A renovação que só faz bem

Atualizado em 15 de maio de 2017
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Faz muitos anos que Poliana Okimoto, Ana Marcela Cunha e Allan do Carmo têm sido praticamente sinônimos de representatividade internacional brasileira na principal prova de águas abertas, os 10km. A prova olímpica.

No feminino, por exemplo, desde 2006, jamais uma atleta com nome diferente de Poliana e Ana Marcela representou o Brasil em Mundiais ou Olimpíadas nos 10km.

Por um lado, ter o trio nas disputas sempre garantiu grande competitividade e esperança de medalhas para o país.

Mas, por outro, a superioridade dos três nadadores no Brasil era preocupante.

Eles mantêm a hegemonia no país há mais de uma década. A pergunta que já se faz algum tempo é: quando saírem de cena, haverá gente boa o suficiente para honrar suas conquistas no cenário internacional?

Pois a nova geração parece aos poucos dar as caras. Hoje, a etapa do circuito brasileiro em Foz do Iguaçu, seletiva para o Mundial de Budapeste, em julho, trouxe resultados inéditos. E promissores.

A começar por Viviane Jungblut.

A nadadora do Grêmio Náutico União terminou os 10km na segunda posição, apenas um décimo atrás de Ana Marcela, e à frente de Poliana.

Não se pode dizer que a excelente prova da gaúcha tenha sido uma surpresa. Afinal, vem em grande fase: venceu os 800m e 1500m no Troféu Maria Lenk, há uma semana, bateu recordes brasileiros em piscina curta no segundo semestre do ano passado e vem evoluindo a passos largos nas maratonas aquáticas.

“Por enquanto estou treinando para piscinas e águas abertas e venho conseguindo conciliar os calendários”, disse Viviane à SWIM CHANNEL. “Talvez mais para frente tenha que optar.”

Mas, se uma boa prova era esperada por ela, não é todo dia que alguém nada cabeça a cabeça com Ana Marcela e Poliana. E, por isso, ela mesma se surpreendeu com o resultado final. “Treinei bastante para obter um bom resultado, mas não esperava chegar na segunda posição”, disse, ainda emocionada com o feito.

Não é para menos: ela e Ana Marcela serão as duas as representantes do país no Mundial na prova de 10km.

Viviane Jungblut e Ana Marcela Cunha (foto: Gustavo Torres)

Viviane Jungblut e Ana Marcela Cunha (foto: Gustavo Torres)

Para Ana Marcela, alívio e a confirmação de que se mantém em alto nível mesmo após uma cirurgia para remoção do baço, no segundo semestre do ano passado, devido a uma doença auto-imune.

Ela vai para seu nono Campeonato Mundial (contando os Mundiais de águas abertas, disputados até 2010). E busca chegar ao pódio pela quinta edição consecutiva (foi bronze nos 5km em 2010, ouro nos 25km em 2011, prata e bronze nos 5km e 10km em 2013 e bronze e ouro nos 10km e 25km em 2015).

Para Poliana, a terceira posição significa que não nadará no Mundial a prova que venceu em 2013 e na qual conquistou a medalha solitária dos esportes aquáticos do Brasil na Olimpíada de 2016.

É a primeira vez, desde que Mundiais de esportes aquáticos são realizados, em 1973, que um atleta do país não se classifica para a disputa mundial da prova que lhe rendeu medalha nas águas da Olimpíada imediatamente anterior.

Por outro lado, ela pode se espelhar no exemplo da americana Haley Anderson: prata nos 10km em Londres 2012, não se classificou para a prova para o Mundial de Barcelona 2013.

Mas se classificou para os 5km na ocasião. E saiu com o título mundial.

Poliana pode buscar a classificação para o Mundial e dar a volta por cima justamente nos 5km, no sábado. Ela já provou anteriormente que é capaz.

O fato é que a entrada de Viviane entre as grandes é ótima notícia para a maratona aquática feminina do Brasil.

Ela não esconde que tem nas duas estrelas exemplos a seguir.

“Elas são excelentes! Eu as admiro muito e são minhas referências”, diz. E completa: “Mas, quando caio na água, é para competir e tentar ganhar.”

O nível de Ana Marcela e Poliana, que já era alto, tende a aumentar com uma nova rivalidade.

E Viviane torna-se um carro chefe para puxar uma nova geração a voos internacionais.

No masculino, o cenário é um pouco diferente. Mas guarda semelhanças.

Allan do Carmo representou o Brasil nos 10km em todos os Mundiais e Olimpíadas desde 2006 (à exceção da já citada Olimpíada de 2012).

Em todos esses anos, teve companheiros diferentes na prova, como Luiz Lima, Fábio Lima, Marcelo Romanelli, Samuel de Bona, Diogo Villarinho e Filipe Alcântara.

Desta vez, terá um novo colega: Fernando Ponte, assim como Viviane também do Grêmio Náutico União.

Allan do Carmo, Fernando Ponte e Victor Colonese (foto: Mariana Sá/CBDA)

Allan do Carmo, Fernando Ponte e Victor Colonese (foto: Mariana Sá/CBDA)

Que não só garantiu classificação para o Mundial, como derrotou Allan na prova de hoje e o deixou na segunda posição.

Surpresa? Não para Fernando. “Me dediquei especialmente para essa seletiva e fiz um excelente trabalho com a equipe de profissionais do GNU. Não foi uma surpresa. Sabia que seria difícil, mas possível. Abri mão do Maria Lenk para ficar treinando, e valeu a pena”, disse Fernando à SWIM CHANNEL.

Assim como no feminino, o aparecimento de um atleta entre os grandes pode representar uma motivação a mais para Allan não baixar a guarda em nenhum momento.

“Nadar contra o Allan é uma motivação muito grande, pois ele é uma inspiração e um referência. Para derrotá-lo é preciso estar muito concentrado no final de prova”, declarou Fernando.

O reconhecimento ao que vem fazendo atletas como Ana Marcela, Poliana e Allan ao esporte brasileiro é indispensável. São atletas fantásticos e devem sempre merecer reverências por suas conquistas.

Tão importante é louvar o aparecimento de atletas que façam frente a eles.

Quem aparece está sedento por um lugar ao sol, e os que estão no topo têm uma motivação a mais para se manterem em alto nível. A concorrência gera a excelência.

Um alento para que a maratona aquática continue trazendo alegrias para o Brasil, como tem sido desde 2006.

E que venham por mais dez, vinte, trinta anos…