Suplementos vitamínicos melhoram a performance esportiva?

Atualizado em 25 de julho de 2016

A ocorrência de deficiência vitamínica entre atletas é rara, porém pode ocorrer em alguns atletas de um determinado grupo. A mais comum é a do complexo B (especialmente B6 e Folato) e das vitaminas antioxidantes (vitaminas C, E, e beta caroteno).

Os atletas que mais apresentam deficiências vitamínicas são os lutadores, ginastas, dançarinos e outros que restringem a ingestão de alimentos para manter o peso corporal mais baixo e os que tem pouco tempo para selecionar e/ou manter uma dieta adequada, atletas cuja alimentação é rica em “fast food” e os que ingerem poucos vegetais como frutas e verduras.

É pouco comum ocorrer superdosagem de vitaminas em atletas, a menos que eles ingiram grandes doses de suplementos e/ou grandes quantidades de alimentos fortificados (enriquecidos).

Atletas que desejam ficar na faixa de segurança e evitar possível deficiência vitamínico-mineral, devem ingerir suplementos que não ultrapassem a Ingestão Diária Recomendada (IDR) ou, no caso das vitaminas, a Ingestão Adequada (IA).

A ingestão de vitaminas melhora o rendimento apenas em atletas que apresentam deficiência vitamínica. Atletas que apresentam níveis normais de vitaminas no organismo não mostraram benefícios com a ingestão de suplementos. É recomendável a ingestão de vitaminas através dos alimentos porque os alimentos contêm outros componentes que não são encontrados nos suplementos, dos quais os atletas podem apresentar deficiências.

Introdução

Atletas e não atletas “consomem” vitaminas excessivamente e os especialistas mostram que apenas uma pequena parcela deles se beneficiam com a ingestão desses suplementos. Pode-se admitir a ingestão de suplementos vitamínicos como uma medida preventiva, e como garantia para o caso da alimentação não fornecer quantidades adequadas? O que pode acontecer se a ingestão de vitaminas for excessiva? As vitaminas sintéticas apresentam os mesmos efeitos que as naturais encontradas nos alimentos?

Essas e outras questões foram colocadas para especialistas que atuam no campo da alimentação esportiva. Dan Benardot é co-diretor do Laboratory for Elite Atlhete Performance da Georgia State University. Ele foi o nutricionista do time nacional de ginástica dos EUA de 1991 a 1997. É o autor de Nutrition for Serious Athletes (Human Kinetics) e publicou muitos artigos sobre nutrição esportiva. Priscilla Clarkson, ex- presidente do American College of Sports Medicine, escreveu muitos artigos sobre vitaminas no esporte e estuda há anos medicina esportiva, principalmente quando relacionada com dançarinas. Ellen Coleman é autora de dois livros (Bull Publishing): Ultimate Sports Nutrition (2000) e Eating for Endurance (1997). Ela é também colunista da seção de nutrição da Sports Medicine Digest e tem proferido conferências sobre necessidades dietéticas para atletas e pessoas ativas. Ela participou de diversas maratonas e foi duas vezes finalista no triatlon IronMan do Havaí. Melinda Manore é especialista em necessidades nutricionais para mulheres ativas, inquéritos nutricionais e estuda o papel que a nutrição desempenha no esporte e na saúde, estuda também o balanço energético, a obesidade e as desordens alimentares. Ela integra o Grupo de Pesquisa da American Dietetic Association e é membro do American College of Sports Medicine (ACSM). Prof ª Manore escreve a coluna de nutrição para a ACSM Health and Fitness Journal. Ela também é co-autora do capítulo Sports Nutrition for Health and Performance (Human Kinetics) e consultora de nutrição do time intercolegial da Arizona State University e dá consultoria individual para atletas:

Normalmente quais são as vitaminas mais freqüentemente consumidas inadequadamente por atletas na alimentação diária? Quais são as vitaminas ingeridas em excesso?

Benardot

Sabe-se que uma deficiência vitamínica só ocorre em um segmento relativamente pequeno da população. Quando ocorre, acontece devido a um aumento anormal das necessidades de uma determinada vitamina (ou vitaminas), como um crescimento acelerado, tabagismo, gravidez, alcoolismo ou outros fatores. Um consumo inadequado de vegetais como frutas e verduras é a causa mais comum de deficiência vitamínica em alguns países como os EUA, que ocasiona uma deficiência de folato, caroteno (pró-vitamina A) e vitamina C. Existem fortes evidências que a ingestão inadequada de acido fólico acarreta riscos de doença cardíaca e má formação do cérebro no estágio fetal. A suplementação com ácido fólico diminui o risco de surgimento dessas anomalias. Por outro lado, a atividade física aumenta as necessidades de riboflavina, vitamina B6, e vitamina C. Alguns atletas preventivamente aumentam o consumo de substâncias antioxidantes como a vitamina E. A combinação de diversos fatores de riscos são potencialmente os causadores de deficiências vitamínicas, como no caso de adolescentes do sexo feminino que apresentam as necessidades de todos os nutrientes aumentadas por causa das modificações no desenvolvimento que ocorrem nessa fase da vida. E, mais freqüentemente apresentam um comportamento alimentar que as colocam numa faixa de risco maior de deficiência vitamínica. A adolescente que se exercita diariamente potencializa esse risco. A regra geral é: se um atleta não está ingerindo uma quantidade adequada de energia (calorias) para atender as suas necessidades para o crescimento, combinadas com manutenção e gastos com a atividade física, provavelmente a está sujeito a ter uma deficiência multivitamínica. A mais comum é a do complexo B, especialmente de folatos. A deficiência de vitamina C e betacaroteno também pode ocorrer, principalmente em atletas que ingerem poucas frutas e verduras.

Clarkson

Como encontramos no mercado muitos alimentos fortificados, um atleta buscando ingerir a quantidade adequada de energia para atender a demanda da atividade física, pode ingerir um excesso de vitaminas. Exemplificando, muitos cereais são enriquecidos com vitaminas, e se for ingerido em excesso, pode potencialmente levar a uma sobretaxa dessa vitamina. O uso indiscriminado de suplementos é um fenômeno relativamente novo, mas a popularidade dos alimentos fortificados (enriquecidos) e dos suplementos alimentares continua a crescer. Os efeitos adversos do consumo excessivo de vitaminas começa a se tornar comum.

Manore

Eu acredito que a dieta típica do americano, especialmente atletas que praticam luta e ginástica, que restringem a ingestão de energia, é pobre em antioxidantes e em algumas vitaminas do complexo B (especialmente folato e B6). É mais provável que a ingestão desses nutrientes se situe num patamar baixo, principalmente em atletas com uma dieta pouco variada, naqueles que consomem alimentos altamente processados, e aqueles que limitam a ingestão de alimentos enriquecidos. Dificilmente vitaminas são consumidas em excesso, a menos que ocorra a ingestão de suplementos junto com alimentos enriquecidos ambos em excesso e/ou após hábitos nutricionais estranhos.

Que dieta atípica pode levar a uma ingestão insuficiente ou excessiva de vitaminas, especialmente em atletas?

Benardot

Qualquer dieta que não apresente uma grande variação de alimentos aumenta o risco de ser deficiente ou ter excesso de vitaminas. Essas dietas que geralmente são monótonas e se restringem a um pequeno número de grupos de alimentos ocasionam dois problemas: 1) Reduz a ingestão de um maior número de nutrientes (incluindo vitaminas), aumentando o risco de ocorrer uma deficiência e 2) A limitação da ingestão de nutrientes (inclusive vitaminas) está associada à ingestão de alimentos que por sua vez podem promover a toxicidade de algumas vitaminas. Muitos atletas têm uma alimentação monótona e eliminam grupos inteiros de alimentos como uma estratégia errada para diminuir a ingestão de calorias, com a finalidade de perder peso ou diminuir a massa gorda. Dietas que limitam a escolha de alimentos esbarram numa recomendação básica da nutrição …”tenha uma alimentação variada”. Esta é uma das maneiras de se expor o atleta a uma grande variedade de vitaminas e não a uma única.

Clarkson

Um exemplo de dieta atípica é a rica em proteínas e com poucos legumes e frutas, que são a maior fonte de vitaminas antioxidantes como as vitaminas C, E e betacaroteno. A ingestão adequada de antioxidantes é um importante contra-ataque para o estresse ocasionado pelo exercício. O estresse libera radicais livres que causam danos à membrana das células musculares. As vitaminas C, E e beta caroteno que são parte constituinte do músculo, formam uma barreira antioxidante e agem inativando os radicais livres. Uma dieta rica em proteínas normalmente é pobre em vegetais como frutas, hortaliças, verduras e legumes, conseqüentemente pobre em antioxidantes. Portanto, toda dieta pobre nesses alimentos pode ser problemática. Como os atletas necessitam de mais antioxidantes, uma maneira de resolver o problema é ingerir suplementos de vitaminas com atividade antioxidante. Porém é importante salientar que o principal é uma dieta balanceada e o consumo de vegetais como frutas e hortaliças atinge os objetivos.

Coleman

Concordo com o Dr. Manore que a limitação na ingestão de calorias apresenta o risco de acarretar uma deficiência vitamínica. Esses atletas geralmente competem em modalidades que enfatizam a massa magra (corredores de longa distância, lutadores timoneiro de barco a remo) ou pelo visual (ginastas, dançarinos, saltadores). Também estão na faixa de risco os atletas que são pressionados pelo tempo e se alimentam de refeições rápidas e/ou alimentos portáveis e não perecíveis, como os lanches (batatas fritas, refrigerantes), que são pobres em vitaminas.. Para esses atletas é praticamente impossível recomendar uma alimentação balanceada, portanto, a ingestão de suplementos multi vitamínico/mineral é necessária e acima das doses diárias recomendadas.

Existem atletas cuja saúde pode melhorar com a adição de vitaminas além da presente na dieta? Se sim, existem exemplos de atletas e dietas?

Manore

Os atletas que mais apresentam uma ingestão deficiente em vitaminas são aqueles cuja ingestão calórica é limitada, se resume em alimentos muito processados e a dieta tem um alto teor de gordura e açúcar. Isto também ocorre se o atleta limitar a ingestão de alimento para ter um corpo esbelto ou manter o peso corporal. Esses atletas devem ingerir suplemento vitamínico-mineral. O tipo de suplemento vai depender do hábito alimentar e do esporte que pratica.

Vitaminas melhoram o desempenho esportivo?

Benardot

A ingestão inadequada de vitaminas leva a uma condição subótima de saúde que culmina com um mau desempenho atlético. Quando um suplemento vitamínico é fornecido para eliminar a deficiência, melhora o rendimento. Já vi atletas com sinais clínicos de deficiência vitamínica B, cujo desempenho estava frustrando as expectativas dos treinadores. A suplementação com vitaminas do complexo B fez com que os atletas se sentissem melhor e o seu rendimento aumentasse. Interessante notar que a deficiência de vitaminas do complexo B geralmente está associada a sintomas psicológicos (irritabilidade, frustração, raiva, etc) que interferem no relacionamento entre atleta e técnico, piorando o rendimento esportivo.

Coleman

Eu também acredito que suplementos vitamínicos só melhoram o desempenho se corrigirem deficiências nutricionais. Por exemplo: lembro-me de um atleta de resistência que tomava uma medicação que aumentava as suas necessidades de ácido fólico e vitamina B12. O atleta ficou anêmico devido ao baixo nível sérico dessas vitaminas e o seu rendimento caiu. Quando um suplemento de acido fólico e vitamina B12 corrigiu seu estado anêmico, seu desempenho volta ao normal.

Clarkson

A ingestão inadequada de vitaminas piora o rendimento esportivo porém, tomar mais que o necessário não significa que o desempenho vai melhorar. Normalmente costuma-se fazer uma analogia do papel das vitaminas com o papel desempenhado pelo óleo lubrificante em um carro. Se um automóvel não tem óleo suficiente, o motor não funcionará bem. Muitas vitaminas funcionam como co-fator ou estimuladores de enzimas. Uma enzima necessita de apenas um co-fator, um excesso de co-fator não faz a enzima trabalhar melhor.

Como saber se a dieta de um atleta fornece quantidades adequadas de vitaminas?

Benardot

Existem três maneiras de saber se um atleta está ingerindo quantidades adequadas de vitaminas em sua alimentação e não está na faixa de risco. A primeira é ter acesso ao seu hábito alimentar, que fornece importantes informações acerca da ingestão de vitaminas. Por exemplo: se o atleta necessita de 60 mg de vitamina C por dia e a análise do consumo diário mostra uma ingesta de 40 mg, esse atleta pode ser considerado na faixa de risco. A faixa de risco não significa que está deficiente, porque cada pessoa tem necessidades diferentes. Para esse atleta pode ser que 40 mg seja uma quantidade dentro de um ajuste fino. A baixa ingestão de vitaminas pode levar o atleta para o segundo procedimento que consiste em uma análise de sangue para verificar os níveis séricos de vitaminas e a sua reserva. O terceiro é o mais problemático: procurar sinais clínicos de uma deficiência que podem ser facilmente observados. As escarras angulares na boca (estomatite angular) são sinais de deficiência de riboflavina. Mesmo não havendo sinais clínicos ou biológicos de deficiência ela pode estar presente. O hábito alimentar ajuda a descobrir porque a pessoa está deficiente e ajuda a montar um esquema para corrigir o problema. A estratégia é verificar se o atleta está ingerindo cinco porções de vegetais (frutas e verduras, etc) por dia e se a dieta tem grãos integrais, carne magra e produtos lácteos. Verificar também se a quantidade de energia ingerida é suficiente (se a dieta não é hipocalórica) e se as regras estão sendo seguidas, a dieta deve ser adequada em micronutrientes. Os vegetarianos devem consultar um nutricionista para saber se estão ingerindo quantidades adequadas das vitaminas normalmente presentes nas carnes.

Sabendo que a alimentação de um atleta não fornece quantidades adequadas de vitaminas, qual a recomendação para aumentar a ingestão dessas vitaminas? As vitaminas de origem alimentar são melhores que os comprimidos?

Clarkson

A alimentação como um todo é mais importante que a ingestão de algumas vitaminas isoladamente. Frutas e verduras contêm substâncias chamadas de fitoquímicas, que são importantes para a saúde, e os cientistas estão longe de conhecer todos os benefícios que essas substâncias trazem. Sabe-se que as vitaminas que estão nos alimentos e nos comprimidos são iguais e que a sua quantidade está na dependência do controle de qualidade do fabricante dos suplementos. Portanto, se as vitaminas são ingeridas predominantemente através dos suplementos, uma quantidade relativamente grande de fitoquímicos importantes para a saúde é perdida.

Manore

Eu concordo integralmente. Se a dieta é o problema, a solução deve vir através da alimentação. Existem diversas maneiras de conseguir uma ingestão balanceada de vitaminas, minerais e substratos energéticos. Obtemos do leite e seus derivados a maior parte do cálcio que ingerimos, porém sucos de frutas e outros alimentos enriquecidos com cálcio podem substituir os produtos lácteos. Os suplementos podem ser usados sempre que se conhecer o tipo de deficiência ou para garantir a ingestão adequada de um determinado tipo de vitamina. Portanto o uso de suplementos é tão somente uma alternativa para completar uma dieta.

Coleman

Um exemplo das desvantagens no uso de suplementos como substituto dos alimentos é a ingestão de vitamina C. Se você ingere um comprimido, deixa de ingerir fibra, limoneno (fitoquímico anticancerígeno), potássio e energia que vem junto com um suco de laranja. Se o atleta prefere suplementos dietéticos, que nos EUA não estão regulamentados, eu recomendo procurar produtos que estão descritos na farmacopéia (citada no rótulo). Este cuidado significa que o produto passou por testes de dissolução, desintegração, resistência (firmeza) e pureza. Também ajuda a selecionar o produto quanto a sua origem, fabricante e controle de qualidade. No Brasil procurar verificar o registro na Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.