Surge um candidato a quebrar a barreira dos 10s

Atualizado em 20 de setembro de 2016
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Quem conhece Sandro Viana? Alguém na Praça da Sé ou na Central do Brasil sabe dizer quem é Sandro Viana? Trata-se de um velocista manauara muito esforçado, cujo melhor tempo em toda carreira, nos 100m rasos, foi 10s11. Nesta sexta-feira, no Troféu Brasil, em São Bernardo do Campo, o carioca Vítor Hugo dos Santos, 20 anos de idade, igualou-se a Sandro. Os dois dividem a condição de quarto mais rápido corredor brasileiro nos 100m em todos os tempos.

O primeiro é Robson Caetano, que correu o Meeting de Bruxelas, em 1989, em 10s. Ele fizera marca idêntica no Ibero-Americano de 88, na Cidade do México. Na Bélgica, bateu Carl Lewis. Na final olímpica de 88, a última (e única) dos 100m rasos a contar com um brasileiro, o carioca fez o tempo de…10s11. Como exames antidoping revelaram, posteriormente, que três dos quatro corredores que chegaram à frente do brasileiro estavam dopados (incluindo Carl Lewis), ele deveria ser o segundo colocado, atrás apenas do veterano norte-americano Calvin Johnson, o único limpo do quarteto. Mas os resultados de Seul, os dos dopados, não foram invalidados até hoje.

Na pista do ABC, Vítor cravou feito importante na pobre história brasileira nos 100m rasos. É o único brasileiro que tomará parte na prova individual, na principal prova do esporte mais emblemático dos Jogos. Robson foi o único brasileiro numa final olímpica dos 100m. Ninguém antes dele, ninguém depois.

Robson foi detectado num programa de garimpagem de talentos da Universidade Gama Filho, do Rio. A instituição tinha uma equipe de atletismo que marcou época. Hoje já não existe. Vitor só foi descoberto porque o treinador Paulo Servo, um batalhador do atletismo carioca, aquele que já não tem a pista do Célio de Barros, do Complexo do Maracanã, visitou a escola do garoto, em Jacarepaguá, e o convidou a correr em outra escola. Vítor tinha 8 anos de idade.

“Eu me destaquei um pouco nas brincadeiras com as crianças na quadra e comecei a treinar, aos 8 anos. Aos 9 parei. Aos 10, meu tio (Marcelo Osvaldo), que foi praticante de atletismo na antiguidade, treinado pelo Paulo Servo, me deu um incentivo, falou para eu voltar”, conta o candidato a ídolo, por telefone. Repare que o garoto de 20 anos se refere ao tio como se ele tivesse disputado os Jogos Olímpicos da Antiguidade…

Vítor conta que sentiu que estava no caminho certo quando finalmente ultrapassou as fronteiras do Rio para competir. “Quando viajei para outro estado, vi que poderia viajar para o exterior. Ir para o exterior era o meu sonho”.

O sonho de Vitor agora é quebrar outra barreira, não geográfica, mas histórica. Nenhum brasileiro jamais correu os 100m abaixo de 10s. “Esse é um incentivo pra mim. Quero ser o primeiro. Se for, todos vão lembrar de mim. Acho que é alcançável, mas a gente tem que sonhar primeiro. Vou continuar treinando bem duro”.

Vitor já foi competir no exterior, já conheceu Usain Bolt. “Ele foi simpático comigo, me deu um aperto de mão. Mas não pude conversar com ele, porque não falo inglês”.

Dentre os planos de Vitor para depois dos Jogos Olímpicos do Rio, aprender a falar inglês é um dos primeiros itens. O outro é meio óbvio. “Quero chegar aos Jogos de Tóquio, em 2020, já correndo na casa dos 9s. A experiência dos Jogos do Rio vai me ajudar a chegar ao Japão mais maduro, já sabendo o que é uma Olimpíada”, diz o garoto, que faz parte da equipe de atletismo BM&F Bovespa desde fevereiro.

Em tempo: Sandro Viana integrou a equipe de revezamento brasileira 4x100m nos Jogos de Pequim, em 2008. O Brasil foi quarto colocado naquela prova. Como o jamaicano Nesta Carter foi flagrado no doping, em caso revelado recentemente, o amazonense está prestes a se tornar medalhista olímpico. Mas isso talvez ainda seja insuficiente para que seja reconhecido na Praça da Sé.