Giseli Caetano: um exemplo de amor à natação

Atualizado em 25 de julho de 2016

Giseli Caetano nasceu na cidade de Campos, no interior do Rio de Janeiro. Como tinha muito medo de água, acabou parando numa escola de natação aos 7 anos. Com 14, conquistou um título brasileiro, em sua primeira competição nacional. E desde 1986 – é, acredite, desde 86! – não fica fora das finais da Taça Brasil de Natação.

 

Foi atleta da AABB, em Campos, e do Flamengo, no Rio. Defende as cores do Pinheiros desde 1995. Em 1997, novo desafio: a mudança para São Paulo, onde abriu mão da Faculdade de Educação Física para se dedicar aos treinos e ao clube.

 

E por isso, o ativo.com foi conversar com a atleta de 32 anos, que tem as melhores marcas do Mundo, no Masters, nos 50m, 100m e 200m costa e 50m e 100m borboleta. Confira !

 

2004, ano de Olimpíadas. O Brasil passa por uma entressafra da era Scherer/Borges para os meninos de hoje. Isso pode atrapalhar a natação no país ?

Não, não. Sempre aparece algum destaque no torneio. Desde que se ouve falar na natação, sempre aparecem grandes nomes, grandes estrelas com 16, 17, 18 anos. Não vai ser diferente dessa vez. Tem o Thiago Pereira, a Joanna Maranhão, a Flávia Delaroli. E ainda tem a Fabíola Molina, o Marcelo Tomazzini e o Rogério Romero, mais experientes.

 

A imprensa em geral nunca deu muita atenção para a natação feminina. Isso vem mudando ?

Ah, sim, com certeza. A 1ª nadadora que buscou esse espaço, que começou a mostrar que a natação feminina tem que ir pra frente foi a Ana Catarina Azevedo. Depois tivemos a Fabíola Molina e hoje temos grandes destaques, como a Flávia Delaroli, Joanna Maranhão, Tati Lemos, Mariana Brochado e a Paulinha Baracho.

 

E enquanto isso, muito se fala do fim da carreira do Gustavo Borges…

Esse é um grande erro do nosso país. É um defeito que o Brasil tem, e que é imperdoável. O Gustavo Borges foi vice-campeão olímpico, depois foi medalha de bronze e ainda ganhou uma medalha no revezamento. Ele tem 32 anos, é casado, tem 2 filhos e ainda tem a parte profissional cheia de projetos. Ninguém vê que ele já é um herói por estar nadando até hoje, conquistando medalhas em pan-americanos e obtendo o índice olímpico.

 

A vida útil do nadador profissional acaba aos 25 ? Existe “vida depois da morte”?

Não é bem assim. No geral, a cada mundial que passa a média de idade dos atletas vem aumentado cada vez mais. Antes era 18, agora já é 25. Isso tá mudando. Acredito que daqui a 5 anos um atleta vai ter 32 anos e ainda vai ser competitivo. Mas isso também depende do apoio que ele vai ter dos patrocinadores, da família…

 

Qual a motivação para um atleta se dedicar aos treinamentos depois dos 30 anos ?

É uma questão de amor pelo esporte. Quem ama mesmo o esporte não vê idade, não vê obstáculo para superar desafios. E é por isso que existem as competições do Masters. A natação competitiva foi uma porta que se abriu para mim. Também tenho uma atleta que tem 38 anos, é médica, e foi campeã brasileira. É muito gratificante.

 

E como são as competições do Masters ?

A partir dos 25 anos, são divididas categorias de 5 em 5 anos: o 25+, o 30+, 35+ e assim por diante. E hoje temos muitas competições no Brasil e no mundo inteiro para os nadadores que desejam continuar competindo. As 4 principais deste ano serão os 2 Campeonatos Brasileiros, em abril e em novembro, o Mundial Masters, na Itália, em junho e Sul Americano, no final de novembro.

 

São muitos os nadadores que participam ?

Sim. O número de atletas vem aumentando cada vez mais. O problema é que não são premiadas todas as categorias, o que acho um erro. Tem uma nadadora, a Silvana Nabuco, na categoria 60+, que é sensacional, um fenômeno. Mas ela nunca acaba premiada, por disputar com 25+, 30+, o que é um absurdo.

 

E como é seu ritmo de treinamento ?

Faço piscina e musculação todo dia. Sou ‘caxias’ demais nos treinos, em certos momentos até competitiva comigo mesma.

 

O triathlon vem aumentado o número de atletas que procura a natação ?

Ah, sim. Por ser mais curta, a prova da natação era deixada de lado. Mas hoje, como a disputa é cada vez mais acirrada, a natação passou a ser um diferencial para quem busca melhorar os resultados. A Sandra Soldan foi uma grande nadadora, nadamos juntas no Flamengo. A Carla Moreno também foi. Hoje são triatletas, mas sempre vão manter uma pontinha de nadadoras…

 

O boom das academias e do cultivo ao corpo pode atrapalhar a natação ? Existe a possibilidade dos nadadores saírem da piscina para as salas de ginástica ?

Com certeza não. O público da natação sempre vai ser fiel à natação. O corpo mais bonito é dos nadadores, com certeza. A natação é ying, faz um bom trabalho cardiovascular, trabalha a respiração. Uma academia, que hoje não tem piscina, é menos procurada, com certeza.

 

Um ídolo.

Com certeza, Anthony Nest. (Nest foi o primeiro nadador negro a conquistar uma medalha de ouro olímpica, em Seul/88)

 

E qual seu maior sonho ?

Bom, um já se concretizou. Sempre quis ser a melhor do mundo, e hoje tenho as melhores marcas do planeta do Masters nos 50m, 100m e 200m costa e 50m e 100m borboleta. Mas meu maior sonho, que ainda busco, é ser campeã brasileira no Absoluto.

 

Deixe um recado aos atletas que acham que existe um limite de idade para competir em torneios importantes.

Olha só…o atleta ainda pode ser competitivo depois dos 30, 35 anos. É só acreditar e se dedicar. É simplesmente uma questão de opção.