A cafeína é realmente uma aliada para a performance?

Atualizado em 11 de setembro de 2023

“Alcaloide ativo com propriedade de estimular o sistema nervoso central”: a cafeína é descrita dessa forma em estudos científicos elaborados por especialistas, que se debruçam sobre o exame das possíveis relações entre o consumo dessa substância e os ganhos de performance esportiva. O empenho dos pesquisadores – que se avoluma desde a década de 70 – voltava-se para a apuração do efeito ergogênico proporcionado pela cafeína. Esse efeito é aquele que se observa em um agente fisiológico capaz de melhorar desempenho físico.

A cafeína compõe grande parte das bebidas consumidas tanto por atletas como sedentários, como café, chocolate, mate e energéticos. A substância tem a propriedade de alterar a percepção de dor e de fadiga, além de aumentar a contração muscular.

Nas provas curtas, o ganho proporcionado pela ação da cafeína está relacionado à contração muscular, que se tornaria mais rápida e eficiente. Já nas longas, a substância atrasaria a percepção da fadiga e reduziria a do esforço ao elevar o nível de concentração de endorfina no corpo.

Outra contribuição descrita nos estudos está relacionada à elevação do nível de ácidos graxos no sangue. Eles seriam então utilizados como fonte de energia durante a execução do exercício. Esse suprimento pouparia os estoques de glicogênio muscular. Essa “poupança” é valiosa sobretudo para os corredores de longa distância.

Até mesmo depois do treino a cafeína ajuda o corredor. Se utilizada conjuntamente com carboidratos, ela contribuiria para a reconstrução do glicogênio muscular. E os estudos demonstram que ratos de laboratório que ingeriram a substância apresentaram menor índice de acúmulo de gordura em suas células em comparação com os que não a consumiram.

Doutor e Mestre em Nutrição pela Faculdade de Saúde Pública da USP, Thiago Hérick de Sá faz algumas ponderações sobre o uso de cafeína por atletas amadores:

“A cafeína em si não é problema. O consumo num volume de até dez xícaras por dia é até mesmo um fator protetor contra a mortalidade.  Não faço nenhuma restrição à inserção da cafeína em quantidade razoável, num cotidiano saudável, mas o que não vejo com bons olhos é o consumo em excesso por atletas amadores, que a veem como uma solução mágica”, diz.

Sá observa que a cafeína não deve ser a muleta sempre acionada por um atleta que busca nessa substância o reforço de sua disposição, disposição que, sem esse aditivo, estaria alquebrada por uma jornada dura e estressante demais.

“A cafeína não deve ser a solução mágica consumida em excesso por amadores que vivem um cotidiano massacrante, com elevada carga de trabalho, com 10, 12, 15 horas de trabalho diário. Ele deve antes construir um cotidiano mais saudável, se for possível: em vez de exagerar na cafeína, deve analisar por quais motivos está tão cansado. Se não está obtendo o desempenho esportivo que espera, se precisa tanto da cafeína antes do treino, precisa se questionar se não está também ficando por tempo demais entretido com TV ou em frente ao computador ou celular”, finaliza.