras fossem com borrachas cheias de ondulações. Mas as coisas evoluem (ou não, dependendo do ponto de vista, né!?) e temos que acompanhar o ritmo. O importante é não deixar de treinar, seja do modo moderno, seja do modo mais “rústico”!  😉