Carnitina - Quem pode se beneficiar com o seu uso?

Atualizado em 22 de julho de 2016
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 A Carnitina tem um importante papel no transporte intramitocondrial de gorduras, através das células musculares, principalmente os ácidos graxos de cadeias longas.

Sabe-se que apenas a L-Carnitina é biologicamente ativa, sendo que os ácidos graxos de cadeia longa apenas atingem a mitocôndria (local de oxidação -queima-) se as concentrações de L-carnitina estiverem adequadas à demanda imposta pelo catabolismo das gorduras.

A Carnitina é sintetizada a partir de dois aminoácidos essenciais, Lisina e Metionina, num processo dependente das vitaminas hidrossolúveis ascorbato, niacina e piridoxina, e do íon ferroso. Em humanos, os principais sítios de produção desta amina são o fígado e os ríns, sendo que os tecidos como o músculo esquelético e o cardíaco, os quais dependem da oxidação de ácidos graxos, são altamente dependentes do transporte dessa amina desses sítios de produção.

Aproximadamente 75% das concentrações dessa amina (L-carnitina) são obtidas através da alimentação onde é absorvida por mecanismos ativos e passivos. As principais fontes são as carnes, ovos, peixes e leite, sendo que, a deficiência de carnitina pode ser induzida por dietas que utilizam apenas cereais e grãos, ou outras fontes de proteínas vegetais, as quais são relativamente deficientes em lisina e metionina, seus aminoácidos precursores.

Os sintomas e deficiências de carnitina, em geral se manifestam pelo acúmulo de gorduras nos músculos, e anormalidades funcionais nos músculos cardíaco e esquelético. Essas desordens são manifestadas pelas baixas concentrações de carnitina no plasma, músculo, e fígado, e os sintomas incluem fraqueza muscular, cardiomiopatias, função hepática anormal, cetogênese prejudicada, e hipoglicemia durante o jejum.

A quantidade total de carnitina estocada nos músculos gira em torno de 20 a 25g, sendo que, os rins reabsorvem aproximadamente 90% dessa amina o que garante sua concentração no organismo. Em algumas situações como, por exemplo, indivíduos com problemas renais, que são submetidos à hemodiálise, a suplementação com carnitina se torna uma necessidade devido às grandes perdas ocorridas.

Além do seu importante papel como transportador de gorduras para dentro das células, com conseqüente geração de energia, a carnitina parece desempenhar outras funções tais como:

– sua administração farmacológica reduz a mortalidade e as conseqüências metabólicas em ratos com intoxicação aguda pela amônia;
– pode aumentar a síntese de uréia no fígado, facilitando a entrada de ácidos graxos na mitocôndria, desta forma, aumentando a oxidação de gorduras (?-oxidação) e consequentemente energia na forma de ATP;
– é atribuído a esta amina, a capacidade de proteção contra isquemia cardíaca talvez pelo seu efeito seqüestrador de radicais livres ou por sua capacidade de quelar o ferro prevenindo a formação destes compostos;
– pode aumentar a função contrátil do coração;
– proporciona efeitos benéficos protegendo contra as isquemias induzidas por disfunção do miocárdio (músculo do coração) em humanos com angina pectoris;
– aumenta a tolerância ao estresse sofrido pelo coração;
– diminui as concentrações de LDL e aumentam a fração de HDL circulantes;

A necessidade de carnitina em adultos geralmente é satisfeita pelas fontes dietéticas, no entanto, em certos casos, por exemplo, populações de terceiro mundo, as quais consomem cereais e grãos com fonte primária de alimento; recém- nascidos com baixo peso e de pré-termo, vegetarianos puros, e atletas engajados em atividades físicas de longa duração (triathlon, maratona, ciclismo, provas de aventura, e outros), cujo metabolismo aeróbio está aumentado, pode-se constatar redução nas concentrações fisiológicas de carnitina.

Fica claro a importância da carnitina no metabolismo das gorduras, e a dependência de vários tecidos do organismo, em particular o músculo esquelético e cardíaco, por esta amina. No entanto, o seu papel como queimador de gorduras (-Fat Burner-) merece ser analisado com melhor atenção

Sabemos que as gorduras necessitam de um eficiente sistema de transporte para atravessar a membrana das mitocôndrias a fim de serem oxidadas gerando energia para o organismo. Esse sistema é composto por, além da carnitina, um complexo sistema enzimático, dessa forma, se as concentrações dessa amina estiverem adequadas aos níveis fisiológicos normais, não haverá benefício algum decorrente de sua suplementação.

Em outras palavras, nos sistemas biológicos, as enzimas nunca atingem sua capacidade máxima de catalisar uma reação, ou seja, essas trabalham num patamar biológico variando para cima ou para baixo dentro de níveis fisiológicos e modulando-se à quantidade de substratos que lhe é ofertada.

Dessa forma, pode-se concluir que se um indivíduo saudável mantiver uma alimentação balanceada contendo alimentos fontes de carnitina, raramente precisará ou se beneficiará de qualquer tipo de suplementação, mesmo que esse tenha a pretensão de -queimar gorduras-.

No entanto, indivíduos que não mantêm uma dieta adequada, ou não ingerem quantidades suficientes de alimentos que contenham carnitina ou, ainda, indivíduos que mantêm uma atividade física de endurance, onde o metabolismo aeróbio é requerido em sua plena capacidade, podem se beneficiar da suplementação dessa amina.

Como visto até o momento, os efeitos benéficos da suplementação da carnitina só poderão ser alcançados de maneira eficiente em certas situações e sob orientação de um profissional da área da saúde.