Colunista do ativo analisa os feitos do Maria Lenk

Atualizado em 29 de julho de 2016

Nunca se viu uma evolução assim. 

Nesta competição, normal era melhorar o tempo e o campeão quebrar o recorde: estadual, brasileiro, sulamericano e até um mundial. O Troféu Maria Lenk definiu os 27 atletas que nos representarão no mundial e mudou a história da natação brasileira.

E o que essas novas marcas significam em projeção para o campeonato mundial?

Antes de explorar a dúvida, falarei das certezas.  

É notável o crescimento da qualidade da nossa natação como um todo. Temos um Parque Aquático de primeiro mundo. Dirigentes comprometidos em gerar as melhores condições para os atletas, com critérios claros de convocação, busca de recursos e extensa programação para a seleção, com várias semanas de concentração, incluindo treinamento de altitude, além de suporte tecnológico para análise detalhada de cada fundamento do atleta – nada a dever para a estrutura dos países que dominam a natação mundial.

Os clubes de ponta têm verba para manter treinadores de alto nível para equipes subdivididas por especialidades – os melhores atletas são acompanhados muito de perto por grupos profissionais multidisciplinares. Com informação globalizada e muito intercâmbio, nossos treinadores estão no nível dos melhores do mundo.

A exposição do esporte e de seus ídolos conta com transmissão ao vivo, cobertura dos mais importantes veículos da mídia, resultados e comentários em tempo real via internet, que viabilizam inclusive, o meu acesso à informação qualificada.

E os atletas, protagonistas deste show, parecem mais destemidos, influenciados pelo efeito Cielo – que deu um exemplo de auto-confiança durante as Olimpíadas de Pequim, mostrando atitude de campeão, sem medo de dizer para as câmeras: “Agora eu vou buscar o ouro nos 50”, logo após a chegada para o bronze nos 100 livre. O ouro veio e certamente, vivemos um ciclo virtuoso.

Mas, que dúvida temos para explorar? 

Esse torneio foi uma das primeiras competições após o lançamento do Jaked – o traje mais desejado da atualidade. O Campeonato Francês, Argentino, sulamericano de categorias, o Maria Lenk e um meeting entre Austrália e Japão. Alguns recordes mundiais obtidos por atletas que não eram cotados para atingir o feito e inúmeras superações individuais bem acima das expectativas. Com isso, não temos como avaliar qual o percentual dessas superações é mérito da evolução técnica e de condicionamento dos atletas e quanto cabe ao uso da roupa. O que sabemos é que o Jaked é um diferencial competitivo enorme. Mais de 70% dos atletas confirmados para as seleções da França e do Brasil nadaram de Jaked.

A pequena amostragem, começa a ser ampliada no Ultraswim, meeting que acontece em Charlotte/EUA, com a presença de Thiago Pereira e marcando a volta de Phelps às competições.

E o que eu acredito, é que nos próximos meses teremos um festival de recordes mundiais semelhante aos mais de 100 obtidos em 2008. Na próxima semana, a FINA se reúne para novas deliberações sobre os trajes. Como não há perspectiva de proibição retroativa para o Speedo LZR, o Blueseventy e o Jaked, esperamos que o X-Glide seja liberado, pois melhorará as chances de César Cielo, patrocinado pela Arena, voltar ao topo do podium no mundial.

Voltando ao Troféu Maria Lenk, foram tantos recordes incríveis e performances dignas de nota, que mencioná-las, tornariam o artigo extenso demais. Portanto, optei em enaltecer nosso recordista mundial e citar duas superações surpreendentes, que ilustram o debate sobre os trajes.

Desde 1982, quando Ricardo Prado ganhou a medalha de ouro dos 400 medley no mundial do Equador, nenhum brasileiro havia quebrado um recorde mundial em piscina de 50 metros. Após 27 anos, Felipe França fez história ao tornar-se o primeiro homem a nadar 50 m peito em menos de 27 segundos.

Henrique Barbosa fez a segunda melhor marca da história e lidera o ranking do ano nos 100 e nos 200 m peito. 59.03 e 2.08.44 seriam credenciais para o favoritismo à medalha de ouro no mundial, uma vez que o japonês Kitajima não irá para Roma. Avaliando a recente evolução, em Pequim ele nadou de LZR, fez 1.01.11 e ficou em 23º lugar. O Henrique do Maria Lenk, vestindo Jaked, chegaria quase 4 metros a frente do Henrique de Pequim, com LZR. É muita diferença e não acredito que o traje seja o único responsável. Certemente Henrique evoluiu, mas quanto?

No feminino, o exemplo mais impressionante relacionado aos diferentes trajes foi relatado no texto “A troca que deu certo & a troca que deu errado” postado por Alex Pussieldi no Blog do Coach em 06/05:  “200 peito na eliminatória, Tatiane Sakemi nada de Jaked e bate o recorde sul-americano com 2:29:46 baixando quatro segundos na sua melhor marca pessoal. Na final, nada de LZR e faz 2:33:21 ficando em terceiro lugar. 200 m peito na eliminatória, Carol Mussi nada de Fast Pro e se classifica com o quarto tempo 2:37:18, piorando o seu tempo em dois segundos. Na final, nada de Jaked e baixa oito segundos da sua melhor marca 2:27:42, novo recorde sul-americano e vaga para o Mundial de Roma.
E o Coach fala demais do Jaked!”

Dias depois, Tatiane Sakemi, de Jaked, melhorou o recorde sulamericano dos 100 m peito de 1.10.38 para 1.07.67. Opiniões de alguns técnicos indicam que os nados de peito e borboleta são os mais favorecidos que o crawl e costas, já que a rotação do tronco já favorecia uma maior flutuabilidade nos nados assimétricos. Que as mulheres são mais favorecidas que os homens, por minimizar a diferença de centro de gravidade proporcionada pelos quadris mais largos e que os atletas com mais massa – seja muscular, óssea ou adiposa também tem maior vantagem que os mais leves.

Vamos aguardar as próximas competições para saber se essas impressões se confirmam e se os tempos obtidos, efetivamente, significam melhores posições dos nossos atletas em âmbito mundial. Se teremos mais finais e mais medalhas. A torcida é grande para que essa geração eleve nossa natação a um novo patamar. Vai BRASIL!