Cafeína ajuda nos treinos, mas não é solução mágica

Atualizado em 22 de novembro de 2016

Alcalóide ativo com propriedade de estimular o sistema nervoso central. A cafeína é descrita dessa forma em estudos científicos elaborados por especialistas que se debruçaram sobre o exame das possíveis relações entre o consumo dessa substância e os ganhos de performance esportiva. O empenho desses pesquisadores, que se avoluma desde a década de 70, voltava-se para a apuração do efeito ergogênico proporcionado pela cafeína. Esse efeito é aquele que se observa em um agente fisiológico capaz de melhorar desempenho físico.

A cafeína está contida na composição de grande parte de bebidas consumidas tanto por atletas como por sedentários, como café, chocolate, mate e energéticos. A substância tem a propriedade, segundo incontáveis estudos realizados ao redor do mundo, de alterar a percepção de dor e de fadiga, além de aumentar a contração muscular.

Nas provas curtas, o ganho proporcionado pela ação da cafeína está relacionado à contração muscular, que se tornaria mais rápida e eficiente. Nas longas, a substância atrasaria a percepção da fadiga e reduziria a do esforço ao elevar o nível de concentração de endorfina no corpo.

 

 

Outra contribuição descrita nos estudos está relacionada à elevação do nível de ácidos graxos no sangue. Eles seriam então utilizados como fonte de energia durante a execução do exercício. Esse suprimento pouparia os estoques de glicogênio muscular. Essa “poupança” é valiosa sobretudo para os corredores de longa distância.

Até mesmo depois do treino a cafeína ajuda o corredor. Se utilizada conjuntamente com carboidratos, ela contribuiria para a reconstrução do glicogênio muscular. E os estudos demonstram que ratos de laboratório que ingeriram a substância apresentaram menor índice de acúmulo de gordura em suas células em comparação com os que não a consumiram.

Bacharel em Esporte pela Educação Física da USP, com Doutorado e Mestrado em Nutrição pela Faculdade de Saúde Pública da USP, além de Especialização em Treinamento Resistido no Envelhecimento pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Thiago Hérick de Sá faz algumas ponderações sobre o uso de cafeína por atletas amadores.

“A cafeína em si não é problema. O consumo num volume de até dez xícaras por dia é até mesmo um fator protetor contra a mortalidade. É importante prestar atenção no consumo de cápsulas, que têm concentrações bem mais altas. Não faço nenhuma restrição ao inserimento da cafeína em quantidade razoável, num cotidiano saudável. O que não vejo com bons olhos é o consumo em excesso por atletas amadores, sejam eles praticantes de musculação, de corrida ou de ciclismo, por exemplo, que a veem como uma solução mágica”, diz o estudioso.

Sá observa que a cafeína não deve ser a muleta sempre acionada por um atleta que busca nessa substância o reforço de sua disposição, disposição que, sem esse aditivo, estaria alquebrada por uma jornada dura e estressante demais.

“A cafeína não deve ser a solução mágica consumida em excesso por amadores que vivem um cotidiano massacrante, com elevada carga de trabalho, com 10, 12, 15 horas de trabalho diário. A cafeína não deve ser a saída para um trabalhador nesse contexto. Ele deve antes construir um cotidiano mais saudável, se for possível. Em vez de exagerar na cafeína, deve analisar por quais motivos está tão cansado. Se não está obtendo o desempenho esportivo que espera, se precisa tanto da cafeína antes do treino, precisa se questionar se não está também ficando por tempo demais entretido com TV ou em frente ao computador ou celular. Repito: a cafeína não é, em si, um problema. O inserimento dela, em exagero, num cotidiano massacrante, é”.

Explicando o lado bom: o nutricionista Matheus Silva, que integra a plataforma Doctoralia, oferece mais dados compilados por estudos científicos. “A cafeína age no sistema nervoso central através do aumento plasmático de catecolaminas, alterando a percepção de esforço e por fim diminuindo a fadiga e aumentando a performance”.

Silva lembra ainda que a ingestão da cafeína induz a estimulação da liberação de cálcio. “Ocorre o prolongamento da duração da contração muscular, tornando o cálcio mais disponível para contração, diminuindo o limiar de excitabilidade das fibras musculares, resultando em uma contração muscular mais rápida e eficiente, porém tal resultado foi encontrado em estudos com dosagem tóxica ao organismo humano”.